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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Uma alma florida pelo prazer de ser apenas uma alma...

Um dia parei diante de uma semente... que voava dentro de uns olhos misteriosos
Colhi esse segundo como uma água que envolve o ardor incomensurável do tempo
Era um dia de um branco límpido...onde se misturavam estátuas de serpentes em fogo
Com floridos gelos que escorriam de uma caneta curvada sobre uma escrita purificadora
Era estranho ver o musgo a purificar os ossos... e o sono que amortalhava os astros
Colhia o tempo que descia das cascatas em flor...
Era a transparência das alturas....
Era o sangue dos céus que germinava num voo de olhos aquáticos
Eram as palmeiras que exalavam vinhos licorosos...
E as horas tinham o estranho odor do sangue em fúria...
Sem sangue não há veias que desagúem em lagos onde o corpo se purifica
Sem sangue não há licores de alma rubra...
Uma alma florida pelo prazer de ser apenas uma alma...
Decorada com tecidos que ardem num tempo de seda...

Nascemos numa manhã que nos ignorou...

Olhares embriagados e sórdidos espreitam a morte sob a chuva que enche os rios
Vinhos...cartas de jogar fora...cansaços marítimos de mapas extraviados
As cidades passarão por nós na noite atlântica e as marés levarão os rios até à foz
Não há cansaço nos ventos que giram pelos pontos cardeais dos jardins
Não há sujidade no canto das águas que se extraviaram pelas colinas verdejantes
Porque nós caminhamos sempre rente ao mar...como marinheiros sem estrada...
Nascemos numa manhã que nos ignorou...
E regressaremos numa noite que não nos recebe...
Não precisamos transportar mais cidades pela calada da noite...
Agora podemos dormir descansados...todas as coisas vão pairar sobre as avenidas...
E todos seremos o público que vai morrer nos passos evaporados da madrugada!

Vamos caminhando por uma rua sem futuros e sem olhares...

Trepidam as luzes...que se recolhem das borrascas perdidas na poeira
Há violetas alucinadas que se espalham pelos ínfimos espaços
Pelas sarjetas espalha-se a náusea da noite surda
Há luzes...corpos...perfurações de sombras em camas invisíveis...
Há pátios esconsos onde se recolhem luzes vegetais...
E os eclipses ganham a tonalidade dos lagos...
Que morrem bruscamente numa paisagem florida
Os pássaros vêm debicar os restos das mulheres adormecidas...
E a sua sombra espalha-se como uma gravura de tinta da china...
Sobre as bocas silenciosas
Os candeeiros debitam uma luz esverdeada...solene e baça como um bater de asas
E a garganta sufoca a náusea …
Que embriaga a diluição dos olhos numa incomensurável neblina
Há vómitos que adormecem sobre a erva fresca...
E receios que só acordam depois da submersão dos corpos ...
Enquanto nós sangramos a loucura até vergar o tempo irreal...
Ignorando o agitar das palmeiras...ignorando toda a chuva que nasce do voar das aves...
Ignorando os nossos corpos líquidos sentados numa espera de jardins sem receios!
Vamos caminhando por uma rua sem futuros e sem olhares...
Uma rua onde em cada canto espreita um sol que sabe a pão...
E nos alimenta os vapores translúcidos...que nos transportam aos céus!