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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Decido que o meu riso seja esquecido...


Caminho como uma dor quente sobre um pedaço de papel...incêndio assustado...riso


Longínquos lábios perguntam-me pelas lágrimas..


Pelo tempo das securas..invocam serenas tardes...vislumbram ventos...


Da memória incendiada soltam-se sedimentos de abelhas..bocas crispadas...ouro


Um dia regressaremos ao riso...cantaremos a derradeira terra...


Cortaremos a memória dos mortos pela raiz...cabelos zumbindo nos picos dos cardos


Seremos comissuras envoltas em dedos aquecidos...aves sem fundo nem fundamento


Nada veremos...porque apenas existe a planície vítrea cortada pelo voo plano das geadas


E eu...dedos enrolados num coração de seda...sinto a derradeira maresia escancarada nas dunas


E pergunto à seiva.... pela idade em que se apagam as letras...pergunto pelo meu nome...


Decido que o meu riso seja esquecido...e o meu cabelo seja gasto...e o meu rosto seja uma lâmina


Comovo-me com o ardente canto de um vento que não sopra...aflige-me a morte dos escorpiões


Ressuscito-me...alma errante numa terra sem horizonte...sereno vislumbrar de serpentes


Que pastam na interminável noite...como cegos lunares enrolados num nome esquecido!


 

Decido que o meu riso seja esquecido...


Caminho como uma dor quente sobre um pedaço de papel...incêndio assustado...riso


Longínquos lábios perguntam-me pelas lágrimas..


Pelo tempo das securas..invocam serenas tardes...vislumbram ventos...


Da memória incendiada soltam-se sedimentos de abelhas..bocas crispadas...ouro


Um dia regressaremos ao riso...cantaremos a derradeira terra...


Cortaremos a memória dos mortos pela raiz...cabelos zumbindo nos picos dos cardos


Seremos comissuras envoltas em dedos aquecidos...aves sem fundo nem fundamento


Nada veremos...porque apenas existe a planície vítrea cortada pelo voo plano das geadas


E eu...dedos enrolados num coração de seda...sinto a derradeira maresia escancarada nas dunas


E pergunto à seiva.... pela idade em que se apagam as letras...pergunto pelo meu nome...


Decido que o meu riso seja esquecido...e o meu cabelo seja gasto...e o meu rosto seja uma lâmina


Comovo-me com o ardente canto de um vento que não sopra...aflige-me a morte dos escorpiões


Ressuscito-me...alma errante numa terra sem horizonte...sereno vislumbrar de serpentes


Que pastam na interminável noite...como cegos lunares enrolados num nome esquecido!


 

Os lírios... no campo... esperam por nós!

 


Digo-te onde ficam os campos...digo-te as minhas razões...as pétalas são facas de cores garridas


Ferem a luz...são remotas praias onde vão ancorar os nossos dedos...


Castelos estrangulados pela noite...areia e maresia...medusa aflita presa no areal


Teremos sempre uma pequena lua na saudade...como um sorriso puro...ou um desejo perfumado


Sabes que o tempo muda as cidades...que extingue o canto do mar...na expansão de sinos cristalinos


Gravo no teu peito gargantas incendiadas...puros cantares de humildes algas...vinhos raros


Das minhas cordas vocais pendem cantos estrangulados...febres pisadas...nomes de coisas impuras


Deito-me junto ao misterioso canto dos búzios...visto-me de diáfanos bordados...sou mar


Encanto-me com o perfume das dunas..respiro noites assombrosas...recordo-te nas aves


Espalho estrelas pelos caminhos...como beijos de águas alegres...ou como frestas nos dias


Incêndios espalham-se pela noite...estrelas caem nas ruas... o entardecer é gélido


E nos fundos dos ventos ecoam beijos de crianças esfomeadas...rios do Tibete...Ganges esféricos


Iremos ao encontro do verão...beijaremos os fundos dos vales...seremos barcos perversos


Mas vamos construir a alegria com fomes bordadas em seda..uivos rápidos de mastros decadentes


E vamos saborear todas as flores primaveris...os lírios... no campo... esperam por nós!


 

E há uma luz de ouro...


Na noite fria e transparente escrevo asfalto..buraco..solidão...sangue deserto


Desenho mares..ruas lendárias...animais que bebem a seiva das esquinas...


Enterro a minha faca num lamento coberto de raízes..amargas horas...escuros becos


Luto com enigmáticas ervas...ecos saem da solidão das flores...cuspo pérolas...insónias


O cais cobre-se de luzes...deitam-se nos barcos..afundam-se em melancolias de bebedeiras


As ostras adormecem num buraco de sal...medos crescem nas aves...


E o teu ventre esquece-se de navegar..sobrevive apenas na inutilidade das luzes...


E há um sabor...um sabor a ais..a flores...a sono pressentido...a idade sem absoluto


E há uma luz de ouro...um eco de verão...uns dedos inchados de onde sopram marés...


Barcos lendários...caravelas líquidas...sal derramado sobre feridas sonoras...


E ímpetos de pão entrelaçado com vida...que persistem num acaso...


Que usam a trajectória florescente das flores...para pernoitarem na minha boca salgada!


 

Caminhar..envelhecer...arrancar do corpo todos os compromissos...viver...

Caminhamos como letras sobre páginas e páginas....infinitas páginas negras...sentenciais

Voltamos o olhar para a parede ensanguentada...empolgante...pintada com manchas...

Coágulos de mãos enrugadas...tectos esquecidos...vómitos...visões

Visões que não cabem dentro de nós...e as nossas portas e janelas não chegam para as albergar

Despejamo-las como pilhas de papel pardo...visões pardas...pardacentos odores...

Odores que fogem dos corpos..aflições de mundos interiores...fascinações enevoadas...

Quem temes? Que noite te chuviscou? Que pingos de água caíram dentro de ti?

Caminhar..envelhecer...arrancar do corpo todos os compromissos...viver...

 

Somos a fundação dos dias

 

Gravados nas mãos frias...exangues..estão os ouvidos das sementes

Incontroláveis sementes que se arrastam de cansaço em cansaço

pintamos paredes...vomitamos a tensão acumulada nas pedras...

Na escotilha por onde espreitam fantasmas...há bonança...há paredes sem tecto...há defuntos

Defuntos que dizem que temos a alma a descoberto... que somos a fundação dos dias

Que somos grãos suspensos...ingerminados... retiremo-nos!

 

Sei que não volto a ti...


Sei que não volto a ti...sei que não volto a colidir com o teu apocalipse


Rasgarei o chão coberto de fagulhas tresloucadas...apagarei o brilho que rasga a noite


E a água surgirá como uma chama esgazeada...recolher-me -ei...


Como uma visão descalça sobre uma língua que galopa num profundo espasmo


Soubesses tu como me afundo num instante de silêncio...


Como convoco uma adocicada melodia...como me cubro de chamas...


Soubesses tu como danço descalço sobre a perturbante visão do teu corpo


Como me encandeiam os teus olhos acesos...


Como as tuas chamas que flutuam num momento de eternidade me seduzem


Como se eu soubesse que o teu voltar é apenas um turvo momento...um carvão baço


Algo indefinível...como o renascimento de um sono profundo...sobre um chão abrasado!