Uma rosa será o centro do mundo
Vi um tempo amargo em cada esquina..um reluzir de sinais a engendrar vazios
Conheço os tempos insaciáveis..as rimas dos exilados..as serpentes
Agarro-me às luminosas paisagens...de repente parece que as chamas se apagam
As utopias que arderam num torvelinho..são apenas esqueletos de ideais
Procuro a lógica da harmonia..o caos do corpo..o desapego das solidões
Que eu me arraste..que eu beba as inversões das fotografias...
Que torça as rimas..e que a semântica se evapore..
Das águas nascerão as mãos convulsas..a delicadeza das falas maternas
E do agitar das ruínas..virão vagas ferrugentas..blocos de pedra em decomposição
É possível que algum dia as sombras se dilatem...
Que as Hydras se afoguem..e que Delfos se engane...
Chegará o silêncio..as folhas serão tapetes dourados...
E uma rosa será o centro do mundo
De todos os destroços..talvez se erga um Deus desconhecido..
E um soturno piar de coruja será a chave que abre a noite encardida
Nada restará da desordem dos átomos..o vento retardará o aroma dos sentidos
Nada chegará ao fim...tudo será princípio
Talvez vejamos o zénite da alegria a descer numa nave de sombras
E na selva escura se revoltem as luzes das estrelas
Desagrega-se a alma..fuzilam-se as palavras..e o que resta...
É a beleza das constelações aflitas...por não verem homens..