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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Uma respiração caminha ao nosso lado...

 


Sobra-nos a morte deitada sobre as quilhas dos barcos...


Esqueceste o olhar...perdeste a história...os peixes agora temem os mares...


No oceano extingue-se a nossa luz...e tu ..tu que és a poeira fosforescente das marés...


Deixas-te ficar aí deitada...não contas a ninguém a fala das vagas...


Do tremeluzente escuro emanam os olhares fixos no fundo dos corpos...


O teu corpo é um mundo nu...um fio de seda abandonado sobre a areia...não te quero falar


Não te quero dizer que nada aconteceu...que a luz se deitou e eu desapareci...


Que tempo demora um corpo a desaparecer? Um corpo do tamanho da eternidade...


Uma respiração caminha ao nosso lado...mas não produz vapor...é escura...febril


E tu ficas aí como um caminho sem memória...uma insónia sem silêncio...perto de mim...


Reluz o teu rosto...um navio deita-se na praia..e nós...extinguimo-nos!


 

Apenas quero deslizar pela recordação do dia em que me sentei contigo na paisagem...

 


Pergunto pela luz que sopra da terra orvalhada


E pelo ar que se eleva do asfalto onde se escondem os recantos da memória


Vejo rostos empilhados como sentenças a crepitar nas luzes..sílfides fantasmagóricas


Ligeiros perfumes que fogem dos sótãos quentes...na rua as árvores apodrecem...


Sorrisos salgados abrasam os rostos..insectos em pose brincam nas folhas amarelecidas


Nem sei se é possível escutar o vento...ou conhecer a dor de um pássaro tardio


Tropeço na fantasia de uma esquina sombria...de uma sombra quente...a tua sombra...


Escuto o crepitar de marés onde o teu corpo se afogou...também eu me afoguei...


Também eu senti a tua pele no perfume das flores...soube então de ti...


E também soube que não iria atrás de ti...que te sumirias como uma folha sem sentido


Sem rota nem música...uma folha presa na garganta...embriagada de dor...


Recuso fazer qualquer gesto...recuso sentar-me na beira mar...quero esquecer as conchas


Apenas quero deslizar pela recordação do dia em que me sentei contigo na paisagem...


E nos fomos absorvendo...como quem bebe a beleza do entardecer...


 


 

Somos o breve instante da anarquia..


Ouve-se um suspiro nas trevas...silenciosos clarões ameaçam soltar-se da noite


Reluzem como diademas de cinza...fuligem perdida na vidraça da lua...


E por momentos sinto a existência de um despertar...como um Cavalo de Tróia baço


Vejo o silêncio..voam sacos plásticos abandonados...explodem cheiros de erva...


Crimes incompletos vestem-se de verde...a escuridão desperta sopros insondáveis


Há um strip tease de luzes vibrantes...manhosas..vazias...


Neva...debaixo da luminosidade preciosa de um candeeiro de ferro...


Botas pisam as ruas...garrafas de vidro partem-se de encontro aos lábios...bebem eternidades


A cidade parece um filme acetinado...bate como um coração que suspira...


E..no fundo de uma fachada em ruínas...estamos nós...


Somos o breve instante da anarquia...a balança que desperta a luz...a eternidade solitária!


 

Esqueci-me de ti quando contemplei o florescer dos lírios..


Como um beduíno sento-me na noite e passeio o olhar pelas estrelas...


Brilhos atravessam a escuridão..como missangas de luz palpitante..


Embaraçando-se na memória de mundos feitos às avessas...


Ausências esperam por mim...deflagro num jorro de sonos impermanentes...


Entro vagamente no reino dos sonhos...das insónias e das amarguras.


E Todas as marés me perdoam...todos os sorrisos desmaiam..


Esqueci-me de ti...esqueci-me de ti quando contemplei o florescer dos lírios..


Que crescem imperturbáveis perante o olhar de uma poeira ausente..


Ou dum grito que fere a crosta da terra!