E nas almofadas...demolir todos os cansaços...
No meu quarto estanco a necessidade de ti..hei-de ver o teu rosto passar..
Mastigá-lo numa fome de olhar...acordar de noite e não me importar....
Hei-de respirar por entre os becos ensanguentados...pelas poesias doridas...
Por entre a branca geada da memória desfocada...filme de alucinação transparente
É preciso tapar os buracos da noite...possuir vulvas ascéticas...mastigar silêncios...
Desaguar em câmara lenta sobre uma sede de veneno asfaltado...permanecer amargo
Desfeito em pequenos pedaços que se distribuem por cartas que não enviamos...
E nas almofadas...demolir todos os cansaços...ser um animal em cima de uma luz
Comer úteros...suavemente...cuspir sedas cicatrizadas...romper com a noite...resistir...
Porque sabemos que da tremura escavada na alma...nascerá uma nova terra...um grito...
Uma cicatriz infernizante..que parece resistir a todas as respirações...
A todas as cintilações...a todas as gotas de suor que caem do nosso corpo...dormentes...
Rotas...cuspidas na fúria da sede...memória de vozes vermelhas...esburacadas...
Que nunca terminam...mas que se deslocam dentro de nós....como um mar longínquo!