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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Nas paredes pendem quadros incompletos..auto-retratos de um tempo inexistente...

 


Chegou o tempo dos ventos agrestes...dos olhares fixos..de luzes fosforescentes


O tempo em que a morte conta histórias e as vagas se extinguem num abandono ocasional


Cantamos o que nos asfixia... apenas nos sai um fio de voz...um caminho escuro


E nós existimos no fundo dessa vida onde nadamos...nesse respirar alucinado


Nesse contar de dias em que imensos olhos se ausentam de nós


Asfixiamos...queremos que a vigília parta com as vagas...rostos pintados perdem a cor


Nas paredes pendem quadros incompletos..auto-retratos de um tempo inexistente...


Já não tememos a chuva...a poeira acompanha-nos...somos o caminho e a praia


E se esquecêssemos todos os rostos que caminham sobre tempos sem rosto


Se amortalhássemos o céu numa colcha de seda vermelha...


Que o doloroso navio parta sem nós...pouco importa..os rostos ausentaram-se


Nós somos a sua ausência...e somos o jardim que cultivamos numa aura submersa


Profunda...onde tudo acontece...e onde a chuva molha as horas do anoitecer!


 

Podia descer contigo pelas veredas e passear por entre as tardes amenas..

 


Como num sonho... carrego a memória de um pássaro que voa sobre o vazio


Das asas pendem pequenos cristais de sal...lágrimas translúcidas...desvanecidas tardes


Sei que ninguém gosta da impotência da escuridão...nem dos rios que transbordam


Mas tu deslizas sobre o vento...deitas-te ao lado das folhas húmidas..és uma  voz


Podia descer contigo pelas veredas e passear por entre as tardes amenas..


Apanhar banhos de sol...nadar num lago feito de maresias...ser a tua pele...sermos a tua pele


Mas a vegetação cobriu-nos...o vento atordoou-nos...uma parte de nós despenhou-se na bruma


E a ilha que queríamos alcançar desvaneceu-se...


Resta-nos a melancolia de um fantasma...uma dor que se sente só...uma água branca...


O nosso riso rodopia agora num infindável poço...onde os gemidos da água sopram inertes


Mas onde se ouvem repicar os sinos...e as nossas vozes falam de passados arquejantes!


 


 

As estrelas são as que sempre foram


Monólogos perfeitos..sensação de vazio...a luz foge pelas janelas...


Na parede o papel florido é um jardins sem aves...


Um enorme coração desponta no espelho...vermelho e azul... iluminado


Na relva murcha brincam estupefactos escaravelhos...


E tu gritas como se fosses um modo de vida...ou um planeta distorcido..


As estrelas são as que sempre foram...brilhos estelares que vogam no vazio


E se desmoronam  em cores bravias...como aves melódicas que não nos conhecem


Nas casas vagueiam pessoas pelos corredores...o mundo desmorona-se...foge


E tu gritas para dentro da neblina...mas eu já não te ouço!


 


 


 

Voas em todas as direcções..vives do lado de fora de ti...


Dançamos sob salpicos de luzes que caem das árvores...


Pingos de sangue derramado numa caleidoscopia nocturna


Enfeitam a tela negra da noite como pirilampos metálicos...


Noite latejante de verão onde a floresta se ilumina por detrás de uma fachada de fogo


Deitas-te sem saber qual a cor dos dias...sangras palavras diante dos espelhos..és asas


Voas em todas as direcções..vives do lado de fora de ti...


Ergues os braços como se fossem neblinas laceradas por lâminas..


Ou como inúteis cores vingativas...chegarás ao Outono...


Ver-te-ei chegar cavalgando uma melodia que soprará de um qualquer sax...


E nos pomares de pessegueiros despirás o teu coração...como se fosse um mundo...


Ou um vento imaginado que sopra das flores...


Perfumando a abóbada celestes com aromas estrelados...


 


 

Tens os pés descalços...seguras a espuma com o olhar..


Abre-se a noite como um universo melancólico...


Luzes atravessam o ar...o chão é agora feito de água escura...relâmpagos varrem as dunas


As rochas parecem fantasmas...e vejo-te deitada no abismo onde as ondas rebentam..


Tens os pés descalços...seguras a espuma com o olhar..as tuas mãos são guelras sôfregas


Respiras pelas mãos..tocas o meu corpo com o teu sopro...e caímos juntos na noite...


Ondulamos na superfície das águas...lunares luzes tocam-nos o rosto....


Somos seres luminescentes...distantes peixes que correm para o horizonte...


Cortam as marés...desembarcam em noites solitárias...


Como ridículas vagas que esperam salvação...


E enquanto sangramos todas as ondas do sentir... numa encantada vigília...


A paixão vai-nos queimando...e os mares assombrados expelem grãos de areia...


Como se nos atirassem estrelas vindas de uma profunda aflição!


