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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Espirais de memórias

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 (Foto Robert Capa)

Reacendes o tempo na candura sufocante da solidão

Conheces o grito que cresce em ti..arde-te sob a pele...bem fundo

De vez em quando reacende-se a paixão..como o canto da andorinha..negro

Há espelhos a dizer-nos quem somos..dormências... ardores de pele

Com o tempo virá o caminho...o lume..o turbilhão

Será ainda possível que dos nossos corpos matinais espreite a alegria?

Crescemos dentro de um grito abafado...

Já não nos basta a pena do esquecimento...

Não deixes que as sílabas se apaguem na viagem

Sepultaremos as nossas vozes em cinzas de cidades..inesperadamente acordaremos

Reacendidos...como uma noite cansada de sorrisos..

Espirais de memórias erguer-se-ão em nós...felizes e obscuros...esquecidos

Deixaremos que o mel deslize nas pústulas abertas pelo saciar dos dedos

Deixaremos que os nossos vestígios regressem...não vale a pena caminhar

Tudo é absorvido pela ausência... mas dentro de ti e de mim...

Ainda pode haver nós...

 

 

Um risco de lápis envergonhado

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Sento-me na pedra rugosa que assenta na relva que desliza junto ao rio.Granito solitário.Leio. Um insecto pousa numa das páginas.Minúsculo. Afasto-o com um gesto desastrado.Esmago-o sem querer. Deixa uma marca na página. Cinza claro.Como um risco feito por um lápis envergonhado.Leio. Passado algum tempo volto à página onde esmaguei o insecto. A marca perpetuou-se na página. É a vida do insecto que ali está. Tal como este livro perpetua o autor, também a página perpetua o insecto. Risco de lápis envergonhado.Quantos de nós nem um risco de lápis envergonhado cá deixam quando a vida nos esmaga? Leio. Sei que o futuro é amanhã.Sei que o amanhã é passado.

 

P.S. - o livro é - A Guitarra Azul de John Banville -

 

Deveria ser criado um subsídio ao ócio

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Vivemos num absurdo civilizacional onde as novas tecnologias que nos vieram libertar do trabalho pesado, agora nos escravizem com o aumento do tempo de trabalho. É um absurdo que os jovens definhem sem oportunidades enquanto os mais velhos desejam apenas ter tempo para viver. A dicotomia entre o tempo de trabalho e o tempo de viver tem que ser repensada e utilizando a feliz expressão do Prof. Agostinho da Silva: “deveria ser criado um subsídio ao ócio”, sim, quem ao chegar a uma certa idade puder deixar o seu posto de trabalho a outra pessoa deveria poder fazê-lo recebendo esse subsídio. Quantos de nós não abdicaríamos de parte do nosso salário em troca da liberdade? Quando se perceberá que o tempo de trabalho é um bem escasso que tem que ser distribuído por todos? Parece que não será nos nossos dias, uma vez que esse bem que rareia está cada vez mais concentrado naqueles que têm emprego e que mesmo que queiram, não o podem distribuir por quem anseia trabalhar. Estamos a voltar aos tempos da revolução industrial e parece incrível que com todo o saber que existe e com toda a tecnologia ao nosso dispôr sejamos cada vez mais sacrificados e infelizes e tenhamos menos tempo para viver.

É tempo de parar e pensar, é tempo do homem usufruir de si e não de ser usufruído pelo tempo de trabalho, é chegado o tempo da realização do espírito...