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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

E possamos ser mares acordados...


Para lá de mim existe a queda dos corpos inacessíveis ...contornos de pálpebras brancas


A perda de tempo...o relógio parado em todos os lugares da vista...


Para lá de mim estão as sombras que se erguem num vagar vigilante...


Como uma lua enfurecida...nua...estremecendo junto às árvores tatuadas...amo-te...


Enxertos de marés vêm juntar-se às insónias...ácidos....gases....caímos na corola da noite


Vulcões explodem na lua coberta de abelhas...inquinações de subterrâneos esfomeados...


Sobrevivemos devagar...alarmamos as imagens..bebemos as circunstâncias...crescemos


Dormimos sob o coração...somos a metamorfose da alma...um espírito tatuado pelos dias


Plantas crescem sobre as ruínas...o luar prateia a água...luz e pele...


Olhos alvos espreitam fotografias de manhãs desgastadas...lugares onde esquecemos os corpos


Enxertada chuva subindo passeios...inundando a pele arrepiada das pedras...


E nós cantamos sentados sobre um espaço desfocado...murchamos como plantas vazias...


Aspiramos rostos...imagens flácidas de cidades em embrião...bebemos...bebemos ácidos corrosivos


Alternamos a alucinação com a obsessão...existimos numa loucura pesada...territorial...


Rua e pele vazias...vidrado de chumbo descolorido...devastação morna...


Até onde iremos? Em que corpo habitará o nosso veneno? Que quedas devastaremos?


Até que a viagem purificante elimine dos nossos poros o azedume...


E possamos ser mares acordados...navegando ao encontro de praias solenes..


 

E nós...corpos estreitos na solidão purificada das palavras....abraçamo-nos!


Lembro-me das portas ocultas...do verniz abandonado sobre as unhas...de paisagens...


Pequenas coisas que a minha memória persegue produzindo silvos agudos e estreitos


Lembro-me dos teus dedos soltos sobre o vento acariciando os peixes voláteis


Respirávamos ar antigo...penumbra de vómitos na madrugada...dispersões de haxixe


Num pequeno espaço imitávamos o tempo...sabíamos que nunca mais lá voltaríamos


Abandonámos os nossos rostos à nostalgia...ao misterioso silvo que ecoava num vento distante


Esperámos que as areias sossegassem...que tudo se acalmasse...que a noite viesse


Até que os nossos corpos se desprenderam...e se elevaram como máscaras ao vento


Dentro de mim ressoa ainda aquele marulhar das ruas...aquela memória encoberta


Aquela cinza que se sente na espera e de derrama por entre os canteiros de flores


Sabedoria de borboletas...recomeçar de certezas absolutas...não há quartos onde dormir


A rua suspira por nós...afastemo-nos...persigamos os pulsos golpeados pelo prazer...


As sílaba movem-se...as paisagens respiram através de todos os rostos...


E nós...corpos estreitos na solidão purificada das palavras....abraçamo-nos!