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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como se nos amássemos a nós mesmos...


Emerge a tua imagem das páginas brancas...olhos sentados em ti...


Livro escaldante de cor esfuziante que atravessa o tempo...cegos rios que te levam...


Desfilam por mim todos os idiomas...querem que os ecos te falem...


Que acredites que os espelhos são águas claras...por onde passam os restos de nós...


Do rio emergem estradas onde faltam os teus olhos claros...


Harmonias de mundos que estendem os seus ramos sobre a paisagem


Nascimentos cruzados que levam a estradas infinitas...como nós mesmos...


Que somos donos da suavidade que cria todos os espelhos...


Que nos faz crer que somos pessoas...emergindo do escuro...amando os outros...


Como se nos amássemos a nós mesmos...


 

Pedaços que tenho que voltar a empilhar...para me reconstruir....

 


Sonho-me e escrevo-me...sou o papel que se vê livre de mim


O tempo sacudido por batalhas...o lugar onde os segredos falam sozinhos...


Afundo-me mesmo antes de acordar...sou a nocturna luz que se queixa do dia...


Diálogo de pés afundados em todos os passados...em todos os etéreos cemitérios...


E sou eu..afinal sou sou eu que abro a porta ao túnel escuro...


Sou aquele que é mais antigo que o tempo...e se houvesse tempo para mim...


Espreitaria através das pálpebras semicerradas...o soletrar da terra...a pressão do ar...


Sacudo-me...de todos os pós do caminho...


Alivio a minhas costas de todos os antepassados...sigo a minha marcha...


Numa marcial ausência de leis...num ditar de segredos para reescrever os sonhos...


Fusão de mim...sem hora nem preço...pedaço de luz a cair na ravina do dia...


Diálogo esventrado...sigo os pássaros cegos...apanho os meus restos..aqueço-me...


Como um graveto ao sol...enfrento os morcegos que navegam no escuro...


Calcorreio a direcção que a luz toma ao entardecer...como se soltasse pedaços de mim...


Pedaços que tenho que voltar a empilhar...para me reconstruir....


 


 


 

Doçura de mulher emergindo da chuva


Alma em gestação permanente..nascida da música que se desfaz na noite...


Ritual antigo de silêncios mastigados...teia de aranha murmurando a tua posse...


Estendendo as quelíceras...veneno adocicado pelo pólen do tempo...


Doçura de mulher emergindo da chuva que desfila pela paisagem inerte...


Balançando sobre mim..como um pêndulo aquático...ampliado pelo som das pernas...


Que criam harmonias de prazer...suavidades que nascem dentro de nós...


Mundos habitados por grandes céus escarlates...luminescentes por fora...


Cegos por dentro....misturas de pó feito de loucuras..


Que acreditam nas sombras do tempo...engelhado...


Desfigurado pelas páginas de uma história que balança enroscada


Nas mãos sem eco...desafinadas...sem forma de encontrar a luz...escura maresia...


Mas que mastigam corpos..farejam a posse desses corpos...


Como abelhas acumulando mel...numa agonia de barco infeliz....


Que desfila num chão descolorido...como se o mundo fosse um esguicho magro...


que dança numa teia sem idioma...


Onde o silêncio é um candeeiro esquecido sobre si mesmo...


Alumiando-nos sofregamente!