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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Deslizar pelos pensamentos...

Deslizar pelos pensamentos...

Subir às noites repletas de orvalho onde o vento atapeta a viagem

Carregar a solidão...arrastá-la pela alma...

Como seda perfumada com alecrim

No pátio ouve-se o restolhar dos carvalhos

As mulheres passam...conversam sobre as brisas que as invadem

Carregam sonhos pelas veredas...embalam a tristeza tocando liras de prata

Mas na terra... a luz não enche os olhos...e a alma desliza pela garupa dos vinhedos

Como se os dias de amor nunca acabassem...

 

Haja alguém

 

Haja alguém que estenda a mão.. e sobre o fogo prometa plantar jardins

Haja alguém que sopre para longe o vento nordeste...o cheiro a figos..o perfume das sombras

Haja alguém que se erga da luz escura...

E mergulhe na taça alcantilada do ribeiro...

Até que o mar se afaste e a memória finde.

 

A aparência serena do mar...

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Desce o futuro...esse café que bebo como uma coisa vazia

Esse coração que me toca na inexistência dos olhos

Esse ciúme agitado que mancha a poeira...

Que faz sombra à vermelhidão da face

Mas nós...sorriremos como vácuos caminhando pela solidão do ventre

Seremos espaço e terra desperdiçada em corpo e alma

Seremos qualquer coisa...rostos manchados pelo breve sorriso da aparência

Lívidos como o espaço onde voam corvos..filhos de todos os sentires

Sem pais nem olhos que nos vejam...

Apenas...corpos vivos..ruínas de crianças em total agitação

Barcos...onde nos sentimos como  reis ondulantes

Em breve perderemos a voluptuosidade dos dias

O cantar das aves...a voz das constelações

E apenas por instantes...por breves instantes...

Teremos a aparência serena do mar...

 

Não há crianças hiperactivas

 

Não há crianças hiperactivas nem com défice de atenção...o que há é programas desadequados e escolas e professores impreparados para lidar com crianças diferentes...o ensino não pode ser tipo chapa cinco, onde tudo é igual para todas as crianças, todos sabemos que somos diferentes, e que não gostamos todos do mesmo, por isso as crianças não podem ser as vítimas do Ritalina, têm é que ser ensinadas conforme as suas necessidades. Felizmente algumas (poucas) escolas já perceberam isto.

 

É para ti que escrevo

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É para ti que escrevo as palavras que me queimam a fala

São para ti os sinais que a luz transporta através do sopro abafado da paixão

Pernoitámos numa absurda maré onde agonizavam flores

E dentro do peito naufragavam ensanguentadas cidades rubras

Nunca soube sufocar os gestos que me atormentavam..

Nunca soube beber os recantos onde a felicidade se escondia

Agora imagino que dentro do esplendor da boca pernoita o medo

Agora imagino que no silêncio da areia há uma profundidade de janelas abertas ao luar

Construí-te no sítio onde os teus sinais queimavam a noite

E os teus olhos eram o centro do mundo..espiral profunda de uma vida mineral

Fímbria iluminada pelo frio..onde os lábios se tranquilizam e a espuma nos aborda

Agora...existe o silêncio a escrever nos sítios onde a voz não chega

E no peito perfurado pelo nada..desenho um mar que me ensina a voltar..sempre..a ti...

Como uma onda onde as águas murmuram...que a felicidade não é um crime absurdo

Que é possível viver nos desertos...que é possível deixar um rasto no silêncio

E que se pode erguer a cabeça sobre as silvas do crepúsculo

E do nevoeiro que cobre as areias pode surgir um sonho estelar

Como um mar que nunca acaba...redoma de nada...língua de sonhos...

Ou um rasto de memória esquecida sobre a extensão dos dias...

 

Alma descoberta..

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 Naufraguei na penumbra atordoada dos oceanos..queimei os olhos com presságios

No frio..descobri a luz fosca de uns lábios..um sufoco de sangue latente

Como uma notícia soprada pela rubra ventania da tarde..

Cheguei para descobrir o medo

Naufraguei para atordoar os sentidos

Do meu peito jorrava uma felicidade doirada..um agonizar de flores perdidas

No centro de mim estava plantada a bala que me matou

Bala-paixão feita de um amargo sopro...o medo e a flor..lado a lado

Os meus gestos enroscavam-se na tarde...perfuravam o mar...sufocavam os oceanos

Aprendi contigo a desistir do choro.. a não perguntar pela poeira que entrava pela janela

Aprendi a falar com as absurdas portas feitas de espuma..

