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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

LVII


Sei que a terra tem um eixo...imaginário..ermo...ilusão de homens interiores


sei que na flamejante esfera há tempo e palavras


há as palavras que quero..luminosas como bandeiras trespassadas por cantos irreais


e sei que os milagres se geram sob as sombras negras dos homens inclinados


futuros agradecidos...amontoados em sóis vulcânicos..


mas...quem sabe onde começam as ruas e as sinetas que geram os silêncios?


 

XVI


Na promessa de um fulgor vi a pilhagem emergir do mar


tirei as roupas...juro que só vi a minha nudez quando o outono chegou


e sei que jamais cantarei sobre as folhas mortas...porque o tempo não volta


nem as águas se turvam perante os olhos desmaiados...


se for domingo... separarei a luz em pequenos pedaços...como amigos que partem


mas..diz-me a verdade...


estamos abraçados? ou apenas nos esquecemos de nós sob o negro da noite?


 


 

XIII


Depressa...tragam-me os primeiros frios e as corolas das flores de barro


quero que o mundo cante sobre as lágrimas de um azul sazonal


e que da minha alma errante emerjam folhas de infinitas cores...fontes de fios de seda


desesperos de andorinhas sem primavera...


porque bem curto é o voo daquele que não vê o mar!


 

XXXIV

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 Paul-Klee (Fantasma esfarrapado) 1933


 


Passou o vento pelo silêncio da vida...sempre em frente...segue


tu que descreves nesse vento nítidas órbitas...segue..sempre em frente


pela tua boca perpassam palavras..maravilhosas...sombrias...


presas no começo de ontem.


 

XXXV

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Paul- Klee (Angustiado) 1934



Dormes e acreditas que no céu se planta a escuridão...nítida escuridão


luz e neve presa num galho de árvore decrépita e


que salta sobre todas as folhas..rebentos


rebentos que voltarão a ser folhas..bocas que voltarão a ser beijos...dias desfocados


do trigo rebenta a vida..dispersos grãos nas searas..sal dorido..sol cansado...amor


as tuas mãos tocam as minhas pálpebras...ansiosas pálpebras...voltear de andorinhas


continua...espalha a tua mão sobre mim..segura-me...sou o teu rebento...


sou a planta que vive na escuridão..sou o Outono e os dias..os lábios intocados


sou o orvalho que vive na luz...cacimba matinal...chuva deslizante


que apanho com as mãos voltadas para o vento...


 

XLVI


Olha a sílaba...o ponto...o branco...os olhos da viagem sem receio


adormecidos..apagados...os ombros encolhem-se nos anos nostálgicos


e o que nos resta...são as formas disformes de um tecto de cobre que nos acolhe


como uma tenra giesta de neve...perdida no sonho de uma primavera ansiada!


 

XI


Uma lágrima caía na mais límpida folha...a insone ira percorria os montes...


corroía as migalhas de um pão amassado com as nossas infâncias...e perguntava:


alguma vez viste uma cidade em pânico? Ou um livro incompleto? ou o estalido da escuridão?


mas a ponta dos teus dedos buscava o nome das coisas onde pousavam os incêndios...


e não havia resposta...


 

LIII

 


Instala-se a espuma diante do espelho solitário...reluzem pequenos rostos esculpidos na pedra


a luz do dia é apenas uma memória da noite...a nossa memória esquecida num barco à deriva


e na sombra o ar desliza pelas palavras...


como se nadasse num aquário tingido por cores sem nome...


 

LII


A ti..que contas todas as gotas existentes nas sombras.. e despes as árvores intocadas


a ti digo...salta..solitária memória descendo dos ciprestes cansados


e através de ti perpassam vidas em catadupa..estilhaços de terra ferida...


voando em todos os sentidos...


como corpos que se vestem com hesitantes raios matinais....


 

LI


Perseguimos a força que nos dobra os dentes...fonte de praia feita de mar...


que pensamentos trazes escondidos na música cravada no espelho melancólico?


que água te transportará aos rios de outrora?


 

L


Hesitam os cantos que outrora nos acompanharam...cravam-se nas tardias fontes escorreitas


serás tu a estrela que desce mansamente pela luz do dia? ou a pedra onde escrevemos a ferida destroçada?


as árvores perderam o sentido..e agora..navegam em barcos feitos com silenciadas chagas.


 

XLIX


No rio as serpentes lançam a sua sombra na espuma...carregam o futuro como uma pedra intocada


mas em ti...nascerão fontes e raios que a memória transporta pelas praias reluzentes


virás como um mastro tardio...


nadando na melancolia de um pensamento solitário.


 

LIV

 


Talvez as coisas sejam mesmo assim..talvez os nomes anunciem desejos


talvez as noites suspirem pelos destroços dos navios..


talvez a água se apaixone pelas enxárcias brancas dos mastros...


e as palavras procurem nas brumas matinais...as aves que viajam pelas constelações..