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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

E eu já não desço da noite quente...estou feliz...

Sento-me no degrau pintado de vermelho sangue
Estrondos de loucura caem sobre os meus ombros antigos
E eu já não desço da noite quente...estou feliz...
Fechei-me na ferida que sangra uma perturbante ânsia de prolongar a noite
Como se águas mascaradas de chão passassem por mim em rasgadas fúrias
E vómitos de enxofre perturbado me chegassem aos ouvidos
Como crimes comestíveis que florescem debaixo dos meus pés
Salto sobre todas as feridas e sobre todos os desamparos
Exalo lentamente um último fôlego frenético e fluorescente...
E caio desamparadamente dentro de um vulcão de palavras...
Que descansam no meu rosto espantado pelas auroras boreais...
Enquanto a minha cabeça roda pelos restos de silêncios vomitados
Silêncios bebidos numa sórdida tasca que cheirava a fulcrais dias de insanidade..

É preciso que as pessoas se enterneçam...

Cresce a luz sobre os passos adormecidos na noite
Outros sonos cobrem a cidade adormecida..e de repente a chuva incendeia a solidão
Já perdemos tantas fotografias...já não somos ninguém à janela de vidros espessos
Agora sonhamos com pontes feitas de imóveis pedras de jade...pontes solares...
Pontes que nos acompanhem na sombria travessia dos céus
E também na pureza de um grito encerrado numa noite branca
É preciso que as pessoas se enterneçam...
Que deixem os profetas da lama ...nos seus delírios
Enfeitados de penas incolores que as palavras não descrevem...
Enquanto as águas superficiais e frias clamam por mais sol!

Eras a minha pomba rósea

Respiro o teu perdão ...ouço ao longe as tuas asas de anjo perdido
Qual pomba longínqua esvoaçando impávida e bela
Já não sou o peso da folha murcha que sobe no céu escarlate
Sou eu...repara...elevei-me das noites duvidosas
Ergui-me em frente à multidão com todo o peso da minha queda sobre os ombros
Levantei os olhos e lá estava tu na planície oscilante...
Onde pontificavas como uma aurora que também se erguia do sono
Eras o meu verdadeiro respirar...a marca que absolvia todas as minhas enfermidades
E todos os meus pensamentos...
Eram anjos resplandecentes que se estendiam para ti.
Tu... eras a minha pomba rósea que me absolvia...e me aconchegava...
Como uma montanha sorridente...que saía da bruma lilás trazida pela alvorada...
Lembro-me que o ar era húmido e juntos bebemos a claridade
Como quem não precisa de amanhãs!

Se eu tivesse os olhos dignos de ti!

Vejo as cortinas corridas sobre as portadas de pedra...
E não descortino o teu rosto encastrado no escuro do vento
É a partida....o inesperado...o sono que te arrasta para te proteger dos amanhãs..
São pérolas que os teus olhos ostentam...baças como noites sem imagens...
Mas de onde um fino raio de luz se escapa ...só para mim
Como algo imóvel e dorido...uma hesitação de ferida sem memória...
Que o orvalho reduz a cinzas...com promessas de luas azuis cobertas de luzes frias...
Adormeces...escondes o coração numa fonte seca pelo gelo...
E abafas a memória da dor numa inesperada cama de algodão florido
Serás tu a primavera feita de flores estampadas num tecido de pedra?
Ou o Dezembro encontrará o teu coração dentro de um sino que me chama...
Como se eu fosse um crente comestível...
Ou como se eu tivesse os olhos dignos de ti!

Apagas os contornos do teu corpo

Era um tempo em que as águias planavam ao vento sobre a vastidão dos desejos
E eu mergulhava num sono entorpecido que me fazia esquecer os segredos da vigília
Era um tempo que se deitava num relâmpago inchado de fogo e rosas
Era uma gaivota que agitava as águas geladas com o seu trovejante mergulho
Era o estrondo das veias cristalizadas pelo mistério das luzes faiscantes
Águas de sono...dias onde embalsamei os segredos numa sebe de bambus
Budas nocturnos que espreitavam majestáticas faíscas... que beijam seios...junto ao mar..
É a morte que ronrona numa aflição de sal apagado...e tu resistes....
Moldas a tua noite como se fosses um vento estendido sobre um sorriso
Apagas os contornos do teu corpo que giram...noite adentro...devoras vigílias
Comes estrondos de aves mergulhando num regaço de luzes...
E inventas...inventas dedos...cabelos...sexo...cães feitos de barro em fogo...
E são as estações do ano que se vêm deslumbrar com os naufrágios
São as inofensivas fugas de reluzentes alucinações...
É o ácido a exclamar profundezas...a imaginar mundos de luzes caleidoscópicas
A mente povoa-se de cristalinas ferrugens que afligem os continentes à deriva
Onde o cansaço arde numa extinção de corpos coloridos pelos intermináveis desejos...

Num cheiro aquático de marés sem eco...

O vento afia as suas rajadas no desassossego das esquinas
Algures uma miragem descobre um abrigo feito de sonos vivos
As sereias pedem boleia na margem das ruas estagnadas
E um incomensurável aperto envenena os desejos à beira da extinção
Finges ser uma cinza enigmática que alimenta a felicidade em quartos esconsos
Foges para um abrigo feito de setas envenenadas
Que se parecem com rendas espumantes.
Queres a felicidade registada na tua pele...como uma tatuagem inaudível...
Ou como um vago gesto que se desfaz numa máscara de inquietantes proporções
São brancos os sossegos que se festejam nas manhãs onde as articulações gemem...
Porque pernoitámos num tabique à beira de uma montanha gelada...
Onde segregámos o cansaço numa orgia de sangue e espelhos quebrados...
Festejámos...sim festejámos ...como noctívagos vagabundos que se desfazem dos dias
Que os atiram contra uma parede feita de ossos rendilhados
Onde memórias de inquietos rostos estão plasmadas...
Num esfíngico riso de caveiras trémulas...
Que paralisadas por invisíveis dedos de gesso ...estremecem como trevas em espelhos
Que se separaram dos disfarces...que partiram janelas...
E que por fim se aniquilaram num cheiro aquático de marés sem eco...

Talvez o meu tempo fosse pouco....

Eu era o clandestino imobilizado sobre um instante sem duração
Talvez me sentisse um desejo ou um sorriso que se desmorona sobre a cidade
Talvez o meu tempo fosse pouco....talvez o tempo fosse um brinquedo que a areia tapa
Talvez eu pudesse explicar todo o medo que me percorre os lábios
Se os meus braços não agonizassem sob um sol cego
Talvez te levasse a descobrir lentamente todos os espasmos que percorrem o corpo
Talvez te explicasse que os aviões assobiam ruidosos perfumes
E que as noites são corpos sem fundamento que fugiram do fumo opiáceo dos poetas
Toco-te ao de leve? Sentes-me? Descobre as minhas mãos no teu pescoço
Posso ser o assassino que te estrangula com nocturnos ardores que te percorrem
Tens as tuas vestes ausentes...és a essência dos corpos tatuados a fitar jardins...
Onde esvoaçam cidades que se esvaziam em luzes laminadas...ausentes...
E ausentes seguimos segregando trevas do interior dos nossos corpos
Vendo o nosso filme vestido de ensanguentados roupões de cetim negro
Debruçados sobre o sangue da primeira vez..sobre a paralisia que nos cospe os ossos
Sobre a penumbra vermelha de uma rendilhada bruma feita de frestas extenuadas
Até agonizarmos dentro duma nítida pétala de quartzo...
Que orbita por cima de todos as nossas solidões....