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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Viver é desmembrarmo-nos em paisagens coloridas.

A seu tempo saberemos o que somos

Uma lágrima ou um fruto maduro

Uma folha pairando no lago inverte a sua sombra

Vogamos num rio de águas pesadas

Existimos fascinados pelas cintilações da terra

As estrelas disputam a nossa verdura

Criamos o frio para nos acompanhar

E ficamos maravilhados pelo sal que desce pela nossa fronte

Sem isso seríamos a pena que não reluz na fantasia

 

Uma chama que sugere prazer e argila

Contento-me em ser a dissolução das minhas cinzas

Fascina-me a franqueza dos dedos nas cordas da viola

 

Absurdas flores desabrocham no areal

Catam insectos que voam na fronte perfumada do mar

 

Depois...há as paredes feitas de carne..vida comida na linha das mãos

Nasci numa madrugada martirizada pelo medo de ser dia

Regressei ao meu deleitoso sono de ser homem

E despi-me das folhas que me cobriam

 

Nas cavidades do verão residem sombras improváveis

Peles ingénuas cobertas de máscaras

Viver é desmembrarmo-nos em paisagens coloridas.

 

 

Há uma ponte colada às margens do rio

Há uma ponte colada às margens do rio

É nela que se escondem as palavras e as borboletas... ao anoitecer

Há uma melancolia acampada no frio do outono

Há folhas de silvados agressivos a reluzir na contraluz

As horas são semelhantes a mistérios de caminhos mágicos

O coração renasce na dissolução do entardecer

Falo com os insectos que caminham na noite

Escondo o frio debaixo da nudez do olhar

Digo aos plátanos que pressinto as suas raízes a beberem as águas nómadas

Provavelmente deixo marcas da minha pele na casca rugosa do carvalho

Colo a paisagens com intrincadas linhas circulares

Defino-as...como se fossem perfumes extraídos dos eucaliptos

Inúteis cromossomas espalham-se pelas gretas rochosas

Onde se acoita a sedução perfumada da vegetação

Mas vem uma luz agressiva de dentro das casas

Chega até mim como um mistério intrincado

Tenho mil anos e a minha crosta recorda-se das imagens feitas de saudades

Folhas amarelas...irreais..espalham-se pela terra como formigas em gestação

Não posso deixar escapar a humidade dos sonhos

Não posso deixar que as sementes fiquem cativas das águas

Abraço as oliveiras como se fossem minhas irmãs

Decomponho-me em caminhos que cheiram a louro

E reconheço-me.. sei que jamais o céu opaco tomará conta de mim.

 

 

Guardo a consciência de mim num baú cheio de enigmas

Nas horas mais ternas da noite

Todos os pensamentos vibram com a doçura dos desejos

Fantasmas visitam-me vestidos de aves vagarosas

Abro a janela e sento-me perante a brutalidade sólida da noite

O meu tecto é um olhar mudo...uma consciência arenosa

Percorro a vergonha da alma esmagada pela tristeza

Falo para o bolor que me atravessa...deslizo pela ponta dos dedos

Muito ao longe... observo a caligrafia das estrelas

Guardo a consciência de mim num baú cheio de enigmas

Enigmas do tamanho de homens

Sei que não vale a pena acordar os outros

Deixá-los dormir o sono dos gansos

Sei que acordarão irreconhecíveis como troncos de videiras

Mas eu... descerei à brutal claridade do infinito.

 

À sombra dos castanheiros.

Visito as pedras desgastadas pelos rostos envelhecidos dos pastores

Há fantasmas triangulares subindo pelos montes

As cabras soltam gemidos de águas esverdeadas

Rostos esculpidos em rugas polidas descansam nas sombras

Para além... o horizonte desgasta os olhos

As colinas são rasgadas por mãos calejadas

Mãos que só conhecem os mesmos lugares

No céu flutuam aves de rapina...sinuosas veredas vêm ao nosso encontro

E nós quedamo-nos absortos...à sombra do balido dos castanheiros.