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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A noite transformou-se num espaço sem espaço para o tempo...

Não toco no fantasma que me olha no espelho...à minha volta ardem tochas no espaço

 

Negras nuvens agarram-se ao luar...fontes imaginárias de um céu gasto

 

Quantos pingos de chuva estão submersos no mar?

 

Quantas explosões de luz eclodem na rebentação das ondas?

 

O soalho de madeira gasta transforma-se em risos que se agarram às paredes

 

Entra o aroma das marés pela janela do quarto...

 

Um círculo de luz acobreada foge ruidosamente

 

Há tições espalhados no chão...solenes risos atómicos explodem nas nossas cabeças

 

Tudo corre em direcção a um ponto imaginário...

 

E tal como acontece os pescadores de pérolas

 

O tempo arrefece dentro de um copo de vinho...o silêncio é absoluto...

 

A maresia arde nos olhos...e nós errantes seres... seguimos dentro de uma luz dourada...

 

A noite transformou-se num espaço sem espaço para o tempo...

 

Em todos os quartos rebentam desesperos...amores enraivecidos...explosões de sémen

 

E lá fora..o mundo desapareceu em nós!

Quero-te escrever...

Nódoas de águas murmuram sobre sílabas outonais

 

Levam as folhas que desceram dos plátanos...essências de outros dias...

 

Agarram-se aos corpos que riem dos rostos petrificados...

 

São sossegos de alegrias caindo sobre as cintilações do chão sujo

 

Quero-te escrever...quero dizer-te que os sopros são indecifráveis amores

 

Que se constroem sobre lenços sujos de lágrimas isoladas

 

Outros... são apenas sossegos de cemitérios que enfeitam o deserto

 

Insubstituíveis como os livros que simulam santidade

 

Que constroem pessoas com essências de santos...ícones inclinados perante a fé...

 

Pequenos alfinetes que cantam sobre a ferrugem dos céus inocentados

 

Narizes sobre cabeças...pés sobre mãos...braços agarrando outros braços

 

Em todas as coisas há o sopro da vida que se rasga...que se simula...que se arrasta...

 

E os loucos...aqueles santos que parece terem nascido para puxarem o sol...

 

Eles não simulam...são a verdade... a música feita com uma harpa sem cordas...

 

E ventania que desce da alma...e que perfura a solidão dos dias...

 

Com um movimento ascendente...veloz...que nasce de um perfume embriagado...

 

Por um chão feito de ecos e madressilvas esmagadas...pelos pés descalços das marés...

Acaricia a dor que te faz viver...

Acaricia a dor que te faz viver...dorme com ela...deixa que desça sobre ti...
Deixa que ela te canse... faz as pazes com ela...abraça-a
Como se fosses uma imortal e penosa voz que segue em voo rasante
Porque onde não está a dor... não está a vida...não está o sentir...
Porque onde não está a dor... há apenas uma ausência desse sentir...
Ou um deserto que anestesia a alma....
Como uma paz infame dentro de um corpo corroído pela vasta noite...

O mar come lentamente os restos do dia

Macios espinhos despertam nas águas onde os desejos se lavam
Corpos desenham asas que um metálico crepúsculo alumia
O mar come lentamente os restos do dia...envolve-se num alisar de areias...
Esfrega a claridade descendente...e tu... acordas as pálpebras virgens de marés
Despertas nessa hora em que o desejo...
É uma humidade viscosa que se entranha nos corpos
Como um bando de pétalas usufruindo da maresia
Envolve-te a claridade oblíqua que atravessa a asas das gaivotas
Esfregas-te nessa noite que o pensamento ignora
E eu sou o vento que te possui inteira...que te afaga o corpo que o amor evoca...
E com os dedos mergulhados nos teus abismos te faço abandonar o mundo
Como se fosses um metal precioso que reinventa a claridade
E que derrete o gelo que te tolhe...fá-lo escorrer pela finíssima luz da insónia...
Até que uma nuvem de coral nos recorde que o mar nos quer abraçar...
Nos quer envolver numa dança em que os corpos desejam sobrevoar as aves
Subir os degraus do amor que violentamente nos ofusca...
Como uma noite estendida sobre uma tempestade ...

Bilhetes de esperança..

Tocam-se músicas em guitarras de cordas oxidadas...

 

Estranhos sons eclodem no coração da terra...linguagem de plantas...

 

Formidáveis momentos onde se crucificam os abismos...o mundo é uma esfera angustiada

 

Ervas erguem-se perante a maresia...despertam na esterilidade das horas...

 

Falam como uma escuridão...incham nas memórias da existência...

 

E reproduzem-se para lá da vida...pairando como aves que enviam mensagens em código

 

Bilhetes de esperança...a pele é uma árvore que se esconde numa pose de seda...

 

Conhecemos a dor...conheces a dor? Sabes que é possível viver como um pássaro...

 

Voar...ser uma verdade cheia de céus...um acorde de violino que se espraia na areia

 

Ou até um sótão onde se pode escutar o teu sono...como um deslizar de sorrisos...

 

Ou como uns olhos que sabem onde tu estás!

Tu corres...eu espero...

Tu corres...eu espero...corpo entregue ao rio...ardendo num silêncio gigantesco...

Já não recordo as feridas da infância...analgésicas emoções...estranhos fios de água...

Lavo-me de todas as datas...canso-me de todas as janelas..Janeiro em febre...

Rente a mim suspiram ombros nus...imensas bocas ardem nas fogueiras...quero que venhas

Mordisco a tristeza que devora os teus olhos...busco-te em todos os buracos...

