Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Estranhos seres...os humanos

 

Todos os homens nascem da mesma fornalha e do mesmo molde e são feitos com os mesmos materiais, são portanto iguais no formato, no entanto valoriza-se o que tem mais poder, o que mais oprime e o que mais manda, em detrimento do mais bondoso, do que mais distribui, do que mais se equipara aos seus irmãos. No entanto vivemos nesta sociedade absurda, onde os sentimentos são impostos pelas regras do ter e que se assim não for o mundo desaba. A matéria de que somos feitos veio dos confins do Universo, provém de um tempo onde não existia nem maldade, nem dinheiro nem ambições, somos portanto filhos do Nada, e como estamos entretidos a ganhar dinheiro não queremos perceber que para o Nada voltaremos.

 

 

Sócrates e a morte

images.jpg

 Há uma grande esperança de que a morte é um bem.É que o morrer é diferente de duas maneiras:ou o que morreu já não é nada e não tem consciência de nada, ou, segundo se diz, a morte é uma mudança e uma passagem da alma deste lugar para outro.Mas, se não tem sensibilidade nenhuma e se a morte é um destes sonos, em que adormecendo, não  vê nada mesmo em sonhos, então a morte seria um benefício maravilhoso. (Julgamento de Sócrates, que acabou com a sua condenação à morte, pela cicuta)

Muitas flores aprisionam estrelas

roberto-pireddu-12.jpg

Quando os meus olhos se ergueram e as flores desabrocharam

As minhas mãos subiram pelo nevoeiro e descobriram a tua pele cálida

As sombras ganharam a forma de mitos..os cavalos incendiaram-se

Também ouvi a ressonância das cores e a lua emitia uma luz de jade

Muitas flores fazem o vento espalhar o aroma dos feitiços

Muitas flores aprisionam estrelas na sua pele

E mesmo que as feiticeiras digam que as sombras são de vidro

E que as imagens são feitas de papel amarrotado

A minha voz adormecerá nos caminhos desse país dos tigres

As notícias virão do outro lado da rua

Os cabelos serão fogo latente...e um pedaço luz cuspirá a atracção dos astros

Os olhos perder-se-ão na pressa mágica dos delírios

E as cidades nunca mais serão as mesmas...

 

Julgamento de Sócrates

socrates.jpg

 (julgamento de Sócrates)

Perante os juízes que acabarão por condená-lo à morte Sócrates diz o seguinte:" Enganam-se os que julgam que um homem, por pouco valor que tenha, deve tomar em consideração a possibilidade de vida ou morte, em vez de considerar apenas se o que age é justo ou injusto, se pratica acções dum homem bom ou mau".Velhos tempos em que a honra das boas acções se sobrepunha à ganância, à inveja e à estupidez.

Conheço esta rua

10-07-2016 577.jpg

Conheço esta rua como se vivesse nela...guardo-a em mim todas as manhãs

Levo-a até ao mais longo desfiladeiro...sinto-a como se domasse um sonho

E também levo comigo as pessoas que passam ao meu lado

Guardo-as dentro das mãos..respiro o seu ciclo lunar...

Hei-de senti-las pulsar dentro de um espelho..quer queiram ou não

Um dia...penso que vi um cavalo a brilhar sobre a sombra da vida..

Sonhei? Ou era eu o cavalo que vivia dentro de um indecifrável relógio?

Abrem-se janelas.. o meu sonho é viver dentro de cada uma..levá-las comigo

Aprisionar a perfeição dos dias..como se vivesse dentro de uma espiral com olhos de lince

Às vezes as minhas mãos sobem até aos degraus onde a existência se apaga

Libertam-se das noites e convertem-se à eternidade das paredes..

Sobem por elas..a pulso

Se me chegasse uma mensagem gravada na saudade? Que me diria?

Talvez me falasse daquela manhã em que confundimos o mar com o céu

E que o peso das horas é uma eternidade dentro do corpo

Há chamas no meu sangue..conversas como espinhos que se cravam na pele

Aparentemente a cidade desgasta-se nas esquinas

Aparentemente os corpos assombram a lua

E o sentido das coisas faz-se de coisas sem sentido

Mas amanhã o sol é capaz de me devorar..