 

Uma respiração caminha ao nosso lado...

 


Sobra-nos a morte deitada sobre as quilhas dos barcos...


Esqueceste o olhar...perdeste a história...os peixes agora temem os mares...


No oceano extingue-se a nossa luz...e tu ..tu que és a poeira fosforescente das marés...


Deixas-te ficar aí deitada...não contas a ninguém a fala das vagas...


Do tremeluzente escuro emanam os olhares fixos no fundo dos corpos...


O teu corpo é um mundo nu...um fio de seda abandonado sobre a areia...não te quero falar


Não te quero dizer que nada aconteceu...que a luz se deitou e eu desapareci...


Que tempo demora um corpo a desaparecer? Um corpo do tamanho da eternidade...


Uma respiração caminha ao nosso lado...mas não produz vapor...é escura...febril


E tu ficas aí como um caminho sem memória...uma insónia sem silêncio...perto de mim...


Reluz o teu rosto...um navio deita-se na praia..e nós...extinguimo-nos!


 

Apenas quero deslizar pela recordação do dia em que me sentei contigo na paisagem...

 


Pergunto pela luz que sopra da terra orvalhada


E pelo ar que se eleva do asfalto onde se escondem os recantos da memória


Vejo rostos empilhados como sentenças a crepitar nas luzes..sílfides fantasmagóricas


Ligeiros perfumes que fogem dos sótãos quentes...na rua as árvores apodrecem...


Sorrisos salgados abrasam os rostos..insectos em pose brincam nas folhas amarelecidas


Nem sei se é possível escutar o vento...ou conhecer a dor de um pássaro tardio


Tropeço na fantasia de uma esquina sombria...de uma sombra quente...a tua sombra...


Escuto o crepitar de marés onde o teu corpo se afogou...também eu me afoguei...


Também eu senti a tua pele no perfume das flores...soube então de ti...


E também soube que não iria atrás de ti...que te sumirias como uma folha sem sentido


Sem rota nem música...uma folha presa na garganta...embriagada de dor...


Recuso fazer qualquer gesto...recuso sentar-me na beira mar...quero esquecer as conchas


Apenas quero deslizar pela recordação do dia em que me sentei contigo na paisagem...


E nos fomos absorvendo...como quem bebe a beleza do entardecer...


 


 

Somos o breve instante da anarquia..


Ouve-se um suspiro nas trevas...silenciosos clarões ameaçam soltar-se da noite


Reluzem como diademas de cinza...fuligem perdida na vidraça da lua...


E por momentos sinto a existência de um despertar...como um Cavalo de Tróia baço


Vejo o silêncio..voam sacos plásticos abandonados...explodem cheiros de erva...


Crimes incompletos vestem-se de verde...a escuridão desperta sopros insondáveis


Há um strip tease de luzes vibrantes...manhosas..vazias...


Neva...debaixo da luminosidade preciosa de um candeeiro de ferro...


Botas pisam as ruas...garrafas de vidro partem-se de encontro aos lábios...bebem eternidades


A cidade parece um filme acetinado...bate como um coração que suspira...


E..no fundo de uma fachada em ruínas...estamos nós...


Somos o breve instante da anarquia...a balança que desperta a luz...a eternidade solitária!


 

Esqueci-me de ti quando contemplei o florescer dos lírios..


Como um beduíno sento-me na noite e passeio o olhar pelas estrelas...


Brilhos atravessam a escuridão..como missangas de luz palpitante..


Embaraçando-se na memória de mundos feitos às avessas...


Ausências esperam por mim...deflagro num jorro de sonos impermanentes...


Entro vagamente no reino dos sonhos...das insónias e das amarguras.


E Todas as marés me perdoam...todos os sorrisos desmaiam..


Esqueci-me de ti...esqueci-me de ti quando contemplei o florescer dos lírios..


Que crescem imperturbáveis perante o olhar de uma poeira ausente..


Ou dum grito que fere a crosta da terra!


 

Como uma ave que filtra a luz...


Fechei a porta como se fechasse o passado...recordações de olhos gastos...


Fiapos de pele suave desprendem-se das paredes...frestas onde posso ver os dias


Amanhã...vou ver como está a esperança...viajar por cima dos candeeiros...despertar o ar


Eléctricos indiferentes levam as palavras até ao mar...papéis rodopiam... varrem o chão


E no deslizar de cada passo ouve-se uma algazarra de luz...um lamento de suor...


Fechar os olhos...esquecer..ouvir as folhas pestanejar...é mesclar-se com a vida...


Formidável vida... que erra pelos nossos corpos..sai-nos pelas goelas...aloja-se na pele...


Visto um ridículo corpo feito de vento...uma memória em sépia...um lado oculto...


Não deixo que o mundo se sinta sozinho...que os relâmpagos se espraiem na rua...


Estou cá...como uma ave que filtra a luz...ou uma recordação que se quebra na sombra