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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Sei que o tempo é feito de uma música mineral..

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Sei que a doçura do teu olhar contem o jorrar da luz e o voo das aves

Sei que o tempo é feito de uma música mineral..

Morna como as horas que dormem nas folhas que vagueiam pela areia

Os dias passam como se fossem cinza..

O sangue petrificado das praias é um enorme vazio..lunar

Penso nas coisas reduzidas a simples versos...acompanha-me a exaustão da luz

Que ventos perderia se me sentasse contigo junto ao mar?

Que ruídos se esboçariam na nossa pele se tudo se silenciasse?

Reclino a cabeça sobre as horas..lentas horas onde perece o meu olhar

Sei que posso juntar-me às chuvas e recomeçar a vida em todas as gotas

Posso sentir que caí de um pedestal com tamanho suficiente para esburacar o sangue

Desfilo nos limites do absurdo..como se me sentasse sobre uma geração oblíqua

Percorro todos os claustros..passo as mãos por todas as lâminas

Sonho que os meus passos se recordam desse tempo sem vestígios

Estou aqui...mas solto o meu corpo em todas as direcções...será isto possível?

Será que ainda escuto os uivos da infância?

Poucas coisas me afligem..

Mas o sol que me cabe nas mãos ..é uma inconsistência da imaginação

À minha volta sinto o alheamento das estrelas..ergo a fronte...Thémis olha-me fixamente

Talvez em breve o meu corpo repouse numa arca de cânfora

E as minhas palavras sejam... afinal... apenas mais uma ponta das estrelas

Piso a lama...ignoro a gramática...converso com os mares...faço companhia a Poseidon

E nas conchas renasço...

 

 

Vivemos uma utopia democrática?????????????

 

Com a aparecimento das novas tendências antidemocráticas, o chamado populismo, é tempo de repensar a democracia. Um dos problemas da democracia é que esta foi decalcada do modelo grego, a democracia grega restringia-se aos milhares de pessoas que viviam em Atenas, é na passagem deste modelo para a nossa sociedade de milhões de pessoas que reside o problema da “nossa” democracia, que se reflete na falta de controle dos eleitos pelos eleitores. O eleitor após colocar o seu voto perde todo o poder sobre quem escolhe e sobre as políticas que o eleito vai aplicar, ou seja, a democracia directa, que permitiria o controle dos políticos nunca foi aplicada nem sequer consta de nenhuma Constituição. Na nossa democracia existem dois campos antagónicos, a igualdade e a liberdade, quem ganha tem o poder logo não é igual a quem perde, quanto à liberdade, só existe no acto do voto e logo caduca submersa por vários interesses, particularmente o económico. A pergunta a colocar é: quando poderá qualquer de nós falar no Parlamento e expressar as suas opiniões livremente e de forma a ser escutado pelos políticos e deputados? Só assim se pode a aperfeiçoar a democracia e dar realmente poder a quem vota.

 

Haverá vida depois da morte?????????

 

Kant considerava que "sem uma esperança no Além, a vida humana seria demasiado miserável e falha de sentido". Todas as religiões falam dessa esperança e dessa vida depois da morte porque é isso que dá sentido à vida dos que acreditam mas também é o que dá sentido à religião. Se a religião não propusesse uma vida para depois da morte também não existiria religião porque ninguém acreditaria em algo apenas lhe falasse da vida terrena. Mas o que me faz pensar é de onde vem essa crença que se perde na noite dos tempos? Quando é que o Homem começou a crer em Deuses? Todos conhecemos santuários dedicados a Deuses (que agora são para nós desconhecidos) com dezenas de milhares de anos. A nossa sede de imortalidade perde-se na noite dos tempos... e nós com ela.

 

Um dia..vestirás a vida

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Queres recordar a seiva da juventude e devorar a claridade do tempo

Mas os teus olhos são cegos para o estremecimento das coisas

Queres perseguir os astros ...e como se fosses um camaleão feito de luzes...

Ascender às raízes das aves e ao profundo medo dos lábios

Um dia..vestirás a vida com asas sibilinas..

