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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Gosto da chuva...

Deito-me em estradas onde se perdem as memórias serpenteantes
Abraço o fim dos dias e vomito todo o fogo que me segue...
Como um arauto de uma ópera sigo a minha própria obsessão..
Não tenho jarras comestíveis nem me ornamento com penas de pavão
Assumo todos os nomes que me quiserem dar e dou uso a todos os objectos
Subo aos cumes das aldeias e invento dias circulares...
Sou a explosão adocicada de uma meteórica alvorada...uma escada...um patamar...
Sou um vapor de pele a cirandar... sobre os dias côr de violeta...e gosto da chuva...

Ando descalço só para perceber os astros...

Se eu quiser chorar até encher os lagos... com lágrimas feitas de incenso
Talvez os nevoentos abismos se inflamem e despertem em salivas de doçura
Mas há caminhos onde o asfalto irradia a sua negrura ...intemporal
Como se fôssemos aves medonhas ruindo sobre cidades turvas
Separam-se os corpos e as almas...as lamas invadem as memórias...
Curvamos o mundo...dobramo-lo em suaves reflexos prateados
Consumindo-o para além de todas as luminescências das marés
Por isso ...deixa-me abraçar esse mundo em crisálida …
Deixa-me voar na chama alucinada de uma cartomante
Deixa-me deitar nas labaredas que decoram os muros antigos
Assumo que sou um louco feito de mares onde se escrevem naufrágios
Que ando descalço só para perceber os astros...
Que ardo num tempo onde os desertos desembocam
E que suspendo o meu sorriso numa velha oliveira...

Como crianças sopradas pelo espaço..rindo-se para nós...

Danças..cintilas... olhas-me pelas vidraças de um baço desamparo
Estou inacessível como um líquido alucinado …sou feito de papel contaminado
Por palavras que escondem ventos feitos de pedra
Ventos que murmuram abandonos dilacerados...que falam de ensonadas paisagens
Escondidas em sequiosos fins de tarde...
E não podemos estremecer nem dilacerar mais as pontes que ruíram...
Despertemos calmamente das cortantes paisagens negras...
Dos lugares onde cintilam pássaros de fogo...
Enlouqueçamos sobre os nossos corpos separados pelo denso nevoeiro...
É tempo das memórias irromperem pelos poros...de ganharem asas...
Dos sonhos pulsarem repletos de melancolia...
De flutuarem sobre os destroços dos dias
Até que as trevas se esmaguem de encontro às labaredas
Onde as fagulhas saltam...como crianças sopradas pelo espaço..rindo-se para nós...