Acidental peito refastelado em mim...que não voltarás a amanhecer no asfalto...

Sei que não voltarás a destroçar instantes nem espelhos...navegarás em todos os barcos...

Como uma ferida insultuosa...sulfúrica...incerto destroço em cama abandonada...

Fantástica realidade de uma fantasia que sua em bica..buraco de noite ao amanhecer...

Mundo devorado por espelhos irreflectidos...indiferentes...

Como uma tristeza suspensa numa noite de geada...

Ou um perfume de galáxia destroçada!

Vieram olhos ter comigo

Vieram olhos ter comigo e eu acreditei nos vidros que brilhavam como lâminas

 

Fechei-os numa violência de erva amassada...contaminei a seiva...

 

Ardi na foto a preto e branco...as luzes pararam...a aranha teceu o nosso esconderijo..

 

Fui um fogo acorrentado às tuas mãos...intrigas de vulva molhada...incompreensíveis

 

Fechei os olhos...confiei nos sinais expostos nas paredes esburacadas..

 

Tacteei-me como um relógio parado caminhando entre os mortos...percorri distâncias

 

Amadureci como um prisioneiro em erupção...atento aos invisíveis labirintos do coração

 

Escondi-me na foto inexplicável...lupanar de gaivotas em decomposição...

 

Sépia sagrada que caminha pela cidade suada...amargura de quarto acorrentado...

 

E o cimento...é sempre o cimento que temos que esgravatar...até gastar as unhas suadas

 

Na noite correm baratas pelos cantos da casa...soalho empedernido...

 

Estremece com os passos aflitos...a moldura foge...os mortos esvaem-se em cal ardente

 

O trabalho será feito pela terra...e nós devoraremos os ventres coalhados de mel...

 

Abelhas em fuga suicida...fome de corpos escondidos nos arbustos...

 

Gatafunhos de pólens cicatrizados...quero fugir...ser um rochedo ressequido...

 

Inchar como um coralino precipício...ser a minha própria vontade...

 

Beber a minha própria sombra..desaguar numa costa ofuscada por sangue marítimo

 

Subo a duna vazia...espreito o infinito imóvel...estrelas ofuscantes miram-me...estou só!

Embala-me a loura paisagem...

Embala-me a loura paisagem... o loureiro sopra um perfume encantado
E eu salpico-me de venturas... sob um suave sol...
Peço-te sol ....que descanses sobre mim a felicidade da tua mão acariciadora
Que a passes levemente pelos meus cabelos...que me saúdes como gente amável...
Para eu...voltar a ser o adolescente que o vento recordou...
Através de uma passagem no buraco do tempo...
Que me fez esquecer... como num sonho de dias desencontrados...
Que meu fogo sufocado pelas chamas do meu dilúvio...
Pode reacender a frescura de um buliçoso coração...

Procuro a marca que deixámos na luz

Procuro a marca que deixámos na luz e que a altiva noite cobriu de crepúsculos
Procuro-a como o sonho que só um ébrio pode descobrir
Procuro-a como quem se quer deitar num altar que desabou
Porque sou como a ave que persegue o oásis feito de um tempo esquecido
Onde uma clarividente magia me segreda todos os recantos do teu ventre
E o instinto me traz um tempo que se perdeu nas veredas misteriosas dos dias
Não há loucura na secreta forma da lança que me vara a imaginação
Não há espada que eu não use...nem noite em que eu não faça sentido
Como se tivesse feito um pacto com o anjo redentor....
E tivesse aportado a um céu sem lua ...onde o orvalho se despe...
E as águas se cumprem...saltando por cima do tempo....
E que depois tranquilamente me prometem...que tudo voltará a ser..
Como um frágil arremesso de dias melancólicos

Sento-me no abrigo involuntário do tempo

Sento-me no abrigo involuntário do tempo...sei que a noite arrasta os corpos

No mar procuramos o sossego...E a poeira feroz da ilusão

Pedaços de noite entram-me pelos poros...como sonâmbulas falas de desertos

Agarro em tudo o que me prende...pássaro ilusionista...sonhos e devaneios

Faço deles peças de vestuário...amarras de cardumes enlouquecidos

Estamos no tempo dos sonhos e dos encantos...

Estamos no tempo da embriaguês das plantas

É o tempo onde a morte se mistura com o céu e com o calor abafado do coral

Salto do sonho..humedeço os lábios..sou a superfície vidrada dos olhos

Atravesso-me à frente dos dias enlouquecidos...impiedosos golfinhos perfumam a noite

O verão arrasta-me para a luz...vejo que os dias regressam ao cais..

Revelam amores...criam ilusões...aromatizam os sonhos deslaçados

Ali..a terra dobra-se sobre si própria

Mais além alguém embarca..parte..para sempre

Na violência das camas há um fundo real e feliz..uma ilha

Há uma árvore que secou..hoje abriga todos os contágios..todas as veias secretas

Há nomes e um coração nessa árvore..uma poeira entrelaçada de afectos

Ofereço o meu corpo à tua vertigem..tactua-me com as tuas amarras

Esquece os caminhos onde o sol se ergue e os passos se ausentam

Os desertos ainda surpreendem...o mundo não tem fundo..é uma mistura de céus

Céus enrolados em ilusões...aromas que embriagam...Pérsias desconhecidas

Entrei em todas as coisas...pousei as minhas mãos nas colmeias de fogo

E fiz chegar a ti o meu coração..em forma de calor.