Já não há desespero
No Rossio dormem mendigos ao relento
Atravessam a noite deitados sobre os bicos dos pés
Já não há desespero
Os seus ossos habituaram-se ao frio
Constroem agora imagens de cães solitários
Pairam sobre a poeira das estrelas
Não há um sentido onde a sua alma se aconchegue
Esperam pelo fogo da manhã..ausentes de si
Esconderam os sonhos num corpo que abandonaram
Apagam-se em cantos perturbados pela febre
Olham a ausência e o delírio
Aspiram as imagens de felicidade
Desconstroem a Avenida da Liberdade
E adormecem num caixão de salitre.
Estão suspensos do último fôlego
Cumprem dentro de si a promessa
De um turbilhão etéreo que lhes destrói o destino
Talvez uma noite desça sobre a sua mão
Talvez uma noite quente os acaricie
Mas na chuva que escorre da lassidão dos céus
Vem descrita a morada dos deuses
Que os dia os acompanharão.