Feitas com a penugem de pássaros enfeitiçados

Serás o olhar que nada deseja..o desamparo dos deuses...o caminhar das estradas

Aproxima-se a manhã..e tudo rebenta numa seiva de mares...

Todos os caminhos ouvem os teus fogos..

As tuas raízes afundam-se numa letargia de ossos foscos..

Sabes que no silêncio pestanejam injúrias..tu próprio adquiriste as injúrias só para ti

Como se fosse um sábado onde a cinza sepulta as mãos...

E sobes por ti como se não estivesses vivo..queres glorificar em ti todas as coisas

Alimentas-te de avanços e de memórias..de fragores..de luzes artificiais

Misturas-te com a pele e adormeces como um espectro...

Persegues o mineral da existência...a seiva que escorre dos abismos...

Talvez até nem sejas tu a respirar o medo das ruas..ou a loucura da inconsciência

Talvez até saibas que o destino espantou os céus...

Mas a solidão das águas..cresce como um desabafo...

Como uma estrela que decora o escuro...

E que se funde nos teus sólidos passos meio desertos

Nas tuas mãos guardas a transformação das coisas..as vísceras da idade

Talvez consigas adiar o movimento do fumo..mas os teus dedos permanecerão

Como pão fortificado pelo absoluto nada...

 

 

Pensei que o mundo se movia

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Pensei que o mundo se movia pelo calcanhar das palavras

E que a poesia era um tempo sentado em horas feitas de sólidas aves

Assim..de manhã ...os galos apelam ao renascimento da natureza

Os olhos abrem-se ...cheios de um tempo irrequieto

Por vezes sentimos a fome das coisas maduras..o latejar da cinza..

O lume que se esconde num esboço de deserto

Este mar chega-me...este fogo sofre..a estrada é uma duna impalpável

Sentei-me sobre o esquecimento...como se escrevesse um poema lunático..kafkiano

O único poema possível..aquele que voa sem perecer...

E há um tempo que permanece na invenção das horas..

Uma treva escondida no suicídio do mundo..como um voo de pássaro desarticulado

Será que as crianças se fixam dentro de nós?

E que dançam montando cavalos de corrida?

Sabemos que sob a impassível face do silêncio

Acordamos a contemplar o lento apelo das palavras

E as mãos..as catástrofes..as palmeiras que latejam sob a imobilidade dos olhos

Penso em inventar um rosto sólido..

Uma chaga ou uma alma de que me esqueça logo a seguir

Poderia jorrar como vento e recomeçar a noite em qualquer parte de mim

Como são precárias as litanias da paz

São com sombras vermelhas que perdem o peso ao cair da noite

Também posso ir à janela e incendiar o horizonte..correr riscos..sentar-me no inverno

Quero devorar aquela sepultura que zumbe como uma mancha..será possível?

Será possível que dentro do meu corpo haja um espaço desconhecido? Sideral?

Ou uma construção feita de peixes inacabados?

Por mim..apago todos os silêncios e todas as tormentas

Troco-as por um rosto que me diga....até amanhã...

 

Leves são as sombras

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Leves são as sombras que respiram na suavidade dos teus olhos

Enfeitam as nascentes onde a hera se cobre com celestiais luzes

Em ti pressinto o pórtico onde o Destino fala à alma

Em ti visito a flor dourada que nasce na quentura do teu coração

Antes de ti... havia uma escada sem fim e sem começo

As pedras eram secretos caminhos cravejados com folhas de bronze

Visitemos as serras e as falésias frias..os abismos..as lamentações

Um dia todas as folhas te enviarão mensagens..

E mesmo as que habitam estranhas árvores te conhecerão

Porque eu..humilde bússola enfeitiçada

Irei até junto das mais longínquas costas..serei a tua minúscula luz imortal

Porém..por entre todas as verduras se erguem castelos

E nos cumes escarpados se presentem anos de silêncio

Um silêncio que recorda...

O insaciável desejo de Redenção do Homem.

 

 

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