Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

LVI


Rios percorridos por solitárias pulsações...futuros de redes que capturam pensamentos


através do que outrora nos pertenceu...seguimos o céu tardio...e o tédio reluzente


nenhuma memória nos percorre...nenhuma chaga nos consola...


e os troncos das árvores que bóiam no canto inflamado dos rostos


despedem-se dos destroços que incógnitos nos seguem...


 

LV


Espuma do norte intocado....solitários ciprestes ensombreados...


as pedras chegam à praia...e a melancolia é uma árvore sem pele


o espelho que reluz na negritude de um pensamento...é um destroço de dentes feridos


um canto que tarda na espessura instalada de um céu discreto..


ou uma praia-mar que desagua na memória reluzente das estrelas...


e surges como um jardim hesitante...um mastro melancólico..


és o matinal rio que se desfaz em sombras...e que transporta a terra intocada pela chuva


essa terra que carrega a água com sombras solitárias...e que se transforma em vida..


em memórias...como se fossem serpentes em chagas...


e tu fosses a incógnita ave que desponta na ferida lenhosa da fonte branca das pedras...


 

X


Adormecem-me as mãos...e não te posso tocar..pressinto-te apenas...


sou a resplandecente abelha que voa em volta de ti...


escavo-te com mãos inertes...perfumo o sono que finge dormir na seiva de cimento


e quero que o anoitecer se erga dentro de mim...que adormeça a meu lado...


como o abraço de um presságio que corre na água dos cactos...


 

IX


Prata... espuma... soltam-se as amarras


emergem vozes do profundo verde enclausurado


mergulho sobre a imagem que nada na planície


e pergunto-te: onde se escuta o canto da margem que vive só?


e tu respondes: escuta-o na claridade da mão que te afaga...


 


 


 

VIII


Na greta da harmonia escavo a minha pele


polígono raiado de laranja-vivo


semente embalsamada num casulo erguido ao sol


que desponta na profunda resina incendiada...


 

VII


Nuvem-olho...nuvem-pensamento...nuvem-pálpebra


há sempre pedras entrelaçadas nas mãos oscilantes


pela tua boca aureolam vacilantes árvores


cuja sombra derrubas com um olhar agradecido


 

XLVIII


No céu brilham safiras...os anjos vêm rebolar-se nos sonhos dos homens


sempre os homens sonharam com anjos...e sabem que eles não têm coração


que não emitem palavras...e que por detrás do seu nome está o que resta de nós...


 

XLVII


Quero a tua mão adormecida...sentida ...no branco florido dos lírios


quero percorrer a tua memória feita de mil cores desmaiadas...


entrego-te o veneno insípido que fará florir as amoreiras na beira da estrada


aquelas que alimentam as minhas memórias...e os bichos-da-seda na caixa de sapatos


vem...entrega o sorriso que vive por detrás das folhas tenras da tílias


o leito onde embalsamámos todas as vigílias...a floração do tempo extasiado


olha que as palavras se apagam...corroem-se na insónia que nos atravessa


e a terra? aquela terra possuída pela busca incessante dos nossos nomes


aquela terra grita...tacteia-nos...como se o amor fosse uma fresta fiel ao tempo...


sentes o receio das migalhas espalhadas no brilho alvar da nossa boca?


sim...já adormecemos como um nunca-mais...


ou como um dedo que aponta a vela que nos alumia...


 

LXXXIV


Amadurece a luz que desce pelas paredes de um mar onde dormem presságios


aquele mar que me embala como uma canoa onde flutuam restos de palavras


e vou crescendo..crescendo....


como algo não escrito sobre a mesa onde descanso a cabeça...


 


 

LXXXIII


Em cima de ti toda a cera de um tempo puxado por vazios iluminados...fulgor de mares


na tua boca o mundo cresce..adivinha a luz que escorre com a saliva


não há mais perder... nem restos de redes atiradas às praias...


somos a margem e o firmamento...chegas e dizes que a corrente já não te puxa


que os anéis já não te libertam...também eles se escoaram pelas frestas das profundezas


agora resta-te a glória de seres o duplo olhar que se esconde no teu nome.


 

LXXXII


Vês as palavras crescendo na boca do universo?


e a noite descendo como prata atirada pela luz de uns lábios perdidos em mil firmamentos?


e lá vens tu surgindo do tempo contado por relógios murmurantes...


onde os ponteiros-arestas se riem da glória espectacular do teu nome sem significado


mas..talvez no meio do vazio...uma barca que rema contra a luz... te responda.


 

VI


Barco-pássaro que recolhes o Outono nas mãos


deslizando por entre os beijos da folhagem sentida


fresco limiar de crisálida embalada nas asas


de um peixe que esvoaça na luz do pensamento.


 

V


No rio... a cinza da tarde derrama-se pelas margens


a tua água lavada num sopro de boca eloquente


molha a minha mão feita de ferrugens


enquanto o tempo desliza sobre a fresquidão dos segredos.


 

III


Pela fresta das jarras assomam viçosas primaveras


nos olhos das janelas perpetuam-se aves


caem flocos de verão cansado


e os sonhos falam-me de tardias almas-gémeas.