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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

O frio...esse surdo sentir da alma..

E fomos todas as coisas que podíamos ser

 

Fomos o caminhar das noites que flutuavam na planície

 

A imensa e eterna galáxia que se ergue nos céus fascinados

 

A boca que viaja pela lua e pelos dedos mortos de frio

 

O tecido que navegou desde as Índias até nós...num flutuar desinteressado

 

Fascínio...fomos fascínio envolto em corpos marítimos...que cantavam sábias melodias

 

Seguíamos sempre contra os ventos e acreditávamos que as flores eram de metal

 

O frio...esse surdo sentir da alma...não nos incomodava...

 

Era apenas um húmido bosque petrificado...uma anestesia carnívora...um adormecer...

 

Extraímos de nós todos os líquidos e todos os sumos...

 

Mesmo aqueles que só as mulheres conhecer o sabor...

 

Em frente...sempre em frente....cantámos as sensações que descansam sobre os musgos

 

Percorremos as gigantescas horas que viajam em luas desintegradas

 

Acredito que somos flores brancas...que deslizam sobre águas paradas...

 

Abrimos a boca para extasiar o grito metálico do peixe solitário

 

E peregrinamos como sábios viajantes de flores que enfeitam fascinações...

 

Beijemos o tempo que nos resta ...na espera de um nada liquefeito...

 

Onde ficaremos...junto ao porto sem regresso...junto aos navegantes envoltos em frio...

 

Alimentando-nos da imobilidade nua que viaja no calor dos murmúrios

 

Pintemos os nossos corpos com tintas comestíveis...que mutuamente comeremos...

 

Numa delirante peregrinação pela imensidão da nossa pele sôfrega!

Eterno esconderijo de mim..

Nasci de um marulhar de árvores brancas...sombra de deuses submersos

 

O vento soprava insectos...esvaziava corpos...as vozes tinham frio...

 

Os meus pés descalços submergiam na humidade luminosa do asfalto

 

Era um esvaziar de mãos...magia povoada de fitas cinematográficas

 

Eco emergente de lua bêbada...lama invisível que se desloca sem direcção …

 

Ouço tudo o que existe...toco em todos os teus finos cabelos...areais de paz...

 

A lua bebe vinho pelos velozes tropéis dos cometas...é meia-noite de sangue...

 

Toco nas folhas das árvores em crescimento...as memórias caminham comigo...

 

Quero esquecê-las..quero atingir os rápidos pântanos verticais...sonhos de ruas sem eco

 

Eterno esconderijo de mim...mágicos mundos afrodisíacos...há pólvora no quarto...

 

Há uma imensa sombra que bebe vinho...o mundo descansa...eu... arrasto a noite...

 

Capturo todas as infâncias...todos os rostos...desço a todas as caves...

 

Quero simplesmente ser ...a extinção sonora da humanidade!

Balança-se a tinta entre os dedos...

Ouço a obsesssiva mensagem das pedras..ouço a embriaguês dos setenciados

Traço uma linha arrastada sobre uma ave....bico de tédio contra a parede...

Crescem sementes no corpo dos fantasmas...discursam vómitos embriagados

Balança-se a tinta entre os dedos...

Dedos cheios de fragilidades e de harmonias

Sente-se a tensão nas pedras...enterramos a espécie humana..

Os sonhos partiram...o corpo ficou...

No mar a voz não tem caminhos...é livre.

Queria repousar e deitei-me sobre a terra...condenei os meus suspiros a submergirem

 

Tapei-me com uma tarde fria...maltratei todas as aves e todas as flores...fui hediondo

 

Mas não sabia como rasgar os trajes desabitados...era o último pensamento...

 

Era o despedaçar de subterrâneos desconhecidos...saltitar de cinza sobre ruínas

 

Sei que não há nada como o mar...que lá a voz não tem caminhos..é livre...

 

É como uma pluma que oculta a mágoa...um rosto que perdeu a guerra..

 

Uma máscara que emergiu de um clamor indefeso...desolada convicção de amor...

 

Entra...não estranhes a casa...sobe...desaba comigo...pergunta-me pelas aves de rapina

 

Pergunta-me pelos lençóis que não tenho...pelo sangue que não derramo...

