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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Disfarçado de poesia...

Era preciso conhecer todas as palavras para te dizer que elas nada querem dizer


Que em todas as latitudes se bebe um tempo escasso


Que o poço do tempo está mesmo ali ao pé da memória


Ali onde as árvores frondosas acolhem aves metálicas


Debruço-me sobre esse poço feito de tempo


O meu corpo atravessa todas as imagens escondidas no meu espírito


Atravesso a rua...escorro como uma chuva que deriva pelo passeio


Metade de mim é uma cicatriz...um livro incógnito...desconhecido


Por mais que te descreva o fascínio de um tempo sem vestígios de mim


Não posso..sou um rosto sem entranhas..disfarçado de poesia...


 


 

Breviário III

 


Espero que a madrugada se erga por detrás das colinas


vejo o vento que empresta a sua força às vagas


e sei que tenho um dia inteiro para caminhar pelo sonho adentro.


 

Semeia aves que luzem como paixões...

E porque tens um mar que pulsa nas tuas mãos coladas em prece


e porque elas se debruçam sobre as obscuras neblinas da cidade


Sobre elas caem os meus olhos...como navios que se baloiçam na doca seca


Há esquinas onde as medusas se escondem..perdidas na confusão das aves solitárias


Porque a lucidez é uma imagem dormindo sobre um corpo escondido


E a sombra é uma maneira de tactear o teu corpo..


Que sentado sob a frondosa árvore de veludo


Semeia aves que luzem como paixões...


E que ardem na alucinação do entardecer.


 


 

O silêncio que invade a tua ausência


Escuto a asfixia deslumbrada de um fio da tua voz


Sei que navegar é olhar-te na alma...e dizer-te que te sinto para além da distância


Tudo acontece por acaso..a respiração...a memória de uma penumbra


E até o fundo de um tempo deitado sobre a vigília


Eu sou aquele que fala através do espelho dos olhos..


Espreguiçando-me perdidamente nos céus cobertos de anjos


E porque só assim te posso contar os dias que me perseguem


Porque só assim posso voltar aos tempos esquecidos


Tempos envoltos em espessas neblinas...gaze ondulante de dias felizes


E sei que o sonho é um desvio do crepúsculo..uma cidade sem caminhos


Perdida no frio das recordações.


Poderás voltar ao fim da rua onde nos encontrávamos?


Navegar é uma distância que pertence aos rostos feitos de vento


É como um coração que se espreguiça no sono de ontem


Eu apenas quero ser a maresia que te faz semicerrar os olhos


E este silêncio que invade a tua ausência...é agora o meu respirar.


 

E do teu peito saía o meu destino em golfadas de luz...


Enquanto a cidade esculpia as águas despidas..tu beijavas-me com os olhos cintilantes


As tuas mãos giravam como ventos geométricos...percorriam-me os cabelos frios


E eu via na tua boca recifes cobertos de espuma...dentes brancos...céus abertos


Era ali que os pensamentos tomavam forma...e se perdiam as razões


Como se fossem ordenadas por um pontilhista cuja memória descarrilou...abstracções


Nostálgicas memórias de uma primavera escura...flores soltando gritos de guerra...


E do teu peito saía o meu destino em golfadas de luz...cegava-me essa luz...


E a minha alma era um balão de ar quente elevando-se em todas as direcções...perdida