Esquizófrenia
Guardava aquele pedaço de nada como se fosse o rescaldo de uma memória.Preenchia os dias com um absurdo. Pelo menos era o que diziam as pessoas. A quem poderia interessar aquela verdade que se escondia debaixo de uma ficção cujo significado só ele conhecia? Todas as coisas servem para dar um sentido à vida.Tudo é uma mensagem do passado, indecifrável para uns,escrita em caracteres que só podem explodir em sentido figurado para outros.Dentro desses dias havia ingenuidade a espreitar por detrás de um vidro baço.Ele vivia dentro de um incómodo. Havia uma sujidade que as pessoas lhe atiravam aos olhos.Havia um dedo apontado á solidão.Mas ele sabia que por detrás das suas pálpebras algo escapava ao olhar dos outros. Era um ver só dele.Era uma esquizofrenia tocante.Um espectáculo a que só ele assistia.O mundo achava que a sua maneira de ser era feita de culpabilidades.Resgates de sentimentos.Coisas luminosas.Talvez a sua essência reclamasse pela loucura da filosofia.Talvez precisasse dessa alucinação para descobrir que era um universo largo e sem propósito.Mas ria-se do desprezo que grassava por entre as árvores, porque ele conhecia a salvação do Homem.Ele sabia viver dentro dele próprio.