Navio intocável..
Como um breve silêncio cintilas no gume acerado da água
Sentes a mão que afaga a cidade despida....o navio que parte...o porto
Olhas a ausência como se fosses uma febre solitária..tens delírios de sedes felizes
Pela tua fronte deslizam seixos...imagens de febres cintilantes
No vazio das águas procuras sentir as imagens que te destroem
Saudades de chamas furibundas..ainda as sentes
Mas já nada te retém...a espuma etérea apagou-se...
Levantou-se sonâmbula e triste..partiu debaixo de um sol apagado pela névoa
Já por ti passaram mil vozes depois da partida..fôlegos de espelhos feitos de lodo
Adormecem nas tuas mãos cruzadas sobre um turbilhão de sóis
Aproximam-de de ti lábios impiedosos...corpos desenhados no areal... desordenados
Na rua passeia-se o teu destino...levantam-se sombras...estremeces
Na rua há um vapor a sair de cada janela...
Uma imagem levanta-se no escuro...procura-te
E tu cristalina e pura...estás lá como um navio intocável..
Balançando nas águas escuras...