O frio...esse surdo sentir da alma..
E fomos todas as coisas que podíamos ser
Fomos o caminhar das noites que flutuavam na planície
A imensa e eterna galáxia que se ergue nos céus fascinados
A boca que viaja pela lua e pelos dedos mortos de frio
O tecido que navegou desde as Índias até nós...num flutuar desinteressado
Fascínio...fomos fascínio envolto em corpos marítimos...que cantavam sábias melodias
Seguíamos sempre contra os ventos e acreditávamos que as flores eram de metal
O frio...esse surdo sentir da alma...não nos incomodava...
Era apenas um húmido bosque petrificado...uma anestesia carnívora...um adormecer...
Extraímos de nós todos os líquidos e todos os sumos...
Mesmo aqueles que só as mulheres conhecer o sabor...
Em frente...sempre em frente....cantámos as sensações que descansam sobre os musgos
Percorremos as gigantescas horas que viajam em luas desintegradas
Acredito que somos flores brancas...que deslizam sobre águas paradas...
Abrimos a boca para extasiar o grito metálico do peixe solitário
E peregrinamos como sábios viajantes de flores que enfeitam fascinações...
Beijemos o tempo que nos resta ...na espera de um nada liquefeito...
Onde ficaremos...junto ao porto sem regresso...junto aos navegantes envoltos em frio...
Alimentando-nos da imobilidade nua que viaja no calor dos murmúrios
Pintemos os nossos corpos com tintas comestíveis...que mutuamente comeremos...
Numa delirante peregrinação pela imensidão da nossa pele sôfrega!