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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

XXIX


À meia-noite sobem as sombras insensíveis...dizem roda..tecto...falam de lugares


sabes que tudo o que sobe...desce..mas... e a alma? Sobe? Desce?


há também uma constelação que fica entre a sombra e a ondulação


um mar de palavras sem lugar...estrelas finas..


que cintilam vagarosas no cristal da verdade


e tu...que dizes? Sabes que a noite nada no dia...afoga-se na vida...


como mãos errantes que tocam na cegueira das sombras...


 

XXVII


Antes que as árvores caiam...as pálpebras despejam lágrimas sobre as pedras


e as palavras enredam-se na proximidade do canto da toutinegra


entrelaçam-se no ardor das almas despidas...


mas tu...só precisas que as águas se renovem...e as pedras te escutem...


porque a tua cama é agora uma eternidade vacilante...


onde as palavras declinam com o pôr-do-sol....


 

XXV


E tu ...plantada numa palavra que fala da folhagem dos corações...chão e Outono...nudez


e tu ...que deslizas num esvoaçar de luz que cai da despensa do dia


e tu ...mão que afagas o mundo num bater de asas tardias


sim tu...que olhas o que te rodeia como se fosses a testemunha de um crime


ou o olhar que sabe que a morte sara todas as feridas...


 

XXIV


Nos olhos nostálgicos de uma flor adormecida vive a luz do entardecer


escutamos o embalar que desliza pelos olhares de um fio de luz... segredamos:


que pensamentos fulguram na noite em que as searas se despem?


que flechas nos atingem o âmago? Que buscam em nós as almas despidas?


despedimo-nos dos dias...dispensamo-los...é tarde...


e aquilo que se abre em nós...


é apenas um esvoaçar de corvos sob o restolho do céu...


 

LX


Ainda existe a noite...e nas cavernas onde se amontoa o canto do mar


a rocha nua imita o corpo da sereia...


que mais não é que uma pergunta sem resposta


mas...dos teus joelhos brancos perfurados...saem tempos róseos


como se fossem sacrifícios a uma maré onde a lua permanece intacta...


 

LIX


Vejo um sol da altura de um pensamento...um abismo negro onde a realidade se afunda


agarro-me a essa profundidade com a ternura de um milagre


e a ilusão desce dos pólos aquáticos...como um degelo de sons em transição


igual às criaturas que emergem da inundada futilidade do tempo...


 

XLVIII


Respira na fonte a gorgeante água


o sol brilha no rio de águas esbatidas


e eu...mergulho no princípio de mim...


 

XLII

 


Vento da vida...leito da neve...luz da memória fiel às palavras que esperam na garganta


quando o tempo nos atravessa e o inverno nos ampara...


e tudo acaba numa vela de mel...


 


 

XLIV


Rente às palavras segue o amor que floresceu nas nossas mãos...


a linha de cristal que ceifa todos os desconsolos...o aroma dos tempos recuados


o regresso do vento que corre disparado em direcção ao Verão


cheira a hortelã e o céu resplandece no soslaio da tarde...


 

XLIII


A morte ensurdece...vemos nela o fundo do lago resplandecente


o colapso de uma parte de nós...a vingança de um tempo disperso pelos poros


mas a respiração profunda rebenta no momento da verdade..


e a esse respirar entregamos o veneno que nos sobra..


imolados no vasto altar que as flores destapam...