E tudo cumprirá o seu ciclo de papel amarrotado pelas frases que se libertam das pessoas

A madrugada desponta... a manhã consome os meus restos..

 

Quando os anos dormirem sentados sobre as searas

1908696.jpg

Quando os anos dormirem sentados sobre as searas

E os dias forem avassaladores cantos sibilinos

Devorarei a tua imagem distante e voltarei a ser o magnífico porta-estandarte da loucura

Levarei comigo as ruas e o canto das cigarras...serei o anónimo alimento do meu inferno

Nas manhãs em que a chuva cai sobre a alegria..aproximar-me-ei de ti

E sentirás a respiração do lume..que aceso no outono...cai sobre as mansardas

Não falo para te dizer que me estou a reconstruir..a misturar-me com a demora da morte

Mas mesmo assim avanço para dentro da chuva..respiro só para dizer...poema

E procuro na fuga das cotovias o alimento que adorna o romântico despertar da noite

Alegre...alegre dia...alegre azul impossível da pele..

E tudo me cabe como uma noite de amor

De manhã...já eu saltei para o bulício do destino

E o fogo que sai dos meus lábios encandeia o pouco que sei de ti

Há uma noite no coração..há uma memória que ilustra o desejo de ser pássaro

É uma memória estranha..ergue-se dentro de mim como uma tenás..ou um anjo profético

Quantas vezes se pode perder a vida?

E quantas vezes a podemos encontrar dentro de nós?

Suspiro sobre as mãos onde guardo traços do teu corpo

Tenho as palmas das mãos corroídas pelo desejo de dizer o que não sinto

Se eu te tocasse...

Se tu soubesses o mínimo possível das partes que em mim te pedem para ficar

Talvez reconhecesses que pensar sobre as coisas é amá-las...

Como se ama a ausência dos santos..ou a demora das palavras..que dizem...

Sinto-te...

 

 

Misteriosamente regredimos no tempo

 

Misteriosamente regredimos no tempo, voltámos à escravatura consentida. Hoje ser escravo do trabalho é sinónimo de estatuto social, quando deveria ser de miséria social. Ser escravo do trabalho é não ter tempo para a família, nunca estar descontraído, levar o computador para trabalhar nas férias e o mais grave de tudo é estas pessoas pensarem que estão correctas e que são insubstituíveis.

 

 

Há uma maneira de dizer as coisas.

3816434-Stock-Foto-Herbst-Baum-mit-gelben-Bl-ttern

Há uma maneira de dizer as coisas..um sol que respira nas mãos calejadas

Um caminho onde os espelhos me mostram os sentimentos das tardes

Sento-me sozinho..contente..e descubro que os outros são estranhos seres alados

E é exactamente por isso que estremeço na minha cadeira de verga-desbotada

Podia ser um cego que caminhasse pelo olhar dos mortos ao fim da tarde

Mas sinto-me mais como se fosse uma palavra que não sei dizer

Sou a apóstrofe dos astros e vivo como sempre fui..um devorador de luz

Um amarelo-ensanguentado..um acendedor de seivas..sibilino e desengraçado

Conheço também as penumbras e os factos que os lilases escondem

Nas minhas costas crescem casas desabitadas...mortificam-me esses lares inseguros

E na minha frente estão as palavras que não consigo escrever...avanço de folha em folha

Descubro no branco estagnado das linhas o começo das sombras

Não desejo nada..sou como muitas outras pessoas...uma cor feita de claridades

E por muito que pense no destino..

Pairarei sempre como um sino sobre um manto de ossos

Concerteza que as coisas darão pela minha ausência..

E a loucura preferirá lavar-se noutra água

Eu...só darei pelo medo quando o meu pensamento pestanejar dentro de uma redoma

E mesmo assim...o mais certo é levantar-me e caminhar pela casa..nu como um dia frio

Penso que me sentiria bem

Se a penumbra me elucidasse sobre as raízes que me fortificam

Dou voltas e voltas a mim..e sonho como um camaleão..devoro-me totalmente

É uma boa maneira de dizer que estou aqui...

Esta ou outra tanto faz..

Gosto que as minhas palavras se escoem pela luz da tarde

E que no sossego dos sonhos viva uma outra vida...talvez a vida de um plátano

Que usufrui do sol..mas dá sombra...