Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

E te revelem o segredo dos oásis mais remotos


Carregas os dias como pedras latejantes...não precisas dos espaços do silêncio


Raras são as ilhas que te visitam a lembrança...e os animais que te acariciam


És uma cor ...um grão correndo pela estrada estelar


Quem se lembrará de ti no dia em adormeceres junto às aves do paraíso?


Quem estremecerá ao ouvir a tua voz ecoando num vazio raro?


E por cada montanha..por cada rio..por cada remorso que sintas


As ruas e os pássaros serão a tua ausência


E mesmo que Delfos te visite e te diga a Verdade


E as serpentes se vistam de estrelas rubras


E te revelem o segredo dos oásis mais remotos


Talvez o agudo aparo feito de plantas raras


Escreva sobre o papiro castanho...


Que já te esqueci....


 

Ao ritmo de um coração fascinado...

 


Quantas vezes procurei a companhia solitária dos pássaros?


Quantas vezes morri dentro de uma pedra?


Quantas vezes despenteei o cume raro das montanhas?


Agora já sei que dentro de mim vivem as galáxias e a música


Agora sei que em Veneza.. nas gôndolas se passeiam sonhos obsessivos


Sei porque me lembro de ti quando eras uma voz na praia do Adriático


E passeávamos a insónia no Grande Canal


E já sabia que a saudade vinha nas ondas solitárias do mar


Vogando pelas plantas aquáticas..naufragando junto ao espelho inexistente


Depois consolei-me com a chuva..estremeci quando levantei os olhos para a cidade


E vi que a rubra claridade da tarde nos abandonava


Ao ritmo de um coração fascinado...


Pela  memória de um tempo intocável.


 

As ondas riam com um som oco...


As ondas riam com um som oco...espumas agitavam os dedos..tingiam o ar de riscos brancos


As nuvens ardiam como fornalhas ao entardecer...sentei-me na pedra abaulada do cais


A luz cruzava o ar...passava rente ao escuro das folhas apodrecidas...


Ecoava na nostalgia de um trompete...fundindo-se num presente de cores pálidas


Onde tu te aconchegavas ...para lá dum tempo quieto


Mascarado nas espirais de um fogo imenso...ateado pelas chamas de um caos enfurecido...


Ou de uma prisão trémula onde nos agarrávamos...para não ardermos!


 

É a tua ausência que me faz inventar-te.


Há uma lembrança cristalizada em mim


Algo que não sei se perdi


Uma festa? Um sol rodando em volta dos meus olhos?


Talvez seja a saudade de uma praia deserta..um cansaço ou um fim de dia


Talvez seja um peito de mulher...desnudado no canto de um pássaro matinal


Há uma claridade ofuscante...um cabelo solto sobre o meu peito


Carrocel de fantasia pura...não sei se quero que existas


Só sei que é a tua ausência que me faz inventar-te.


 

Nada nos divide...

 


Em volta de nós as palmeiras serenas


Tâmaras secretas vêm visitar-nos...bebêmo-las como se não o fossem


Não há sombras no silêncio e o sol é uma luz roxa..fixa em nós


Há uma rectidão de linhas paralelas...um saber que ali estamos sós


Água e areia..claridade...na brancura da cal


E a faixa azul das casas rasteiras aponta o céu


Nada nos divide...somos sublimes.


 


 

Quantos pingos de chuva estão submersos no mar?


Não toco no fantasma que me olha no espelho...à minha volta ardem tochas no espaço


Negras nuvens agarram-se ao luar...fontes imaginárias de um céu gasto


Quantos pingos de chuva estão submersos no mar?


Quantas explosões de luz eclodem na rebentação das ondas?


O soalho de madeira gasta transforma-se em risos que se agarram às paredes


Entra o aroma das marés pela janela do quarto...


Um círculo de luz acobreada foge ruidosamente


Há tições espalhados no chão...solenes risos atómicos explodem nas nossas cabeças


Tudo corre em direcção a um ponto imaginário...


E tal como acontece aos pescadores naufragados


O tempo arrefece dentro de um copo de vinho...o silêncio é absoluto...


A maresia arde nos olhos...e nós errantes seres... seguimos dentro de uma luz dourada...


A noite transformou-se num espaço sem espaço para o tempo...


Em todos os quartos rebentam desesperos...amores enraivecidos...explosões de sémen


E lá fora..o mundo desapareceu em nós


 

Os animais também falam


Gosto de pastores, o pastor tem uma filosofia própria, conhece o seu gado e fala com ele . Por vezes passa um pastor junto à minha casa,(vivo no campo), e enquanto o gado pasta ficamos à conversa e há sempre algo a reter da suas palavras. Este fim-se-semana lá apareceu ele com as cabras e as ovelhas, e enquanto conversávamos os animais afastaram-se, ele olhou, assobiou, fez um gesto largo com o braço e os animais voltaram para trás. Aquilo impressionou-me e fiquei a pensar como é que os animais sabiam que era para voltarem para trás, aquilo foi uma demonstração de inteligência e continuando a conversa sobre os animais, a páginas tantas ele diz-me: " sabe que os animais também falam, a gente é que não percebe o que eles dizem, mas eles percebem a gente."