Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Deslizo para dentro de mim...

 


Pintam-se as fachadas....uma nuvem abraça o mundo..distorcidos braços incendeiam-se


Das árvores sopram vagas de folhas..como homens caídos..sintéticos..desavindos


As cores absorvem a neblina..é outono..páro...o vento restolha..vagueio


São outras as minhas cores...é outro o meu sol...escuto o ruído ressequido das oliveiras


O mundo desconhece a minha melodia... a minha dança acrobática...a minha escala


Algures..na floresta vivem homens nus...outros vestem folhas...verdes


As aves agitam-se como melodias inacabadas...o céu espera...o verão adia as nuvens


Nos passeios soam violas...Bob Dylan renascido...a fala da vida a desfazer-se em vento


Nas margens do rio dançam pedaços de madeira...lixo de outros lugares


Mulheres passeiam...amarelecidas pelos dias procuram a grinalda...a máscara..a névoa


O vento esqueceu a poesia...o ruído rasteja pelo medo..acre..alma...fascínio


Sigo para dentro da chuva..acalmo a morte..arquejo perante os relâmpagos...não os temo


E sento-me sobre a minha brisa...como se fosse um punhal que corta o mundo


Deslizo para dentro de mim...descanso...enfim...tornei-me uma partícula de nada!


 


 

XXXV


Passou o vento pelo silêncio da vida...sempre em frente...segue


tu que escreves no vento nítidas órbitas...segue..sempre em frente


pela tua tua boca perpassam palavras..maravilhosas...sombrias...presas no começo de ontem


dorme...acreditas que no céu se planta a escuridão...nítida escuridão


luz e neve presa num galho de árvore decrépita...salta sobre todas as folhas..rebentos


rebentos que voltarão a ser folhas..bocas que voltarão a ser beijos...dias desfocados


do trigo rebenta a vida..dispersos grãos nas searas..sal dorido..sol cansado...amor


as tuas mãos tocam as minhas pálpebras...ansiosas pálpebras...voltear de andorinhas


continua...espalha a tua mão sobre mim..segura-me...sou o teu rebento...


sou a planta que vive na escuridão..sou o Outono e os dias..os lábios intocados


sou o orvalho que vive na luz...cacimba matinal...chuva deslizante


que apanho com as mãos voltadas para o vento...


 

XXXIV

 


Tu que escutas cotovia que resplandece na hora do desconsolo


e tens nos olhos os cacos do mundo para colar...e na pedra os escombros da eternidade


antes que chegue a manhã..procura o sentido do tempo marinho


procura as coisas que fazem os corações desabrochar...o alvo vermelho da inocência


procura o ar que te respira... a troca de olhares sob as folhas doiradas das tílias


depois podes avançar...nada te prende...porque a folhagem respira o teu nome...