Por alguma razão o tempo alisa o peso da memória...
Por alguma razão o tempo alisa o peso da memória....e o escuro peso da vergonha...
É largo o céu que se fecha ao fim do dia...ausência de tempo atacado pelo esquecimento
São longas as pálpebras que murcham nos corpos...e tão bonitos os suicidas das manhãs
Invento uma crença...quero ser uma suspensão de ar...uma mirrada carne esbaforida...
Mortal dia de onde brotam lagoas encurvadas...onde poisam graciosos abutres enfastiados
Copa de árvore ausente da manhã...culpa de ser mensageiro da imortalidade...
Inventor de infinitos campos estrelados...imortal...ser imortal é ser folha seca...
Secura que paira numa ave encharcada de chuva límpida...
Não há moscas...ninguém se estrangula...todos pairam num tempo escuro...
Quem nos ataca de madrugada não se esquece de nós...risos de morcego alado...lunar
Culpa que desaba de uma nuvem sem substância...saltitar de encostas celestes...
Afinal mesmo mirrados estamos vivos...enterramos o silêncio numa orgia milenar...lupanar
Caímos...e o baque do nosso corpo é um fragor fenomenal...uma coisa triste...um charco
Algo que receamos..como aos insectos que nos estrangulam...completamente...
Talvez a terra nos encerre num fogo latente...lamparina vulcânica...profundo contemplar de nós
Mas onde iremos enterrar os ruídos? Onde desabará a chuva cristalina?
Crosta decepada...costa marítima aflita...sombra vertical...meio-dia estrangulado...
Tombei numa letargia de assassino... de troncos decepados...
Como sentenças embriagadas...ou como cordas soluçantes....balanços de mensagens gigantes....
E nós dobrados sobre o medo...escutamos apenas a fria mensagem pregada na parede...
Foto em sépia de ancestrais rostos...frias pálpebras cerradas pela sepultura...ali estamos!