Flores que se alimentam de janelas
Fico quieto a ver arder as ruas...a sonhar com o movimento das paredes...
A ver despenhar-se o sono...extinção atenta da imobilidade das almas....
Estrada improvável...caminho invisível...luz crua enroscando-se numa crueldade azulada
Ardo como se fizesse uma viagem vulcânica..uma recordação de mares desabitados...
Um travo a memórias arrefecidas...viajo..sou apenas mais um peregrino insone...
Como um interior a desfazer-se numa manhã despigmentada...
Sem porta nem janela para o tempo...temporário habitante de mim...girassol nocturno...
Passam flores insuspeitas...não as conheço...
Talvez sejam as flores envenenadas das laranjeiras....flores que se alimentam de janelas
Ou uma memória de corpo remoto a assombrar a rua...reflexo de veias doloridas...
Não quero mais entrar nesse reflexo lunar...nesse pensamento insano...nesse entardecer
Imobilizo-me defronte da tua memória...não avanço...esqueço-te...queimo o teu tempo
Num frenesim de vómitos mudos...espero que o cantar dos galos me desperte!