Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Deixa que a serenidade da tua carícia se quebre na minha alma

 


Há uma labareda que queima o vento


Um vapor de cores geladas adeja na mansidão do voo das andorinhas


O sonho tece as manhãs com alamedas desfolhadas


Penas suaves desprendem-se das flores do sonho


Subimos pela palidez de Março..vamos ao encontro do sol e da espuma


Mas há um gelo que queima a luz nua das manhãs


Um vapor de onde emergem rosas frescas


Há frémitos a crescer nos sonhos...palavras a nascer nos versos


Barcos que cantam em pleno dia


Escândalo de jornais onde a banalidade treme de prazer


Ai esta máscara a acordar-me para as flores entreabertas


Ai este flagelo das vozes irreais


Delírios de felicidade aquecem o teu cheiro...aquele que ficou nas minhas mãos


Vamos acender o nosso candeeiro..


Vamos atear o nosso sol despido da pálida neve da ilusão


Por favor..deixa que a serenidade da tua carícia se quebre na minha alma


Como um aflorar de bosques caprichosos


Onde a melancolia morre na tarde rasa de água.


 


 

É fértil o olhar que não nos define

 


Hoje as aves visitaram o meu oásis


Falaram-me de magias e de cobras-de-água


Disseram-me que o peso dos rios desponta na pele da noite


Que peixes vermelhos se perpetuam no solário das ausências


E que de manhã visitaremos os bosques de escritas delicadas


Onde as palavras adquirem a nobreza das paisagens


É fértil o olhar que não nos define


Como também o são os dragões a irromper da irrealidade


O sol ensina o caminho aos frutos silvestres...mostra-lhes a beleza do néctar


Assim o tempo nos roa o veludo da voz interrompida por soluços


Partimos..e nas nossas mãos crescem dias demorados


Olhamos a fuga de tudo o que acumulámos na memória


Esquecemos o mágico feitiço dos pomares


Onde as laranjeiras se encantam pela delicada aranha


Teias feitas de lodo interrompem o nosso caminho


Perdemo-nos na milenar manhã das paisagens nacaradas


Somos agora o que já não somos...


Conhecemos os fragmentos dos nossos minutos


Mas nunca o ouro dos dias se derramará sobre a nossa pele despojada


Porque o ouro dos dias se perde nas paisagens que se tecem na argila fresca


Nesse barro que amassaremos na nossa fome de pedras preciosas


Meditando sobre o estará para lá das montanhas desconhecidas.


 


 

Breviário XIV

Vejo espelhado no céu o voar das pombas brancas que nos vêm absorver


Sei que os barcos deslizam ao longo dos canais


Porque na candura de um céu lívido...


A rósea aparição do dia desperta nas brumas dos anjos


A campainha dos desejos insanos.


 


 

A hera

01-05-2016 010.jpg


 


A hera cobre-me as paredes da casa..


Cobre-me o silêncio como se fosse a nitidez da noite


A hera arrasta-me para dentro da sua voz...fustiga-me a cama desfeita


Desliza pelas paredes..acolhe as osgas..abre os braços


Nenhuma voz se ergue perante a hera


A hera é a fissura dos dias agarrados a mim


É o som da terra subindo pelas minhas paredes...


É o meu sono profundo...a minha pertença a uma terra distante


É o meu sonho..a minha água...os meus braços...


A hera sou eu agarrando-me ao corpo dos dias


É o fogo de um passado colado ao chão do teu corpo


A hera é o silêncio onde encaro o seio das fotos antigas


Gosto de olhá-la e de me recordar de mim mesmo...


Até que o meu grito ecoe na deriva do sonho


E sinta que pertenço a uma paixão..


Transportada nas asas de uma borboleta.