Despeço-me de ti...abraço-te...quero-te...retorno sempre a ti!
Perfeita é a catástrofe que gera o mundo..largos são os caminhos onde já passei
Os dias eram meus...deixei-os noutros lugares...talvez se encontrem agora nas areias
Talvez sejam mitos inacabados...esperanças? Certezas? Nada encontro dentro deles
Sigo a minha memória...encontro lugares esquecidos...a casa pequenina...a esperança
Vejo o olival inclinado...o luar assustado pela escuridão do rio...deixei cair longe a minha herança
Na minha pele nascem plantas...como estilhaços de pétalas acesas...feridas profundas
O futuro fragmentou-se em fotografias descoloridas...sorrio...não me queixo...
Tudo o que possuo são memórias dos dias em que o futuro era tão longe...envelheci...
Tenho agora as mãos povoadas por pequenos fragmentos de letras espalhadas sobre o teclado
Grandes histórias de recomeços...jogos de morte...heranças de feridas apagadas...
Sombras crescem sobre os canaviais...regresso ao amanhecer....perdi a noite...envelheci
Agora vagueio sobre uma inútil pele cansada...caminho sobre um luminoso raio solar
Despeço-me de ti...abraço-te...quero-te...retorno sempre a ti!