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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como uma ave que filtra a luz...


Fechei a porta como se fechasse o passado...recordações de olhos gastos...


Fiapos de pele suave desprendem-se das paredes...frestas onde posso ver os dias


Amanhã...vou ver como está a esperança...viajar por cima dos candeeiros...despertar o ar


Eléctricos indiferentes levam as palavras até ao mar...papéis rodopiam... varrem o chão


E no deslizar de cada passo ouve-se uma algazarra de luz...um lamento de suor...


Fechar os olhos...esquecer..ouvir as folhas pestanejar...é mesclar-se com a vida...


Formidável vida... que erra pelos nossos corpos..sai-nos pelas goelas...aloja-se na pele...


Visto um ridículo corpo feito de vento...uma memória em sépia...um lado oculto...


Não deixo que o mundo se sinta sozinho...que os relâmpagos se espraiem na rua...


Estou cá...como uma ave que filtra a luz...ou uma recordação que se quebra na sombra


 

Caem folhas...o vazio existe!


Corre-me uma dormência pelo peito...vento sem sentido sopra nos triângulos das ruas


Dos céus escorrem folhas outonais...chãos onde os corpos se alimentam de prazer


As pernas escondem-se no vazio...os telefones despertam nos murmúrios


Tudo amanhece numa luz fantástica...tudo se absorve sob uns dedos ondulantes...vagos


Na rua a luz é forte...é impossível ver o quente da manhã...caem folhas...o vazio existe!


 

Debaixo da luminosidade preciosa de um candeeiro de ferro...


Ouve-se um suspiro nas trevas...silenciosos clarões ameaçam soltar-se da noite


Reluzem como diademas de cinza...fuligem perdida na vidraça da lua...


E por momentos sinto a existência de um despertar...como um Cavalo de Tróia baço


Vejo o silêncio..voam sacos plásticos abandonados...explodem cheiros de erva...


Crimes incompletos vestem-se de verde...a escuridão desperta sopros insondáveis


Há um strip tease de luzes vibrantes...manhosas..vazias...


Neva...debaixo da luminosidade preciosa de um candeeiro de ferro...


Botas pisam as ruas...garrafas de vidro partem-se de encontro aos lábios...bebem eternidades


A cidade parece um filme acetinado...bate como um coração que suspira...


E..no fundo de uma fachada em ruínas...estamos nós...


Somos o breve instante da anarquia...a balança que desperta a luz...a eternidade solitária!


 


 

Vi-te passar...vestias umas asas esplendorosas..


Digo-te que antes de ti a cor dos dias se afundava num desenho sem sentido


Que as manhãs eram neblinas espessas onde se enclausurava o tempo


Sólido túnel onde se decompunha o meu coração..alameda de inverno...


Que sob a abóbada azul onde me sentava se enchia de folhas amarelecidas


E depois de te olhar ...vi-te como se vestisses um manto transparente


Numa sala apinhada de recordações...volumosas recordações...de fotografias exaustas


Como se estivesse junto a uma maré diáfana...o meu rosto viajou encostada à vidraça...


Vi-te passar...vestias umas asas esplendorosas...suave seda envolta em sono...


Olhei...e reparei que a rua estava vazia...translúcida rua onde perdi o teu rasto...


E perguntei: que faço eu agora com estes olhos? Que convite posso fazer à solidão?


Desfaço-me em mil cores..ignoro o que aconteceu...


Mas o fim da tarde trouxe-me de volta ao sonho!


 

O teu corpo é uma divindade..

Dentro do espaçoso mundo das palavras escavo a vida..


Dentro de um outro tempo descubro eflorescências de sóis gretados


Caixas de correio onde não deixam mensagens..lágrimas de estáticas ausências..agouros


Padecimentos de olhares inflamados...divindades...o teu corpo é uma divindade...


É uma madrugada de rosto inclinado sobre um estilete abandonado...


Minuciosa vigília encarnando numa pálpebra de luz...adormeço...não sei definir o tempo


Parei na memória da poeira ausente...escorro agarrado a uma sombra...


Precária sombra...onde arrasto lentamente os gestos carinhosos...


E ouço-te na secura da língua...


Encontro-te na resina das noites..deito-me lado a lado com o silêncio...lentamente...


E espero que chegues!


 

Um grito sobe na noite...Estou feliz!

Nas sombras da poeira vejo silêncios incrustados nos gestos..


Das águas desprendem-se luminosos desmaios de folhas louras...


Gritos de sonos ascendem aos olhares...a luz pernoita no silêncio...


Os corpos secos exalam memórias...caminhos...texturas aromáticas


Línguas estáticas desmaiam na ausência...e um grito sobe na noite...


Estou feliz!


 

Toco o teu fulgor...retenho a tua mão...e na poeira das estrelas... vejo-me.. ausente!

 


 


 


Queria ser um tempo real...como se corresse em direcção a uma oblíqua madrugada


Onde uma luz sólida despertasse desejos de vigílias...


Ou lágrimas envelhecidas pernoitassem nos embaraços da manhã...


Luz e mundo desfeitos em sono...corpos deitados sobre paisagens feridas...esperança


Temos que nos recordar da esperança...


