Não invejes os que são melhores que tu
Não invejes os que são melhores que tu, inspira-te neles e procura superá-los.
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Não invejes os que são melhores que tu, inspira-te neles e procura superá-los.
Hei-de ser a tarde..o fogo errante
Um fauno dentro de um lago verde
Um lugar perdido no ermo de Setembro
Inventarei poemas junto ao céu
Fecharei todas as feridas
E a minha sede será a de um pássaro voando pela sombra
Terei visões de cantos e de prosas
Falarei com as palavras que se escondem no mistério
Escreverei aos que morrem na crista dos deuses
À noite escutarei as fragas da Misarela
E todos os lugares me visitarão
Serei o velho marinheiro fumando o cachimbo da sageza
Um poeta dentro de um auto-retrato
Onde a clepsidra já não comanda o tempo
As epístolas serão águas escorrendo dos olhos dos anjos
Cegos poços feitos de cinzas brancas
De onde saem poemas e mais poemas
Como cotovias voando numa paisagem feita de portas escancaradas.
Pensei que caminhava sob um profundo céu imaculado
No eco da minha voz escutava a prisão da imensidade do espaço
Estendi-me como um morto que absorve o nada
Despi-me dos meus desgostos...manchados de sangue coalhado
E todas as coisas me pareceram venenos coloridos
Vagas de marés vazias a estilhaçar no absurdo dos dias
Então entreguei-me...o gelo das minhas mãos espevitou a vida
E soube que o Inverno era uma sombra desmedida
Percorrendo o espaço dentro de mim.
Este livro editado em 1927 com poemas póstumos de Sara Serzedelo(Zelda), foi o único que publicou e a receita das vendas destinou-se a fazer melhoramentos no Pavilhão nº 3 (Enfermaria do Tifo) do Hospital do Rego, (Curry Cabral). Certo dia, quando visitava um amigo que estava internado no hospital, ao subir pelas escadas de acesso à enfermaria que hoje já não é do tifo obviamente, deparei com a homenagem do Hospital à poetisa, inscrita num painel de azulejo, (ainda lá está). Curiosamente uns anos mais tarde uma tia paterna deu-me este livro de Sara Serzedelo, (já em muito mau estado) mas que ainda conservo.
Sara Serzedelo morreu ainda jovem, viveu quase sempre no estrangeiro e foi a poetisa da melancolia e do amor.
Transcrevo aqui um dos seus poemas:
Horas do entardecer
Horas do entardecer!...Horas de calmaria
Pairando sobre o monte, escurecendo o val!
Horas de sentimento e de feitiçaria!
As pombas vão dormir...já pousam no beiral
Vai declinando o sol...Encantos e magia
Perpassam pelo Céu, em nuvens de coral
Que vão morrer ao longe, em doce nostalgia
A soluçar baixinho um hino ascensional...
Já se calou agora o canto dos pastores...
A brisa murmurante, acalentando as flores,
Tem um gemido ameno e cheio de tristeza.
Horas do entardecer...neste silêncio infindo
A tarde já esmorece, e a noite vem surgindo
A envolver a vida em sombras de Estranheza....