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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Às vezes a alucinação cruza-se com a maresia..


Os dias cantam sobre as algas melancólicas...e nós...parados em frente ao sonho


Esquecemos quem somos...perdemos o tecido dos dias...


Comemos cuspo e dormimos no umbigo...somos o gel que massaja os pássaros...


O eco longínquo de um nome prateado...


Que alastra sobre os astros manchados pela água...incertos e agitados...


Circulamos num espaço desconhecido...povoado de seres aquáticos...membranosos..


Manchados por lábios pintados com vozes de cidades incendiadas...venenos de mel


Ás vezes a alucinação cruza-se com a maresia..o deserto com o veludo da areia...


As medusas com as mãos povoadas de aves ocultas...


E os espelhos reflectem-nos em todas as tonalidades...como linhas de cores fortuitas...


Banco manchado de seres hirtos...nervosos...sementes de insónias líricas …


Latejar de loucura... espaço mental sem pele...sem noite nem risos cósmicos...


Abelha rastejante que explode em mil corpos siderais...escama de tempos cruzados..


Que preenche os caminhos feitos de água nervosa...circulante...


Com a liberdade desfeita numa tempestade de cidades mortas...


Onde o aroma das laranjeiras impregna os fantasmas que nos devoram!


 

Com os olhos fixos na vermelhidão de uma boca cálida....


Olho para onde a seiva feita de plumas exaustas poisou o corpo


Recolho-te nos meus braços...língua que envia mensagens de amor...


Fecundadas por uma maré que se esconde na sombra das paredes...jogo de mãos...


Hieróglifo transparente que atravessa a luz...filtro de persiana que tilinta com o vento...


Palavras...roupas nuas...bebida de ângulos esquivos...


A tua imagem é um espinho cravado no âmago de uma língua vermelha..terra de sonhos


Na rua as vozes ecoam nos arbustos...escondidas luzes saem da sombra...


Filtros amorosos observam as silhuetas difusas...vagas de águas vivas...espessos rios...


Que nos enviam a luz da última palavra temporal...e as mãos...aquelas mãos coladas...


Emaranhadas num fio de sangue líquido..jorram carícias..ferem as paredes..arranham...


Querem ventos que empurrem as casas para o meio da rua...


Que destruam os livros apagados...nada mais é preciso...junco de palha...papiro colossal


Do frio fogem as aves...peito atravessado por penas cruéis...recortes de futuros passados


Cintilações de neve sofrida...cores reconstruídas sob o murmúrio das paredes...graffitis


Percursos lambidos num desejo sangrento...surge a cidade...sobrevoa-se o cais...


Somos o fruto imenso de uma lâmina afogada em cinza...veneno alucinado...inerte...


E alguém nos sussurra que os pássaros deslizam pelas ternas noites...


Pássaros que fugiram dos dias aflitos...calcinados...migradores...


Pássaros que pernoitam nos corpos onde ecoam cantos libidinosos...frágeis...


Com os olhos fixos na vermelhidão de uma boca cálida....


 


 

Chega-se ao fim do pontão..e é o mar que nos espera!


Éramos tão felizes se perdêssemos a memória...se as palavras se apagassem...


Se os dedos girassem em redor de um corpo em êxtase...vencido...


Como uma música incandescente...envolvida num profundo incêndio....


Um queimar de alma...um esventrar de coxas sedosas...de uma mulher incendiada...


Em vez de ar...seria tempestade...mar revolto...abismo em chamas...


Fronteira que flutua num lago feito de cavalos selvagens...gesto por gesto...


Como o flutuar redondo de um ar arrepiado...luto de mão molhada pela chuva...


Frente a frente...era o choro...as teclas de uma vida...tocadas em silêncio...


Quem quer chorar nesse rio feito de barro...margens incapazes de capturar as águas...


Onde incêndios convalescentes moldados pela nossa mão...


Formam montanhas de peitos abertos ao delírio...profecias rasgadas...olhos ao vento...


Pesadelos leves como folhas tempestuosos...flutuantes como sexo etéreo...


Há qualquer coisa num segredo sonhado...algo que se coloca em nós...


Algo que estanca a vontade de enterrar a própria terra...vulcânica temperatura...


Terror de chuva afundada na lama negra...barro feito de braços longos...


Incapazes de escavar mais a vida....


Chega-se ao fim do pontão..e é o mar que nos espera!


 

Quero desvendar a palavra que escuta a minha..

 


Sinais ruídos luzes sombras... emparedados numa dança de corpos arqueados


Vejo o meu corpo dobrado...nada mais que eu...apenas uma folha azul....


Tombando no desamparo de uma memória feliz...escavo a areia..procuro o mar escondido


Quero desvendar a palavra que escuta a minha...a harmonia tamborilando numa dança...


Escuto a montanha que trago na desobrigação de ser tempo...


De encher páginas...de erguer joelhos...de formar frases em abismos apagados...


Como se o peso da angústia tombasse para o interior de um violino imaginário...


E depois...por magia...saísse dali amparada em danças pujantes...esquecidas de tudo...