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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Enquanto os nossos corpos se afastam


Percorro a cidade e afasto-me das colinas que a vida usa para esconder as recordações


A brisa é uma máscara que o fascínio expõe aos meus olhos...a voz rastejante do vento


Acres vozes...grandes nuvens..o chão é um quadro negro...uma mescla de passos e música


Todos os sopros são caminhos sem norte..braços angelicais a abraçarem guitarras tristes


De longe vêm os tempos sujos...o mundo mancha o deslizar das coisas...sinos de embalar


Alguém se baba pelas esquinas..a morte está a leste...a rota existe na recordação


Anjos assassinados... manchados de sangue... imploram pela costa acobreada do entardecer


Querem que escutemos os punhais que varrem o ar...as liliputianas mensagens que repicam na sombra


Os distantes abraços de ridículas ervas-vida...arquejantes como folhas trespassadas por relâmpagos


Enquanto os nossos corpos se afastam..cada vez mais...sempre mais... como a luz...


Ou como fragmentos de areia espalhados pelo universo!


 

Impermanente...


Corre a tua ausência pela claridade da tua fotografia


Nos cantos corroídos da moldura vejo abstractas manchas descoloridas


E escrevo com gestos de dedos inacessíveis...


Escapo-me pelas chávenas de café que mancham as páginas brancas onde escrevo


Sou eu estes gestos que constroem palavras?


Ou serei apenas o vazio esboroado de uma tarde rubra?


Tudo está ao meu alcance...o jardim...o rio pacífico que calmamente se vai embora


Sinto-me sábio...sei que o dia vai passar como se fosse um sinal de ontem


Ou como o texto incandescente que se levanta sobre o tampo da mesa


E fica gravado no papel como um hieróglifo desenhado em labirínticas pedras


Pouco mais conta..a tarde é agora um corpo feito de mundos


Onde as aranhas se passeiam sobre teias manchadas de pó....


E onde tu corres em direcção a uma luz vazia...impermanente...


 


 

A água lava-nos


Diz-me a fúria que a tua boca me fitou com sabor a salmoura


Que o teu dormir me acordou para o teu corpo naufragado..sem sonho nem grito


Que as águas subiram até às palavras e depois entristeceram...envoltas em sombras apagadas


Luas de prata espelham a violência das sepulturas...poucas palavras se dizem...


Poucos cânticos se podem entoar...a noite roça-nos como seda...pura seda


A água lava-nos como risos sem gosto...dormimos...fechados na ternura de um tempo inseguro


Do qual apenas possuímos a lenta agonia da paixão... a chave...o fogo...a destruição....


 


 

A face superficial dos lagos...


Sei perfeitamente que à beira-mar há homens felizes...sei porque escuto os seus olhares


Sei porque cruzo esses templos de mistério onde as ilhas se formam...e os dedos se embriagam


Sei porque nos rostos onde a palidez se instala...as noites se dilaceram em interrogações


Que luzes esvoaçam na tempestade melancólica dos dedos?


Que mãos duras derrubam sinais-memórias que dormem sob sinistros tectos?


Sei onde posso encontrar a ilha perdida..o remanso escondido do sangue...


A imobilidade da tempestade entrelaçada no corpo solitários das águas


Conheço as unhas que arranham a imobilidade de uma alma inalcansável


Tenho sobre mim todas as tempestades...todos os sismos...possuo a felicidade dos insectos


Mas mesmo que atravesse todas as memórias...mesmo a que luz atinja a minha velocidade


Jamais amarei a face superficial dos lagos...a limpidez da sua resplandecência...


Porque eu fujo como se fosse a divisão de um tempo infinito...