 

Pela paisagem desaparecida...faz-me as perguntas mais absurdas...

 

Aquelas para as quais não tenho resposta...pergunta-me se te amo...

 

Mistura os teus pés com os meus...descalça o coração...mostra o rosto...

 

Rasga-te em mil fanicos..cobre-te de melancolias...besunta-te com mel...

 

Quero sorver-te...sangrar...existir dentro do teu ventre...ser o teu suspiro...

 

Quero ser tudo isso...corpos misturados sobre um chão em ruínas...

 

Onde a madeira do soalho acompanhe os nossos gemidos...goze como nós..seja tudo!

Sempre o mesmo segredo..

Passo por lugares vazios...lunares sopros cortam o ar..como tesouras cósmicas

 

Olho os meus fragmentos espalhados sobre o sereno castanho da terra ...

 

Esburacadas explosões rebentam na mudança da maré...

 

O mar é uma cave onde o coração se parte...vidro glaciar desmoronando-se sobre as coisas

 

Cheiro o bafo negro da solidão...

 

Aqueço-me na lareira concêntrica onde ardem acessos de riso...

 

És tu outra vez? És tu quem acredita que a minha solidão sabe coisas que tu não dizes?

 

E até mesmo a língua é uma fome emergindo para respirar dentro de um aquário elástico

 

E os muros erguem-se...as pessoas atiram copos de vinho para dentro de si

 

E a minha fome de ti...é como o desejo de uma praia onde as ondas não rebentam

 

Encontradas as línguas..ardemos numa dor que desaparece num segredo...

 

Sempre o mesmo segredo...

 

A deflagrar na escuridão escaldante de uma concha solitária!

Desabrocham flores nos oásis azuis...

Rosa de Jericó...avalanche de dunas ...canção do deserto...seca erupção

 

Esperas a chuva...corola de sangue repleta de vida..deserto sem eco...areia entupida

 

Desabrocham flores nos oásis azuis...tudo se repete infinitamente...bruscamente

 

As andorinhas aparecem...apascentam a sede...bebem salgados insectos..

 

E o sol é apenas um sussurro de nó na garganta...as palavras são velhas vagabundas

 

A vida ressurge do nada...vem de um espaço enfastiado...inacessível...

 

Esperou dezenas de anos pelo chão molhado...ressurreição que rasga a secura...

 

E tem apenas umas horas...de vida dura!

Sei que tudo nos pertence..

Dentro da minha metamorfose espero a pérola caída do verão

Sei que tudo nos pertence...a água...os cardos...a solidez dos dias claros

E até a loucura que vive no torpor das casas...é a perfeição das noites vegetais

No início pensamos em recuar..em regressar ao conforto colorido do primeiro beijo

Infância apertada em árvores...constelações de folhagem verde...suaves instantes

No silêncio do peito dormem imensas neves..seiva de países em erosão

Adolescentes espelhos onde os dedos desenham voos de aves

De dia..o rosto é uma música que acorda o torpor de todos os instantes

De noite..o candeeiro assusta o coração...grava no peito casulos de alabastro

Sei que tudo nos pertence..as palavras...a lenhosa imagem dos cabelos

A resina que escorre pelo branco dos cadernos...os olhos inchados

Na grafia do silêncio há confins inexplorados...torpores coloridos pela imaginação

Ruas onde as flores se abrigam da pele violenta do sol...cores inseguras...infinitos raros

Mas no respirar das luzes vemos dias que exalam turbilhões de sonhos

Peitos imensos onde o sangue respira pelas palavras...

Envelhecemos...e guardamos os espelhos que nos deformam o rosto

Há nódulos que arrepanham a pele...somos agora o gatafunho dos dias passados

O desatre da luz..a imagem da neve derretida..o silêncio da adolescência...

 

 

Dentro de mim...o sonho..

Nasci no tempo da luz sem pálpebras...entrei no meu corpo como um reflexo

 

Embriaguei-me num pó de anis ...travo infindável de sibilinos frutos...

