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folhasdeluar

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São assim as casas...

São assim as casas...inspiram fundo como nós...lançam-nos para a rua...

 

Crucificam-nos nas paredes... suspensos nas fotos debotadas

 

Seremos sempre os mesmos vivendo uma vida que deveria ser outra?

 

Deslizamos...neve e gelo absorvem a nossa queda..ardemos como janelas abertas ás marés

 

Esquecemos o emissário extravagante..aquele que obscurece o céu..aquele que explode

 

Urinamos contra as paredes numa sensação de apagamento...mijo alado...amarelo

 

A água escurece...baixamos os olhos...a neblina agita-se na alma...é o mar

 

São os barcos...cenários de vidas que ardem num corpo gravado em pedra

 

É preciso sentir a eflorescência das flores que crescem nas montanhas

 

Tocar nos cabelos sedosos..molhar a alma no silêncio da chuva..selvática chuva...cinzenta

 

E depois...aquáticos verões espalhados pelas marés...dizem que a nossa voz soçobra ao tempo

 

Que estamos presos ao ar...que os candeeiros da rua nos queimam os olhos

 

E que...tal como o luar é colossal...a penumbra é uma estreita rua..

 

Onde nos cruzamos com corpos e mágoas...sacerdotisas de um tempo inexistente

 

Que desponta sob o vasto manto de um fantástico fragmento de vida!

Em Maio tudo é possível..

Em Maio tudo é possível...podemos ouvir na folhagem florida todos os tempos

 

Nocturnos anseios de mãos que deslizam em redor de uma palavra...

 

Segredos de corações recolhidos nas corolas das papoilas

 

Como crisálidas que esperam a noite ...eloquentes como a frescura de uma boca

 

Adormecidas como nomes de árvores sem frutos...

 

À noite....não se vêem as aves que esvoaçam em redor do esquecimento

 

Dispensamos tudo o que desliza no despertar dos sentimentos

 

Porque o azul é a cor que arde nos céus que nos buscam...

Óh madrugada apenas oiço no teu silêncio...

Óh madrugada que interrogações inspiras
Tu que me perguntas pelo anseio dos homens
Tu que me perguntas por onde anda a nossa alma
Tu que me perguntas na noite enevoada
Pelos corpos que se agitam despertos
Tu que me perguntas pelas multidões famintas...
Como que castigadas por um Deus inútil
Tu que me perguntas a razão porque todos se calam
Vivendo no fundo do fundo do poço
Onde está o Céu no meio da imundície?
Onde está o Bem no meio da escória?
Óh madrugada apenas oiço no teu silêncio...
Que não há resposta!

Tão grande é o mundo.

Quando me afastei das pessoas que amava
Gemia em mim o sentimento do adeus
Como uma indelével mancha no coração...
Mas segui para o mundo...
E deambulei pelas noites como um rio inundado de luz
Ouvindo na noite perdida o tempo grandioso
A derramar gorjeios de aventuras infinitas...
Alimentei-me da lua, bebi o suave chapinhar do rio
Dancei embalado pelo canto das aves...
Tão grande é o mundo...
E tantas foram as noites perdidas!

Somos o contributo das estrelas

Somos o contributo das estrelas
Brilhando no glorioso mundo.
Comemos a vida... na rua inundada de sujidades viscosas
Onde a solidão é como numa mancha negra...apagada
Sobrevivemos acenando tristezas a essa vida
Diminutos e grandes como marés vivas...
Somos a noite na face da Lua iluminada...
Pássaros sem ramo para poisar...
Cantando noturnos...

Dizemos adeus ao silêncio...que se reflete na nossa face inundada de luz
Somos como Anjos caídos em ruas dissolvidas
E arrastados pelo colarinho vamos diminuindo de tamanho
Desfazendo-nos numa sombra passageira e hipócrita...
E só perante o nosso fim percebemos
Que apenas podemos chapinhar nesse lago que inventámos
E que este mundo é largo...largo...tão largo...
que não alcançamos a outra margem!

