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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Deflagram peles de seda sobre a areia...


Lábios dentro de palavras..letras dentro de páginas...respiração de livros...


Âncora de carne onde se abrigam as vozes do mundo...


Como areias que embatem na respiração ...infiltrantes compassos de rocha alada...


Arrancados torrões de terras distantes...bosques sentados em vulcões sagrados...


Lábios nas letras ...ébrios destinos de pessoas epidérmicas...respiração suave...


Alma apocalíptica vivendo numa visão onde chovem corpos...uníssonas respirações


Mas a chuva não fala...a respiração não emite raios...o céu é liso...rabiscado de nuvens


Deflagram peles de seda sobre a areia...abrigamo-nos nas margens expostas do rio..


Sentimos a crispação Divina sentada sob a nossa epiderme...renascemos do medo...


Arrancamos bocados de terra da boca das pessoas...gritamos em uníssono...


Somos a visão da rocha..da árvore...da carne exangue...somos o abrigo de todas as coisas


Para além de nós não há mundo...nem machado que corte a respiração....


Somos a imensa criação do mistério...aflição de água convertida em corpo...


Choveremos...subiremos a todas as hastes dos girassóis...seremos ondulantes céus...


Escarlates autores de uma nova asfixia...crisparemos as bocas...seremos nós mesmos!


 


 

Cobrindo cada eco do corpo com nomes que não sabemos...


Há um peito pulsando nestas mãos de carne...uma noite soterrada...uma geada subtil


Nos astros aveludados acendem-se alvoradas sibilinas...travessias de pedras falsas


Despontam alucinações..quebram-se arco-íris...nus em pêlo...cada vez mais fundo de nós


Dentro do coração ecoam aves lunares..presságios perdidos...boca do corpo...cona...


Tudo o que possuímos são jactos de esperma dorida...pequenos cestos onde nos guardamos


Cobrindo cada eco do corpo com nomes que não sabemos...


E de cada vez que coalha a geada...há uma ave que recolhe as nossas palavras...


Uma inibida luz quebra-se...o silêncio estende-se por toda a cidade...desponta nos jardins


Escondidas mãos debicam corpos...extensões do sentir...sentes-me na boca...és vento


Sabes que no Oriente inventaram filosofias..escritas cuneiformes...alturas nuas...


A coxas escondem as marés...as mãos escorrem tépidas...a ânsia impregna-se de mel


Fora de nós a paisagem rodopia...a roupa escorre suja...o esperma tatua a tua pele...


Perdemos o horizonte...no mar flutuam ladainhas embaraçadas em limos...medusas...


Caravelas portuguesas...picantes... pupilas rodopiantes deslizam pelas flores...


Gritamos à cidade...as marés lavam-nos as pálpebras...somos imortais...explodimos...


 


 

Flutuamos...fluímos...carregamos o prazer na pele...


Rosto minguado...engravidado pelas gotas que escorrem das folhas mortas das árvores


Chão contrariado...contraído numa demora de mulher sem roupa...ausência de tempo


Segredo que se esvai num olhar ausente...gruta de náufrago coberto de escamas


Alma que escorre pelas frestas da língua...numa pose onde latejam seios lambidos...


Flutuamos...fluímos...carregamos o prazer na pele...como sangue condenado...


Piar de coruja que nasceu ferida..rio com insuficiente margem para se espraiar


Descemos da nossa condenação como penas mortas...decepadas aves cegas...


De dentro de nós sai chão coberto de lodo...tronos de reis...bancos coreográficos...


De dentro de nós saem amargas línguas...que nunca aprendem a rasgar a boca...


Que apenas querem contemplar o acordar de um corpo mordido...azulado...


Escorrido pela chuva de uma feroz noite de amor!


 

Tudo conhecemos na imitação coreográfica dos dias..


Somos troncos cobertos de musgo que demora a nascer...imitações de sombras...


Grutas demoníacas que se arrastam pelo empedrado dos passeios


Condenamos as paredes de onde escorrem macios tempos...céus feitos de lamparinas...


Crentes no barulho ensurdecedor das cascatas...transformamos os ombros em asas


Regressamos das alturas...sonhámos...somos metade tempo...metade mariposas...


Mulheres temporárias...cegueiras recorrentes..caminhos descruzados..


Tudo conhecemos na imitação coreográfica dos dias...tempo e asas...sal e lagos calmos..


A areia converte-se em dedos..imaginação quente...abafado riso...


Corpo inesperado enterrando-se na ponta dos dedos...uivos de pele arrepiado...


Enchendo todo o tamanho dos silêncios...comendo mãos que marginam desejos...beijos


O corpo balança...a lua enlouquece...tudo desaparece numa invisibilidade sôfrega...


Os corpos voam...enlouquecidos pelo toque das mãos...querem salgar o mar...suar...


Ao fundo...planícies cobertas de flores descansam...


Rosas bravas emergem como tesouros escondidos...e nós...perdidos...


No fundo da nossa assombração...queremos mais...muito mais...


Que um corpo com asas....queremos sentir o toque perfumado dos nossos céus!