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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Sabemos tão pouco

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Sabemos tão pouco dos dias em que quietos iludimos a ternura

Sabemos tão pouco do vento que nos afagava as palavras ternas

Havia a fogueira e uns lábios embaciados..

Havia o sal que escorria pelo teu ombro... e eu mordiscava com um sorriso

Hoje abro os olhos e vejo luas e manhãs..mas não encontro os nossos corpos

Se eu conseguir que a morna tarde se prolongue pelo universo..talvez tu voltes

Talvez me digas que já não encontras outros dedos para enlaçar

E que os papéis que o vento levanta são despedidas de amores atrasados

Guio-me pela tua ausência..como um rapaz que trai a sua pele

Descubro que já nada me chega..

Que a minha bebedeira é um aconchego de feitiços

E que tenho os olhos cheios de gavetas..vazias...

 

Ainda consigo lembrar-me

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Ainda consigo lembrar-me da paixão que sentia...

Quando o mar me desanuviava a cegueira

Ainda me recordo da voz que ecoava na rubra maresia da tarde.

Havia chamas imensas...insaciáveis apelos ao corpo..

Feridas que a luz distraída alumiava

Havia a fome de uma ânsia gretada pelo orvalho

Excessiva ânsia que tremeluzia por dentro da ferida que alimentava o coração

Já não sei onde estão os séculos e o esplendoroso tempo das poeiras

Já não sei mesmo se a penumbra é uma chama que grita por silêncio

Já só quero chegar ao ponto mais profundo de mim..

Atingir aquele vértice que a pieira dos dias alumia

E ali..deixar o meu corpo perder-se..permanecer imóvel perante o mar

Ser o olho e o voo intrépido da água..

 

 

é no meu país

é no meu país que vive a única vida para que despertei...

a montanha que tenho que subir...

e ao mesmo tempo que esgarço a terra com a língua ...

é com ela que vou desenterrando todos os sonhos possíveis...

 

 

A opinião

Uma opinião sai dos espíritos voluntária ou involuntariamente...sai voluntária a opinião falsa...sai involuntária a opinião verdadeira...Platão...

Enternecidos poemas caem do sonho

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 (Dali - a persistência da memória)

Enternecidos poemas caem do sonho que vibra na alma fresca da noite

Em redor de nós..a madrugada fustiga o sono incerto dos agapantos

Abandono-me à voz que me acorda..aos vidros espelhados da tempestade

Sou como o marinheiro que desperta perante a imperfeição do leme

Sou o adolescente sono que cobre a fantástica água da nudez

E as promessas...são percursos cheios de armadilhas subtis

Sei que dentro de ti mora a face nua dos sorrisos..o vício de seres imperfeita

A oferta dos ombros despidos...o cortante vento que cobre a nossa embriaguês

Agora já não importa que a noite se cubra de filamentos nervosos

E que o vinho se entorne pelas palavras e desça até à nossa pele

Convenientemente..agarro-me à jaula onde depositei a minha loucura

Rio de coisas que os copos me contam...tenho nos lábios o desgaste das luas

Tremo perante a teia que a ternura obscurece...

Mas dentro de nós descobrimos sempre mais sorrisos

E a fresquidão da luz trás até mim os olhos do mar

Sobreviverei ao caminho que toca os meus pés de náufrago cambaleante?

Ou insurgir-me-ei contra o vento que me surpreende junto à janela?

Vento que me diz que há uma noite que queimei junto a ti

Há muito tempo....

 

Fotos a preto e branco

 

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Fotos a preto e branco
São fotos de memórias descoloridas pelo  branco do tempo
Memórias que me oprimem quando as observo
Porque já não recordo o momento
Fotos paradas no tempo...petrificadas...
Esvaídas da memória..recordações extintas...
Cobertas de uma névoa irreal...muda...
Rosto e corpo esculpido num papel baço
O meu ser tenta voltar a esse tempo
Como uma tempestade em remoinho
Como quem procura atear fogo a uma memória apagada.

Calados ficaremos a fingir que somos sérios

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 (Dali - faces da guerra)

Calados ficaremos a fingir que somos sérios
No dia em que flutuarmos na palavra felicidade
No dia em que a nossa imagem...abrace o Absoluto...
No dia em que a nossa resignação console a realidade
No dia em que as ilusões sucumbam ao prazer
No dia em que santificados...nos cresçam asas nas costas...
No dia em que o amor seja tão verdadeiro como a morte
No dia em que o prazer não seja imaginado...mas verdadeiro...
No dia em que o nosso peito exulte... por nós próprios
Nesse dia em que seremos grandes...infinitos...redentores...