Conhecer-lhe todas as fissuras e gretas de onde ela brota...e digo-te que não te afastes


E digo-te que te queimes no grito que pernoita na memória..falo-te com carinho...


Deixa ficar a tua sombra na paisagem...resina de corpos...desmaios de luz..o mundo é teu


É teu o magnífico desejo de seres silêncio...de seres a crosta do tempo circular


Do teu sono nascem países...crescem húmus...esquecem-se abandonos...


Enrubesço...seco...o mundo aconchega-se a mim...e tu refugias-te na noite...refulges


És o arquipélago onde as lágrimas falam...triangulares pálpebras que se fecham à luz


Toco o teu fulgor...retenho a tua mão...e na poeira das estrelas... vejo-me.. ausente!


 


 

Flores desprendidas no abandono de misteriosos campos

 


Vogando num silêncio sólido...passo perante domínios tumulares...


Lírios apagados nas páginas dos livros dizem-me que as noites atravessam a escrita


E que no gatilho das palavras está a vida...


Nos carvalhos brilham os tons púrpura do Outono


E dos Infernos gregos erguem-se peixes moribundos...imitações de monstros...ossos contaminados


Faíscam loucuras nas flores feridas...imito a fala de uma página aguada...dou-te a mão


E guardarei no bolso todas os rumores das águas e dos ventos...para depois semear no Verão


Sei que em todas as direcções sibilam ciúmes...faíscas...textos que só a noite encontra


Omnipresentes passados falam das plumas que enfeitam as horas..fingem ser dunas brancas


Ou flores desprendidas no abandono de misteriosos campos...espelhos enfeitados com sílabas


Nas marinhas afogam-se os corações..perdem-se os rastos...as pétalas perdem o sentido


E apenas a noite se espelha numa cartilagem rosa...afogueada...magnífica...


Como um atravessar de alma em êxtase...


Ou um nu de Modigliani... que pernoita para além da paisagem adormecida!


 

Na angústia dos pássaros desmorona-se o amor..


Horas estranhas... corredores infindáveis...plasmáticas afeições


Transporto qualquer coisa delirante...um restolho que rói a alma...uma distância


Os pássaros explodem na voz do vento...irrompem pelas dunas geométricas..vagarosos


Das alturas caem avisos...répteis escondem-se na incandescência dos caminhos...


Areias indecisas escorrem pelas árvores...quebram-se de encontro aos troncos sólidos


Como feridas na boca..destinos indecisos procuram a luz...a loucura ofende..a explosão cega


Na distância os sentimentos encimam rostos pálidos..mãos rugosas acendem fósforos


A solidão irrompe por todas as águas...espelha-se nos corpos...e no vento eclodem tempestades


Há qualquer coisa na alma que fende os dias...que domina as monções...as mãos dão-se


E na angústia dos pássaros desmorona-se o amor..alastrando como misteriosas nuvens


Explodem barcos nos portos...a viagem é insuspeita...todos os amores dão à costa...


Das bocas indecisas escorrem olhares húmidos...doces tempestades de desejos


Monstros solares que se atravessam no domínio da loucura..é o amor súbito


Veneza está mesmo ali..as flores estão ali...semeadas de nomes...morrem de desejos


A última loucura dos peixes diz-me que da saliva nascem cidades..que no amor crescem desertos


Palmeiras desmoronadas...escaravelhos vermelhos...todas as coisas vivem nas feridas


Os leitos esperam que as aves irrompam numa dança solene...que a minha mão tatue o corpo


E que as sílabas se me incendeiem na voz...como uma cega haste que se desfaz em cinza...


Sigo no rasto de uma solidão incendiada..vaga...desfeita num espelho de flores !


 


 

Irei contigo...serei o teu acompanhante inacessível..


Navego nos murmúrios de um cântico... náufrago peixe de ventre rasgado...aquática noite


Dormem comigo vestígios de estrelas cadentes...metais talhados com sabres calcários


Céus enfurecidos abrem-se como ostras esburacadas...escorrem por entre os pulsos...


Iluminam a morte dos peixes...erguem-se como deuses...pensam como estrondos


Morrem como dedos cobertos de areia...já não querem desvendar segredos...


E caem das árvores apunhaladas...esquecidas...pedaços de tempo que ecoam nas salas vazias


Pés descalços que penetram nos interior da cidades..lembro-me de ti...esquecida num remoto espelho


Rasgando luas..fogueiras baças...o rio murmura algures...abraço-te...


Das pedras saem imaginários segredos...ouro metálico...desastre...inundação de verde


Enfurecidos peixes rondam pela humidade do coração...submersos numa saudade de cristal


Irei contigo...serei o teu acompanhante inacessível...o teu caos submerso...a tua lua calcária


E virás... como uma explosão de vento..como uma ave construída com águas revoltas...


Serás areias e coxas...deslumbrante ponte sobre o meu corpo imaginário...enfurecida insónia


E virás... caminhando sobre o meu desastre...acompanhando os meus vestígios …


Como uma saudade esculpida numa pedra morta...ou um náufrago descrente com a luz


E mesmo que das árvores mais altas se despenhem gargantas...


Que das flores mais temidas se rasguem gestos...serás sempre a minha luzidia estrela...


O meu rosto lunar...o meu resfolegar de manhã enevoada...onde se rasgam as luzes...


E as almas se unem!