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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Sem destino ...


Vastas são as prisões que se erguem no escuro do pensamento


Peles suaves acariciam-nos os dedos...no ar os risos jorram como grandes aves ternurentas


Apreciamos a nostalgia de uma flor na janela de um prédio arruinado


Desaparecemos no vasto túnel onde a luz é uma explosão de negritude


Subimos depois como balões de ar quente...sempre em procura de uma lua injusta...


Sem destino ...


Pincelamos os pássaros com esguichos de recordações esvaecidas


E enchemos as mãos com dolorosas bermas de caminhos poeirentos...


Desabrochamos como pessoas suspensas num corpo alado...


Repetidamente...repetidamente...


Até emergirmos em centelhas de sonhos que voam em direcção a uma vidraça...


Por onde espreitamos as límpidas águas que se recortam nos céus sarapintados...


Por tonalidades de fulgurantes laranjas.... lapidares....


 

Ressoando nos corpos gastos!


Pardas tardes alongam-se sobre a liquidez dos dias..nos bosques dançam vestais...nuas


As sombras vibram com as águas que escorrem em espasmos de cansaço


É o Outono...a cosmicidade de um desejo deslumbrado..magia misturada com vento


Nada é real..eis aqui a originalidade do mundo...tudo é inexplicável..


Os desejos e até aquelas colinas bravias...são a nossa criação...


O decote para onde espreitamos a realidade...alongam-se os céus numa prece imaculada


As árvores adquirem as nossas almas...outros como nós dançam dentro delas..turvas


Dentro dos quartos os tectos desabam...as fotos perpetuam a tristeza...os corpos florescem


O nevoeiro é uma humidade que sopra sobre a poeira cinzenta...


Brancos lençóis suspensos na corda... enfeitam os caminhos dos que trabalham


Picam-lhes a alma como facas gigantescas...palavras vibram num inexplicável silêncio


Eis o lugar de onde vimos...eis o lugar onde o êxtase é uma luz inerte...


Ressoando nos corpos gastos!


 

Para longe...para bem longe...


Em tempos engoli a luz do silêncio...bebi essa luz branca da primavera...esse ar recusado


Rompi com a exactidão de um crepúsculo misterioso...agradeci às folhas dos plátanos


Que tingiam o chão de uma amarelo-dourado...


Não há limites para a profundidade desse silêncio opaco...dessa luz presa na penumbra


Tudo é novo...todos os rostos que engolem a luz...alimentam-se de Verões secos...


Reluzem na escuridão...bebem a vida presa por um fio de seda...é o céu que os chama


São as paredes que lhe tolhem os passos...o suor que escorre das bocas reluzentes


É o som reflectido num espelho baço...como se fossem cristais de músicas caladas...


 

Ardes como um acordar dentro do sol...


Dissolvem-se os dias na ratoeira dos segredos...desaparece a alma num incêndio escondido


A solidão é um hálito que as conchas exalam...farol fundido..balanço de vela no mar revolto


Cheiro de crucial liberdade onde o mundo se esvai...


Na alvura de um regaço que baloiça num apagado fim...


Talvez o mundo não nos queira...talvez a luz branca seja o ponto onde desaparecemos


Talvez o bando de aves que se fundem num céu oculto...não seja mais que o estalido da liberdade


Sentes o cheiro da solidão? Ardes numa dança de farol? Talvez não saibas de ti...mas...


Na tua alma vive um fim...uma força que baloiça num apetite de mundos encobertos


Ardes como um acordar dentro do sol...cresces e apagas toda a escuridão....


Irritas os pássaros que te apertam o coração...ferro fustigado que se vinga nas ruínas da cidade


Acorda..paira no centro de ti a sede das pedras..calcárias sementes de portos desconhecidos


A cinza dissolve o mundo..o ar adensa-se na placidez de uma janela fechada... em ti...


Eu...aperto os punhos contra o fundo rugoso do mar...dispo-me como uma máquina...


Sinto a linha do horizonte como se fosse o centro do futuro...


E durmo...como se não houvesse nada maior que eu!


 


 

Perdidas como bocas condenadas....


Na cidade a água dança nas ruas...chuva verde-adocicada que veste o êxtase do corpo


Vibram ninfas nos lagos..portas sobrepostas sem tempo nem luz...abertas...inertes...


E na efígie da imortalidade despedem-se as coisas sem tempo...


É a vastidão de um tempo em fogo...um lento campo de flores lilases...


Bastião carmesim da alma...que suplica perante as cintilantes luzes...por frágeis purezas...


E a cinza gira no ar como um inverno feito por mãos sem geometria...


Existimos simplesmente..como uma perda...ou como um espaço desocupado...


Nem a primavera com a suas diferentes luzes nos acende...


Nem os recifes se despedem das algas...chamam-nos com acenos de flores impossíveis


Cospem nos dedos negros de fuligem...


É ali que vivem as Nereidas...Perdidas como bocas condenadas....


 

Perdidas como bocas condenadas....


Na cidade a água dança nas ruas...chuva verde-adocicada que veste o êxtase do corpo


Vibram ninfas nos lagos..portas sobrepostas sem tempo nem luz...abertas...inertes...


E na efígie da imortalidade despedem-se as coisas sem tempo...


É a vastidão de um tempo em fogo...um lento campo de flores lilases...


Bastião carmesim da alma...que suplica perante as cintilantes luzes...por frágeis purezas...


E a cinza gira no ar como um inverno feito por mãos sem geometria...


Existimos simplesmente..como uma perda...ou como um espaço desocupado...


Nem a primavera com a suas diferentes luzes nos acende...


Nem os recifes se despedem das algas...chamam-nos com acenos de flores impossíveis


Cospem nos dedos negros de fuligem...


É ali que vivem as Nereidas...Perdidas como bocas condenadas....


 

XXVIIII


És a flecha que derruba o tempo nu...o olhar que avança por entre a orla da noite


és a despedida onde o corpo oscila...


e qualquer gesto teu é agora uma chave que sobe os degraus dessa noite...


até que o verão morra nos nossos lábios inocentes...


 

XXVIII


Antes que as árvores caiam...as pálpebras despejam lágrimas sobre as pedras


e as palavras enredam-se na proximidade do canto da toutinegra


entrelaçam-se no ardor das almas despidas...


mas tu...só precisas que as águas se renovem...e as pedras te escutem...


porque a tua cama é agora uma eternidade vacilante...


onde as palavras declinam ao sol pôr....


 

XXVII


Tardam os mundos...despedem-se as almas..as flecham ardem no pensamento


zumbidos de nuvens que avançam na auréola dos mundos


é esta a noite...são estes os olhos...


sempre a apontarem o caminho dos dedos...