E possamos ser mares acordados...
Para lá de mim existe a queda dos corpos inacessíveis ...contornos de pálpebras brancas
A perda de tempo...o relógio parado em todos os lugares da vista...
Para lá de mim estão as sombras que se erguem num vagar vigilante...
Como uma lua enfurecida...nua...estremecendo junto às árvores tatuadas...amo-te...
Enxertos de marés vêm juntar-se às insónias...ácidos....gases....caímos na corola da noite
Vulcões explodem na lua coberta de abelhas...inquinações de subterrâneos esfomeados...
Sobrevivemos devagar...alarmamos as imagens..bebemos as circunstâncias...crescemos
Dormimos sob o coração...somos a metamorfose da alma...um espírito tatuado pelos dias
Plantas crescem sobre as ruínas...o luar prateia a água...luz e pele...
Olhos alvos espreitam fotografias de manhãs desgastadas...lugares onde esquecemos os corpos
Enxertada chuva subindo passeios...inundando a pele arrepiada das pedras...
E nós cantamos sentados sobre um espaço desfocado...murchamos como plantas vazias...
Aspiramos rostos...imagens flácidas de cidades em embrião...bebemos...bebemos ácidos corrosivos
Alternamos a alucinação com a obsessão...existimos numa loucura pesada...territorial...
Rua e pele vazias...vidrado de chumbo descolorido...devastação morna...
Até onde iremos? Em que corpo habitará o nosso veneno? Que quedas devastaremos?
Até que a viagem purificante elimine dos nossos poros o azedume...
E possamos ser mares acordados...navegando ao encontro de praias solenes..