A noite era uma memória

A noite era uma memória cujas fragrâncias ecoavam dentro de nós

Havia uma lua que teimava em surgir por detrás da gaze das nuvens

As estátuas peregrinavam por entre as áleas feitas de humidade

Pousámos docemente os nossos olhos..

Como crianças espessas que se curvam para o interior de si

E havia um estuário inalcansável à nossa espera

Havia um rio que desaguava na magnífica harmonia das pedras

De um sagrado amanhecer que estendia os seus tentáculos sobre os nossos corações

Jorravam luzes que nos vigiavam os corpos

O frio endurecia a distância que separava as nossas mãos

E pedíamos que viesse até nós a fenda que nos sumisse

Que chegasse o tempo em que os répteis se esquecem da negrura das noites

E que a ternura pousasse docemente sobre as nossas bocas

Como um emaranhado de céus anilados..

Curvados sobre a fogueira dos assombros

Onde das areias rubras jorram manhãs encantadas.

 

A imortalidade

Kant considerava que "sem uma esperança no Além, a vida humana seria demasiado miserável e falha de sentido". Todas as religiões falam dessa esperança e dessa vida depois da morte porque é isso que dá sentido à vida dos que acreditam mas também é o que dá sentido à religião. Se a religião não propusesse uma vida para depois da morte também não existiria religião porque ninguém acreditaria em algo apenas lhe falasse da vida terrena. Mas o que me faz pensar é de onde vem essa crença que se perde na noite dos tempos? Quando é que o Homem começou a crer em Deuses? Todos conhecemos santuários dedicados a Deuses (que agora são para nós desconhecidos) com dezenas de milhares de anos. A nossa sede de imortalidade perde-se na noite dos tempos... e nós perdemo-nos com ela.

 

O homem é um ser comunicativo

 

O homem é um ser comunicativo, e as empresas que gerem as comunicações aproveitam-se disso e ganham rios de dinheiro com a ânsia  que as pessoas têm de comunicar,  porque  é tão grande o sentimento de isolamento em  que vive um número imenso de pessoas que a comunicação passou a ser um absurdo silêncio/ruído feito de frases vazias, basta ver em todas as redes sociais o comentário inútil, feito para dizer algo, ou para dizer estou aqui...todas as redes sociais estão cheias de palavras vazias...e são muito poucas as palavras que acrescentam alguma sabedoria.

 

O transitório teatro

As coisas...os homens...os actos...
O transitório teatro...o fictício efémero...
O que contêm as coisas?
Quem são realmente as personagens com quem convivemos?
Serão projectos de comédia...límpidos farsantes diáfanos...
Trespassados de escuridão...irreais...
Recitando falas...vivendo dramas...
Personagens loucas em permanente pose...
Marionetas dobradas sob o peso da sua máscara,
Espreitando a noite com olhares cobiçosos...imprestáveis...
Representantes do silêncio...palcos vazios de vida …
Como ritos sem solenidade.
Mas...ninguém sabe...ninguém nos diz...
Quando teremos pela frente o falso fatal...
O absurdo vazio...o escuro...o próximo espectáculo...
Algo que, embora saibamos ser irreal
Aceitamos como algo que se funde com o real
Estamos também nós neste teatro
Esperando...sempre esperando...sempre crendo..
Que no meio deste absurdo...
Existe sempre algo digno do nosso sorriso...
Ou das nossas lágrimas...

Uma vida ...por poemas habitada..

Cubro as minhas vestes com o manto do silêncio
Procurando expulsar este tempo mecanizado
Fecho-me num incêndio isolado
E concedo-me o recolhimento...
Não me perco pelas ruas dos louvores
Nem pelas alegrias passageiras e menores
Não sei qual a esquina que vou dobrar
Aos esconderijos ocultos chamo traidores
E procuro a perfeição de um caminhar
Que se oculta na floresta isolada
Onde o silêncio vive em mais que nada
E se transforma no mais puro sentimento
Iluminando uma vida ...por poemas habitada..