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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

É Novembro... e a sombra dos lírios derrama-se sobre a campa.

Fotografia0064.jpg

 

Há um olhar terno na fotografia debotada

Um riso que hesita em ser riso

Uma gargalhada encoberta no escuro dos olhos

Talvez ela nem quisesse rir

Talvez ela apenas quisesse acender o desejo de sorrir

Como a luz de uma vela na fresta da janela

Tremeluz nos cantos da boca uma pequena ruga

Esquecimento e devoção giram em volta da moldura

Ais sobem pelo peito dos monólogos

As lágrimas formam represas nos olhos em fim de estação

A fotografia é agora uma natureza-morta

Uma lembrança ajoelhada sobre a parede branca

É Novembro... e a sombra dos lírios derrama-se sobre a campa.

 

 

A lua vinha caindo no seio das pedras

A lua vinha caindo no seio das pedras

Ele comia as raízes da noite

Tinha o sono das imagens

Bebia pelas fotos antigas a chuva que lhe caía na boca

Transpirava crepúsculos..como se fosse um viajante místico

Ele deita-se nas encruzilhadas..espera pelos séculos polidos

Espera pelos séculos gastos de tanto cio

Levanta-se...estuga o passo

É agora uma aldeia à espera de si

É uma penumbra suja...vestindo cortinas de chiffon

Pernoita dentro da chuva..que lhe entra passo a passo na pele

Escuta o riso arguto das mulheres

Talvez regresse a si

Talvez acumule o pó que se levanta da cinza dos corpos

Talvez deseje o corpo de uma mulher calada

Uma mulher que o atravesse...como a luz atravessa uma folha de papel

Ele quer ser de cristal...quer acordar dentro das plantas

Quer morrer pela última vez...de pé

Como morre a pele envelhecida das casas.

 

Há na minha aldeia uma casa granítica...

10-07-2016 396.jpg


 


Há na minha aldeia uma casa  granítica...deserta


Existe para lá da morte dos homens


Asfixia em si os segredos das clepsidras


Os quartos onde nunca houve cortinados


Absorvem agora a luz intermitente da tarde


É como se a luz do dia se extinguisse nos buracos da porta


Nada ali é verdadeiro nem real


Apenas o toque das minhas mãos no agreste granito


Me diz que houve ali um tempo de vida


Um tempo que se extinguiu para lá do telhado


Um tempo fugitivo...como se luzisse na noite do mar


Como se dissesse presente nas dobras do silêncio


Como se não fizesse ideia das vozes que o quebram


Despedindo-se da cinza do silêncio como se fosse uma incerteza


E o fantasma do tempo cumprisse ali sua última viagem.


 


 

A cristalização dos sonhos subterrâneos

O aroma da figueira dança sobre a melancolia que cobre o ar


Sinto o vapor da imobilidade do tempo a pairar sobre mim


Um dia serei o esquecimento líquido da profundidade dos olhos


Serei a cristalização dos sonhos subterrâneos


A única maneira de existir sobre a iluminação da vida


Sento-me no banco feito com troncos de carvalho


Há tão poucos lugares onde o olhar se refugie


Mas aqui...dentro da minha imagem...


Posso fugir da cegueira furtiva das memórias.