Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Alimento de ave que balbucia astros em flor...


Mesmo que alguém escute os meus passos eléctricos...nunca reconhecerás a minha voz


Alimento de ave que balbucia astros em flor...atrás de ti fica o paraíso...a erva...a janela


Os passos são ásperos...as veias são nítidas...o corpo atravessa o deserto tremelicante


Petrificas-te numa soberba asana de ouro...cintilas como uma aldeia nocturna..


És agora um alado ser uniforme...sorvendo a vida que escorre pelos limos marítimos...


Bebes o estreito mel num copo feito de jardins onde silvam sombras...és compacta flor...


Exalas fomes de noites sem arrependimentos...sorveste o tempo antigo...foste juventude


Caminhas numa superfície alada...bebes todos os minerais disponíveis...és de pedra...


Estátua penetrante coberta de erva onde giram insectos...vedados aos olhares...


Estreitos como casas abandonadas...vagarosos como actos de amor...


Deixaste de sentir os minúsculos veios dos jardins...alimento de pele em ânsia...


Esfomeada parede...eco aterrorizado...princípio de tudo..abandonas a tua pele...


Deixas cair o corpo num bosque esfacelado...hesitas...avanças...não sabes de nada!


 


 

Dormimos abraçados...escutamos os gritos da nossa vontade..


Despedi-me do tempo como se me despedisse de um amigo


Ergui a minha tenda numa música marítima...fitei as mãos...comi o corpo...


Estremeci como uma sombra caindo dos olhos...tombando pela solidão...


Mancha de afogados sentimentos...cumpri o meu plano...iniciei a viagem...


Triunfei perante os teus seios...despi-me...como um barco musical..


Consequência de deleite harmonizado...sentido da razão...simples sol sem mancha...


Caminhos abrem-se sob a tua pele líquida...desejos...penetrações...


Sentimento de total ausência de razão...pulsão que queima a solidão...entreabro os olhos


Descubro a explosão ribombante do prazer...o entusiasmo percorre as matas floridas


Tudo se cumpre num ritual que queima...infinito espaço temporal que vem à tona...


Como uma viagem jamais realizada...frémito de olhos e corpo...habitantes frenéticos...


Tombando num clarão insone...passos leves...caminhos afogados em lama...


Lápides de almas em convulsão...perdidos estrondos clamam por mais amor...


Carne...carnal...culpa dissimulada numa pele sem peso...suave e bela seda branca...


Afundamento de voz...fuga aos Deuses castigadores....aluimento total dos ossos...


Informe ave que voa com a altivez de um peixe...em direcção a uma voz que queima....


Infinita mancha amarelada...confusão de sóis picantes...lembranças...


Para onde caminham as lembranças...segue sempre a ausência...mortal lava nervosa...


Que nos arrasta o corpo....já temos noites...insónias...deuses sem vida...


Mas queremos roubar caminhos...petrificar justiças...morrer sem voz...esquecer o Inferno


Mas nada nos rouba o peso da terra..nem a queimadura de uma vida inteira...


Enganamo-nos..o sol desponta porque quer...o mar esquece as geografias...


As aves entranham-se em nós...como mundos onde desponta o céu...


Temos muito tempo para soçobrar...belos mergulhos nas entranhas das asas do mundo...


Quem vai estender os braços cegos para lavar as vozes esquecidas?


Mensagens de inábeis balas assobiando...como mares voadores...


Onde despontam clarões feitos de eternidade....desfocam-se os abismos...


A Terra treme de frio..emerge a alma abraçada ao sol...foge...corre...


Constrói um tempo com as próprias mãos...cálidas insinuações contemplando bosques


Dormimos abraçados...escutamos os gritos da nossa vontade...nada mais queremos!


 

Extensos mundos feitos com águas espalhadas sobre os dias...


Da derrocada do tempo nasceu um céu austero...


Alinhavado por braços que suportam agulhas fugidias...que cosem rios de sono ...


Contentamento de gafanhotos..agruras de ouro...fora do corpo a vida desenvolve-se


Os arbustos sugam o peso dos sexos...aposento de corpos revolvidos...


Alegrias erguem os braços...sustêm os céus...não fazem perguntas...


E os dedos...os dedos que deslizam sobre a carne...cisne branco com penas de seda...


Extensos mundos feitos com águas espalhadas sobre os dias..quartos suspensos...


Tenebrosos tapetes persas...que deslizam como risos que esperam à porta da rua...


Queixando-se de terem sido roubados...silencioso deslizar de rumores abafados...


Na cama estatela-se o vestido...no chão atapetado...deita-se o corpo solene...


Quem nos limpa a alma esfarelada? O tempo vinga-se...morre ao nosso lado...


Incendeia-se de sombras lutuosas...apenas a vida se espalha pelo deserto..areia de luz


Em todo o lado há deserto...severa sujidade que atravessa o nosso ventre..


Estrelada noite que engole as lágrimas...as estrelas não fazem perguntas...


Engolem a amargura...queimam os remos...desembarcamos...


Diz-me como adormecer sobre a tua sombra...como tirar os sapatos...despir os pés...


Matar todos os sons..andar descalço como um monge budista...consultar a vidente cega


Roubar as asas ao anjos...desenterrar o chão onde vive o luto..


Ser uma porta que engole todos os risos...austeras distâncias de felicidade...


Que se fecham num quarto feito de alegres gargalhadas...de onde saem felizes clarões...


Que rodopiam como se dançassem sob um sol desprendido do céu!