Deslizo para dentro de mim...
Pintam-se as fachadas....uma nuvem abraça o mundo..distorcidos braços incendeiam-se
Das árvores sopram vagas de folhas..como homens caídos..sintéticos..desavindos
As cores absorvem a neblina..é outono..páro...o vento restolha..vagueio
São outras as minhas cores...é outro o meu sol...escuto o ruído ressequido das oliveiras
O mundo desconhece a minha melodia... a minha dança acrobática...a minha escala
Algures..na floresta vivem homens nus...outros vestem folhas...verdes
As aves agitam-se como melodias inacabadas...o céu espera...o verão adia as nuvens
Nos passeios soam violas...Bob Dylan renascido...a fala da vida a desfazer-se em vento
Nas margens do rio dançam pedaços de madeira...lixo de outros lugares
Mulheres passeiam...amarelecidas pelos dias procuram a grinalda...a máscara..a névoa
O vento esqueceu a poesia...o ruído rasteja pelo medo..acre..alma...fascínio
Sigo para dentro da chuva..acalmo a morte..arquejo perante os relâmpagos...não os temo
E sento-me sobre a minha brisa...como se fosse um punhal que corta o mundo
Deslizo para dentro de mim...descanso...enfim...tornei-me uma partícula de nada!