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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Agarro o vento..

Sob a face fria da estátua cresce a expressão do destino


Iluminura de mortos a cintilar no escuro dos segredos


Inquieto-me..nunca saí do meu sono...nunca me apeei do teu corpo


Subo à tua gávea e imagino metamorfoses de estrelas


Os barbitúricos adormecem nos frascos perdidos na noite


São a tempestade das estátuas silvestres


São o corroer das terras distantes...a velhice das insónias


E eu que sou tão nítido como um passado fustigado por ecos


Agarro o vento..a vida..a tempestade..


E escrevo por cima do abandono das manhãs envoltas em lugares brancos


E nítidas partes de mim...falam-me da ignorância dos mares.


 


 

O céu é um jardim de segredos perdidos

A areia molhada apaga-se nas pegadas das aves


A serpente marinha contempla o estremecer dos corpos lineares


O céu é um jardim de segredos perdidos


As medusas carregam nos tendões a mensagem de uma estrela


Avisto um marinheiro dentro de uma garrafa de vidro


Transporta em si a divisão atómica dos espaços


Um quadro de Miró nasce nas costas de um tigre


A realidade flutua numa roda dentada


E o suicídio é a espera do vento..ansiando pela imagem do céu


Enquanto os goivos esvoaçam pela cintilação de uma nuvem.


 

E nas nossas mãos nasçam insónias

E do rio que perpassa sob a pele resta apenas a ponte levadiça


A água levou a canção perdida...turvou-se a sombra larga dos ulmeiros


O que senti...formava fragmentos de coisa nenhuma


Mas agora posso-te dizer o que esqueci ...


Nos portos onde o véu roxo da neblina habitou


Esqueci o estremecimento do crepúsculo rente ao meu corpo


A música líquida dos mares..o sussurro do sangue


As horas ressuscitadas das ilhas envoltas em sobras de nada


Sonho dentro do sonho..corpo espreguiçando-se dentro de outro corpo


O horizonte tem palpitações de cidades perdidas


Mostra as manchas das cartas inscritas nos astros


Amanhece...e a minha pele estremece com ausência do teu passado


Espreguiço-me..flutuo..e coloco ao pescoço meu amuleto feito de chuva


Conta-gotas onde os silêncios cúmplices se instalaram


Até que o amanhecer das planícies desça ao nosso passado


E nas nossas mãos nasçam insónias


Esgueirando-se por entre o eco do nosso sono.


 

Talvez um dia ao acordar..

Uma noite...quando o fechar de olhos era apenas um instinto


Desci dos segundos que foram o meu nome


E recordei-me da respiração do teu rosto feliz


Perdi a memória dessa noite num amanhecer


Em que o peso da folha de papel vazia...refulgia na minha solidão


Hoje...escavo o buraco onde a tua presença se despiu


Levanto essa poeira com olhos de criança tatuada


E sei que uma estrela...com o peso da minha idade


Sulca um olhar anterior a mim


Talvez um dia ao acordar..recupere na candura de um riacho que me atravessa


O meu rosto...e a tua idade...


Então recomeçará o nosso regresso às folhas das árvores


E saberei então o teu nome...


 

Somos filhos do Nada

 


 


Todos os homens nascem da mesma fornalha e do mesmo molde e são feitos com os mesmos materiais, são portanto iguais no formato, no entanto a sociedade valoriza o que tem mais poder, o que mais oprime e o que mais manda, em detrimento do mais bondoso, do que mais distribui, do que mais se equipara aos seus irmãos. E porque vivemos nesta sociedade absurda, onde os sentimentos são impostos pelas regras do ter e que se assim não for o mundo desaba. A matéria de que somos feitos veio dos confins do Universo, provém de um tempo onde não existia nem maldade, nem dinheiro nem ambições, portanto, somos   filhos do Nada, e não queremos perceber que para lá voltaremos.


 

A fala das vagas...


Sobra-nos a morte deitada sobre as quilhas dos barcos...


Esqueceste o olhar...perdeste a história...os peixes agora temem os mares...


No oceano extingue-se a nossa luz...e tu ..tu que és a poeira incandescente das marés...


Deixas-te ficar aí deitada...e não contas a ninguém a fala das vagas...