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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Palavras com sabor a sonhos apagados.

Tenho ciúmes do horizonte e das ruínas onde escrevi o meu caminho


Lembro-me do meu fundo..daquele poço sem regresso onde a sombra acorda


Sou aquele sobreiro sobranceiro à planície dourada


E não quero ser comido pelos vermes que mergulham na terra


Tudo será como se navios feitos de luares abocanhassem os instantes da minha morte


A minha alma demolir-se-à em mim...caminharei pelo meu silêncio


Serei o meu deserto...


Não espero ninguém nem ninguém virá comigo


Serei o sem-regresso


O reflexo de um tempo a transbordar de almas


Poeira para os abutres estelares...vento que incendeia oásis


Branco voo de areia solitária...


A cintilação da lâmina sobre a alma imperturbável


A febre que tece a teia da aranha


Sob a latada de buganvílias vermelho-sangue


Avisto em mim as ruas solitárias...pracetas de lodo...fogos desordenados


Sonâmbula ...a claridade das horas desce a escada


A doce aurora deixa entrar o passado...é o agora


E um vento marinho escreve em mim...


Palavras com sabor a sonhos apagados.


 


 

Um outro segredo...

Fomos impelidos por esses jardins onde se consome o aroma das paixões


Perfumes de sentimentos oscilantes...felizes jardins suspensos


Sei que o amanhã se quebrará num róseo amanhecer


Sei que vestimos o fogo do girassol..atámos ao corpo o rio caudaloso


E descemos as matinais ardências na jangada feita com as horas


A cada passo erguemos os olhos ardentes


Percebemos que as estradas se cruzam com os limos dos lagos


Há que ver a rosácea acesa no rodopiante baile das estrelas


Só depois podemos erguer-nos no vácuo dos olhos fechados


Ou acordar todas as flores que esvoaçam no vazio


Límpidos como gelos cristalizados...


Passearemos tranquilos pelos bálsamos da sede


Onde os delírios dos espelhos arrefecidos por um outro olhar


Suportam o vazio de sermos apenas dois corpos


Irreparavelmente dois corpos...dentro de uma vontade de chorar


Como se a exuberante begónia nos olhasse de dentro de si


E nós fôssemos a fotografia do sonho


Dentro da ausência imersa na sombra de um abismo


Que se quebra junto à janela onde o cais aporta


E a vida segue nos barcos encalhados no lodo da margem...


Até nos assolar o desejo de uma outra ilha


De um outro segredo...


De um outro sonho que ecoa na vertiginosa miragem


Onde um arrepio desliza pela nossa alma..vibrando no prazer da noite.


 


 

Breviário XV

 


Um dia veremos que o tempo é como um berço onde embalámos as nossas esperanças


e que as tardes e manhãs em que acreditavamos..eram a memória da absoluta astúcia das horas... mas nessa altura já submersos no desengano... resta-nos a poesia da dor universal.


 

Abro as mãos

Abro as mãos..abandono a penumbra do sonho


Terei eu confundido a vida com os andrajos de outras emoções?


Tenho pena que as fotografias escondam os nossos sussurros


Sei que ouço a tua voz vogando em marés que chegam até nós


Cansa-me este vazio...este frio que se aconchega a mim


Como se fosse uma paixão exausta...ou o canto arrepiado do frio


Enenvoados dias que confundiram a ardência que ateou outro fogo


Um fogo que só existiu dentro de um murmúrio


Porque o mapa da nossa vida está vazio...não há rota para as recordações


Apenas um profundo sono ainda nos acorda.


 

Ensaio sobre a solidão


A solidão é este silêncio que nunca se apaga.O vento ecoando surdamente pela noite.


A luz nocturna a corroer a vida.Nada nos fala do passado...o passado é agora o seio meio escondido do silêncio. É errância da insónia arrastando-se pela casa. talvez se te escrevesse deitado sobre uma tempestade...talvez assim tu lembrasses da terra distante onde eu agora olho o mar. Mas há uma espera..uns olhos caídos sobre a noite...uma lua pesada sempre presente. Dizer que há mais países e mais sonhos..é amar outros portos... é desconhecer o lugar onde estamos. Olho as paredes brancas onde desenhei mãos abertas...sonho que nenhuma voz se ergue da linha da tua luz..nenhum som infinitamente minúsculo me acorda...desci ao asfalto da manhã...acordei deitado sobre a tua última carta.