A deslizar pela fímbria solene das cidades

A pernoitar nos sítios onde o sangue sufoca as gargantas

Corpo e espírito abertos ao temporal

Alma descoberta..nu esplendor de solidão

Lábios que já não perguntam pela manhã...sopros ensolarados de dias felizes

De tudo desisti...até das balas amargas que ferem a imaginação

Hoje...sou o centro de uma luz que perpassa pelas portas atordoadas

Procuro-te...para que me voltes a lembrar de mim....

 

Que lendas contaremos aos peixes na solidão das praias?

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Na página em branco tacteio-te como a uma ave que se despede de mim

A noite esvoaça...o mar fascina..o teu rosto sangra aventuras ao nascer da alba

Uma ave diz-me que no fundo da insónia

Mora um barco que parte na luminosidade da manhã

Um coração incerto fala-me da mágoa que esvoaça por sobre os meus olhos

Clareio...como uma boca que se abre ao vento

Ergo-me...como um vácuo que se prende à pele

Escrevo letras que são estilhaços de mim..sonos leves...precários dias

Na noite...por dentro do silêncio...

Vi a minha infância a despedir-se da manhã que sangra

Por vezes afasto os olhos do feixe de luz que me cega ...

Chamo-te como quem vive de esperança

Seremos dois a conhecer a solidão?

Seremos dois a caminhar em sentido contrário ao espelho que nos reduz a uma miragem?

A água magoa como uma luz cristalina que flutua ao vento

E se morresse? e se morrêssemos?

E se fôssemos apenas um cristal que se apaga numa sensação estilhaçada?

Envoltos o bolor coado da luz...basta-nos isso?

Ou preferimos renascer numa volátil explosão de incertezas?

Seremos capazes de amar e desaparecer numa auréola leitosa?

Seremos apenas uma luz que se afunda na frincha entreaberta dos dias?

Que despedidas seremos capazes de fazer?

Que lendas contaremos aos peixes na solidão das praias?

Que projectos nos sobressaltarão os sonhos?

Tudo escorre pelas nossas mãos de areia...

E mesmo que as ergamos num acordar de memórias

Sangraremos....sangraremos como espelhos que desaparecem nos instantes

E isso nos basta..basta-nos que o horizonte se despeça de nós....

Para que zarpemos em direcção ao sono...

E acordemos..lado a lado!

 

Pressinto os teus passos!

Abano os braços e ergo os ventos..finjo ser um sonho ancorado na areia

 

Durmo sobre um abraço...como uma águia líquida aberta ao espaço...

 

Sonho com retratos de resplandecentes rios...

 

Enquanto nas profundeza dos ventos ecoam carnes...atalhos talhados no anoitecer

 

Das janelas escorrem seivas tristes...pássaros agitam-se como presságios...

 

Adormeço de barriga para baixo...cruzo os pulsos...agito-me como as árvores...

 

E depois do sonho... finalmente ...pressinto os teus passos!

A paisagem inclina-se sob o peso dos tempos

A paisagem inclina-se sob o peso dos tempos...puxamos a jangada como cavalos cegos

 

O mar nunca regressa...os pés curvam-se num desespero de instantes...bebemos lugares

 

Sonhei que me salvava dentro de um sopro...escondido numa rocha aquárica...

 

Tropel de fumo escalando as árvores...rumor de aves dentro da bebida...cascos de noites

 

Afundam-se os olhos no escuro...o Atlântico sopra furacões ...perdemos o pé...

 

Esquecemos o lugar onde temos o barco...desgastamos as fronteiras..sonhos sem lugar

 

O escuro desvenda as suas histórias...ouvimos os mortos quebrados pelas noites...

 

Barcos...gáveas...corais...dentes girando na boca...olhos de águas negras...chove...

 

As areias afastam-se de nós..vão ao encontro de outros lugares...escuto vozes...

 

Desenho arabescos nas árvores ensanguentadas...viscoso líquido alvar...afogo-me

 

Molho-me de entusiasmo...como erva..suco de azedas selvagens...amarelas...

 

Das minhas noites emergem grandes cavalos selvagens...o meu ventre segreda histórias

 

Abençoo a loucura que medita sobre um pedestal de ossos caídos...esburacados...

 

Não quero perder o meu lugar...sou o instante em que os cascos saltam sôfregos...

 

Bebem fumos...afogam-se em todos os mares...

 

Rio-me do escuro onde sobressaem grandes dentes de marfim...fumo a minha bebida

 

Bebo o meu fumo...a Terra gira...o fogo ama-me...o chão abre-se..

 

Mostra-me as suas maravilhas... Alice permanece no escuro...perdeu os olhos...

 

É agora uma enorme ave que me sonha...encerra a minha alma numa concha de ostra...

 

Sou uma visão apocalíptica...um sopro incomensurável...nunca mais regressarei!

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