 

Pintei-me com um perfume de coxas atapetadas..luzes acesas em lábios espelhados

 

Fui a penumbra que se veste de sons...estrelas de dedos húmidos...

 

Veleiro num mar sem leito...incandescente carícia deitada sobre o orvalho

 

A noite descreveu-me...escarneceu da minha sombra...piano esvoaçando numa avenida

 

Dentro de mim...o sonho...o colmo onde me abriguei...telhado de ciprestes em flor...

 

Na hora certa as águas encerram a corrente...meto a mão entre as tuas coxas...exulto

 

Vegetais cabelos imploram carícias...talvez eu seja o escurecer que incide sobre ti...

 

Mas sabes-me a frutos caídos..crepúsculos de bocas estreladas...árvores planas...

 

Perfurações de águas atapetadas por penas de aves...amanhã seremos os mesmos

 

Amanhã escureceremos numa cama..roupa em desalinho...sexos embriagados...

 

Partiremos os espelhos...não queremos ver os destroços esvoaçando...estaremos acesos

 

E depois...quem sabe... lavaremos os corpos num banho de jasmim..

 

Que colhemos num qualquer jardim perto do mar onde sonhámos que éramos avenidas...

 

Onde fingimos que estávamos lúcidos...eu não reclamei...tu disseste que eras um peixe...

 

Os teus lábios pintados por coloridas ervas aromáticas...bebiam-me...

 

E as paredes encostavam-se a nós...esvoaçavam como mares no interior da alma

 

Perseguimos os desejos mais acesos...murmurámos escureceres...

 

Fomos veleiros de sonho...bordámos a cama com panos floridos...

 

Erva rasteira... leito de nada...e acordámos num acendimento de máscaras naufragadas!

Perdi-me dentro do tempo

Desmaia a madrugada sobre o silêncio....aos poucos floresce o dia...não sei se dormi

 

Passei a noite na paisagem...pernoitei sobre os teus desejos....ouvi o teu grito..afastei-me

 

Subia obliquamente o sol...dos lírios jorravam esquecimentos...perdi-me dentro do tempo

 

Nos reinos escuros a língua embaraça-se...a vigília acode...a poeira sobe...fala-te de mim

 

Imperturbáveis galos despertam na sombra...língua...gritos...lágrimas

 

Explodem constelações de abandonos..devolvo-te os meus gestos.. sem esperança

 

Sou agora o caminhar ausente de um magnífico sono...arquipélago de luzes estivais...

 

Onde a luz não se define e o sonho não se lembra de nós..abandono de pálpebras

 

Imperturbáveis lágrimas seguem o seu caminho...falam de línguas amargas...sal da ausência

 

As tuas mãos são a crosta escavada das sombras...mergulho as minhas na tua humidade

 

Fornalha feita de gestos sem vigilância...quentes desertos...terras estreladas..silêncios

 

Possuirei de novo a tua voz? Correrei atrás de um arrependimento? a chuva cai...

 

A chuva seca-me os dias...revejo-me no coração das flores..floresço...a noite chega

 

As palavras cantam embaraços...os sonhos são rectângulos vivos...

 

Do fundo do mar brotam fogos cáusticos...esperanças de medonhos sóis...

 

Sonos interrompidos no teu ventre reclinado sobre os corais...é tarde...

 

Acordo no lugar onde a terra amansa a alma...estou nu..não tenho corpo!

 

Amei-te...

Terrorismo e democracia

Sofrer com o terrorismo é um dos custos a pagar pela liberdade e pela democracia..por exemplo, na Coreia do Norte não há terrorismo..mas também não há liberdade...

Perante isto antes viver livre  com o receio de um ataque terrorista, do que viver a vida inteira vergado ao peso da ditadura...podemos hoje perguntar para onde foi a democracia nos EUA e se aquele povo está consciente do ditador que colocaram no poder? Para reconhecer um ditador basta ver a sua aparência...se repararmos nas fotos de Hitler vemos que tinha um ar de louco, na Coreia do Norte temos Kim Jong-un outro com ar de alucinado e só nos faltava o penteado do Tramp para verificarmos que naquela cabeça  mora a loucura total...