Falaremos ao fundo dos lagos...
De cidade em cidade procuraremos as sombras da Grécia antiga
Esbeltas imagens de deuses sonolentos...perfis de miragens...o trono de Jasão
Argonautas de leite e sangue de víbora
Em Cólquida o amor aumenta o frenesim do dragão
A solidão deixa um rasto de indiferença nas madrugadas
Medeia espanta os insectos do deserto...há uma erecção de luz
A ambrósia contenta o Olimpo...e o pesadelo atravessa todos os rastos
Quando a madrugada nos ofuscar...tocaremos nessa luz com o nosso sal
Falaremos ao fundo dos lagos...onde insanos linhos tecem a nossa nostalgia
Buscaremos a crueldade dos instrumentos de tortura
Inventaremos receios e empalaremos a luz
As pérolas deixarão as conchas...para depois amarelecerem na erva sorumbática
Lunares outonos desfazer-se-ão em graníticas Ítacas
As flores selvagens despertarão no fogo das bocas
O nosso corpo extravia-se no canto das aves
E regressamos ao nosso jardim..com o rigor de quem cumpre um desejo
Que até as insensíveis trompetas-de-anjo nos perdoarão as mágoas.