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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Tudo mudou..as coisas deixaram de ser coisas

Tudo mudou..as coisas deixaram de ser coisas..tornaram-se ridículas

depois daquele dia em que decidimos que devíamos ser felizes..ou não

as portas abriram-se e os nossos corpos que costumavam suar juntos..partiram

deixámos que a nossa respiração fosse por aí fora..perdida nas ruelas..como um esboço de nós

depois..queríamos espaço..perfeição...queríamos o absoluto dentro de um silêncio apertado

ainda assim...não tenho pena do dia em que te sorri e tu...fechada em metros de ausência..te abriste

hoje tenho imenso espaço só para mim..o meu peito habituou-se a amar o silêncio..

a fechar-se dentro de uma sala onde preencho a noite com coisas de ontem

eu que só queria fascinar-me com todas as tuas imperfeições..achava-te perfeita..devo dizer

acabei sentindo subir até mim o terror de te perder...

ainda vejo o teu vestido..subindo..subindo..e os olhos...ah os olhos..brilhando..brilhando...

eu que só queria que existisses dentro das minhas mãos..pegava-te..

e de olhos fechados tacteava o caminho até ao quarto..queria que fosses a minha flor sem rosto

eu...não resistia ao odor da tua pele...

e sentia que era felicidade a mais tocar-te no ponto mais íntimo do desejo

na janela ainda está o vaso onde punhas as flores para as borboletas

ainda hoje vi uma... enorme ..que te esperava junto ao vidro fosco

de vez em quando vou até lá..espreito e penso..vou deixar de ser como tu...

uma borboleta que espera a flor..que murchou...

 

E logo de manhã vejo a noite..

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E logo de manhã vejo a noite..enseadas... recantos..espigas imobilizadas no medo

Do alto descem dádivas..gestos coloridos..colibris alucinados..instantes madrugadores

Ao meu redor dispersam-se sons de harpa...

Será que me esqueci de ouvir o que resta de mim?

Da terra nasce a gravidez...começos de madrugada...ausentes pétalas macias

Onde será que fica a margem extrema?

A margem onde dos vagabundos descansam...o lodo..os peixes..os poetas

Onde será que dormem os peregrinos dos espelhos?

E onde ficam os restos das saudades dos pastores?

O pôr-do-sol banha as pétalas..húmus irreal..descanso de batalhas e obuses

Ainda tenho na lembrança o instante em que colori a cidade com sonhos adolescentes

Ainda me lembro dos néons..das avenidas..

Dos olivais em que divagava junto da fome ...numa azinhaga feita de pedras emudecidas

A cidade era o meu recanto sibilino..o caminho..a noite..as estrelas..espelhadas na rua

Em volta de mim amoras enterneciam-se com o calor do verão

Amadureciam em minhas mãos feitas de água e penedias

As agulhas dos pinheiros eram breves infinitos..esparsas rectas...areias tremeluzentes

Nada fazia crer que do medo nasceriam..

Olhos e unhas e finos fios que nos atavam aos bosques

Hoje tudo mudou..as mãos já não são areias..a noite são circunferências..

O silêncio é uma semente de aqui e ali...

 

Fátima e a tolerância de ponto

Esta ano por causa da tolerância de ponto,Fátima vai estar superlotada com funcionários públicos para as comemorações do centenário das aparições...só é pena que o governo não faça deste dia feriado nacional...sempre seríamos dez milhões a ir a  Fátima...

Prometo ser o centauro que galopa pela planície

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No líquido amniótico rebento como um triunfo da primavera

Olho as algas e flutuo em reminiscências de infância

Subterrâneos silêncios são meus cúmplices...desgastam as ondas..iludem

Côncavos sons emergem dos olhos embaciados..há búzios a flutuar nos copos..rimo-nos

Eu..sou o eterno mineral fosfórico...

As memórias são distâncias que já não percorro...desfaço-me em roucos vértices....

Longas ressonâncias de amores embaciados...dizem-me que não chegam as lembranças

Que em redor dos olhos há fundas grutas e longas estrelas

E eu prometo calcorrear os campos e incendiar os lábios

Prometo ser o centauro que galopa pela planície assombrada

Enquanto dou nomes às quimeras e às luas

Tu vais de lezíria em lezíria..de sol em sol...

Como uma ave que labuta na sombra escarpada das horas

E emerge sob a fluída maré..como se fosses o rio que passa dentro de ti

E na matinal lonjura das gaivotas...despeja o seu olhar enfunado...

 

o nosso negativo e o positivo

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Atentem nesta frase: "uma barata poderá destruir por completo o apetite por uma tigela de cerejas, ao passo que uma cereja em nada influi sobre uma tigela com baratas". Tudo o que nos causa repulsa é processado muito mais rapidamente e com mais impacto do que o que nos é agradável. O ser humano está programado para evitar tudo o que lhe é desagradável e para repudiar os sentimentos de frustração. É assim com a amizade e é assim com o casamento. Se no casamento a relação se baseia no que o outro tem de negativo, se o outro está sempre a evidenciar as partes negativas do cônjuge, é certo que essa relação não terá um bom fim, mas se a relação se baseia no positivo, certamente será possível limar as arestas negativas da relação. Com a amizade passa-se o mesmo, ninguém suporta que lhe estejam sempre a evidenciar as partes negativas sem contribuir com algumas opiniões positivas, pois se há amizade ela terá que se basear no positivo, muito embora se possam fazer críticas...

 

 Nota - a frase inicial pertence a Daniel Kaheman, Prémio Nobel da Economia

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Lá onde todas as almas clamam pela redenção..

E onde todos os destinos querem atravessar o fantástico pórtico do infinito

Porque há liberdade no sangue das aves..

E as calotes polares tremem de nojo perante o aquecimento das sombras

Lá junto à hera que escuta as nascentes que alimentam a sede do meio-dia

Há um longo momento em que as montanhas se parecem com seres alados

E até onde a vista alcança há prata e abismos sobrepostos à saudade

Porém..nas trevas do enigma há uma alma quente

Uma alma que conhece a sombra escarpada do Destino

Como um presságio...ou uma criança que não nasceu

E que espreita por entre o verde da folhagem....

A hora celestial em que os homens adormecem..

 

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