Há tesouros dentro de nós.
(foto Leonard Nimoy - the full boby project - Matisse Circle)
Os teus dedos fazem a minha noite...
Ignoram que nas delirantes carícias ...residem ondulações de corpos felinos
Dentro das tuas mãos há um jogo...uma tempestade que me arrasta
Desconhecemos o húmido palácio que habitámos...corremos pelo céu...
Não sabíamos que dentro dos nossos olhos havia uma pele arrepiada
Era a noite dos relâmpagos...a língua rugosa da luz a incendiar-nos
Nos nossos extremos havia o peso longínquo das vagas...fluíamos pela noite..éramos
No devaneio florido da imaginação...cobrimos a nossa pele com absurdos...fomos
Fomos carícias e seios e coxas e costas ondulantes...ápices imparáveis
Na realidade do nosso olhar ardia a febre...a barca...a ponte levadiça
E por muito que o coração se reparta..há sempre um sonho a morar nele
Uma álea inteira a desabrochar no desconhecido...um futuro antigo
E mesmo que abramos a mão e nos derramemos em todos os recantos
Mesmo assim...há tesouros dentro de nós...há janelas
Há ventos femininos a arrastar-nos pelo fogo...
Como uma fome estendida sobre o corpo...
Ou como algo delicado que nos percorre
Mas jamais saberemos que dedos nos perseguem
Que linhas de mãos se estendem fora da nossa vidraça...esperando
De boca aberta...como uma miragem sem peso nem vida...
Só para nos dizer...
Que desconhecemos o encanto ensanguentado de um coração desatento
Que vive dentro de uma inseparável auréola azul.