Podemos até cometer um crime harmonioso...algo como laminar um pássaro de areia
Pairo sobre a noite num tresloucado reflexo de fogo
Onde ardem borboletas que habitam muros de pedra
Não deixam sinais nem rompem os casulos...são ainda crisálidas ansiosas...
Subitamente vejo o caminho que luz no rosto de uma paisagem solar
Arrastando consigo pássaros que pernoitam debaixo das pontes
Onde os silêncios se acocoram como sexos dilacerados...
E os desamparados debicam crimes em luzes de néon..
Debruço-me sobre esses caminhos contaminados por inacessíveis asfaltos
O meu falo de luz estremece no teu corpo...expande-se nas tuas mãos quentes
E como lume enlouquecido...olho-te como um corpo que quer pernoitar na alucinação
Ergamo-nos do nevoeiro que se veste com cintilações de luzes frias
Façamos do corpo uma insónia líquida...
Dilaceremos as memórias negras com noites sequiosas
Deixemos a saliva escorrer pelos caminhos que conduzem ao prazer
Podemos até cometer um crime harmonioso...algo como laminar um pássaro de areia
Ou beber mel pelos favos de um ninho de vespas
Tudo é possível se não escondermos a seiva enlouquecida pelos abismos
Em todo o lado podemos destroçar as pontes inacessíveis que contaminam os dias
Enquanto lentamente nos deitamos no rosto da areia húmida
E descobrimos que o sol é negro...e o desamparo é lume frio...
E o medo...é uma ave ensanguentada pelas trevas....