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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Cores da manhã...

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Cores da manhã...cores de abril ou maio..cores sem rumo cravadas nos olhos

Cores sem sentido..atravessadas por quilhas de navios fantasmas

Impregnadas de veias paradas no tempo

Cores que surgem nas folhas secas..caídas dos relógios..dormentes como flores de cristal

Reconheço o sentido das coisas..nas pétalas esmagadas...

Nas asas estilhaçadas dos pássaros...nos jardins..na poeira..nos meus restos

Nos livros arrumados em estantes feitas de memórias

Em cada estação há um sobressalto...uma sombra que cheira a sonho...um tilintar de luas

Quando a manhã se aproxima..acordam-se as mesas..as sebes..os corpos esquecidos

Quando a manhã se aproxima..abrem-se portas...correm-se ferrolhos...a noite partiu-se

Relâmpagos eclodem nas árvores mais despidas...melancolias trepam pela pele

Dobram-se as pálpebras...comem-se desertos...sempre...sempre...

Como aves que cantam no cimo das colinas...

Os ramos das árvores falam das sílabas do tempo

E nós..dizemos poemas nas tardes de jasmim...

Como se fôssemos perseguidos pela sombra do sul...

E bebêssemos sobressaltos..por chávenas manchadas de sonhos...

 

Falo da impossibilidade de ser homem..

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Falo da impossibilidade de ser homem..e arma..e pétala

Falo da transformação das quilhas e da cal que sustém os símbolos

Falo do iodo e da memória..do remo transido de medo..da mão feita de cravo e canela

Falo das tempestades e dos relâmpagos..das queimaduras.. e das guitarras

E... se as palavras não chegarem..se as areias se mancharem de corpos

É porque a terra é um astro agarrado a fios de sangue..a sussurros de fotografias

A gavetas onde as lágrimas se escondem dos olhares...o vinho impregna os ares

O sílex marca o lugar onde mastigamos carvão e cinzas...vestindo veludos ardentes

Nas cavernas nasce o anoitecer...a aspereza da rocha contém o nosso nome

É esse o nosso destino...comer carvão...beber cinza...

E guardar dentro de nós o fogo que as nossas mãos constroem...

Porque os vidros movem-se por dentro das primaveras...

E a verdade dos rostos é a flecha que emana da tinta das palavras..

 

 

 

O saco do pão...

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Pequenas coisas..pequenos gestos..pequenas lembranças...antigamente, antes da idolatria dos sacos de plástico, havia o saco do pão..íamos à padaria com aquele saco feito de tecido enfeitado com bordados, ou feito apenas com restos de trapos...Há algum tempo atrás a minha mulher resolveu retomar essa hábito ancestral de ir à padaria com um antigo saco do pão, herança da avó...e foi engraçado ver o ar espantado de algumas pessoas que lá se encontravam, até a padeira, mulher criada lá para os lados de Penha Garcia, e que ainda se recorda desses tempos, disse que já não se lembrava de quando é que alguém tinha vindo comprar pão e trazer o saco...

Isto é apenas um exemplo de como podemos mudar os nossos hábitos de consumo e sermos mais amigos do ambiente...

 

Não nascemos para sofrer

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Não nascemos para sofrer, mas o sofrimento nasce dentro de nós..pergunto-me qual será o sofrimento de uma pessoa para que ela prefira tomar algo que a tranquilize, um comprimido que lhe vai impedir de pensar por si própria, que lhe vai impedir de estar em contacto com o mundo real....será a realidade tão dura assim? Ou será que nós nos esquecemos de preparar o espírito enfrentar para as dificuldades? Queremos tudo já..queremos que a dor passe..ainda que seja de forma fictícia...

 

Crescemos com as coisas simples..

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Crescemos com as coisas simples..as pequenas coisas..

Pequenos legos coloridos por emoções..construções de lágrimas..invisibilidade

Crescemos agarrados a uma mão..a um dia..a um lugar secreto

Um lugar que nunca atraiçoamos...a um ruído intermitente de relógio..tic-tac...tic-tac

Crescemos com as pupilas dilatadas pelos abraços..perdição de pele emaranhada em arrepios

Crescemos quando o amor nos diz...que eu sou o teu sentido da vida..e tu..o meu

Crescemos sem o embaraço da filosofia..que importa a filosofia que fala da perda e da inutilidade?

Se os mais recônditos lugares estão cheios de ti...e de mim...

E se nos pânicos a nossa pele se descobre..é porque lá é o começo da poesia

Anda mais depressa..acorda a rua...trás-me um perfume nocturno..um abraço obsceno

Crescemos...porque sabemos que nem sempre estaremos..que o futuro é um lugar de perdições

E que no peito...bem lá no fundo..há um aperto..um estrangulamento de felicidade

Por favor..diz-me que me deixas ver o teus cabelos esbranquiçarem..cresce comigo

Deixa que o teu sorriso venha gravado nas palavras...respira fundo..hoje quero amar depressa

Amanhã... talvez me doam as costas...talvez sinta aquela faca a cravar-se dentro do meu peito...

Mas hoje...cresce comigo...até ao profundo choro das coisas...

 

E vamos como dunas enfunadas..

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E vamos como dunas enfunadas...excessivas e fugidias

Em nós brilha a luz..o fim...a sílaba que salta do cardume prateado

Nos oceanos moram os sonhos..as coisas sem nome..o corpo quente das distâncias

Esperamos que as marés nos tragam a garrafa... o corpo.. a ânsia..

A mensagem que diz para não nos perdermos...trouxe-a um peixe..

Carregou-a de significados...separou-a dos pensamentos...

Já não há rostos a acenar...os combóios agora são apenas fins de cidades

As sensações são agora coisas que balbuciamos... asas de pássaros submersos

Corpos de algures..abandonos de flores...murchamos...

Murchamos pelo excesso de palavras..murchamos porque os rios são sementes de lodo

Murchamos..quais golfinhos sem cauda e sem família..abandonados ao frio das redes

Corpo de homem e cabeça de marinheiro..maré..maré...estrela afogueada

Elemento primordial da divisão das estrelas...fim e infinito..onde?

 

O futuro do pleno-emprego está no...pleno-desemprego

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Grande parte dos empregos serão perdidos nos próximos anos por causa da automatização. Curiosamente será a robotização que nos irá trazer mais tempos livres. Como o mundo não anda para trás, o que vai acontecer é que se não for criado um sistema de distribuição da riqueza, os robots podem produzir muito, os patrões podem ficar felizes porque não precisam de empregados, mas....quem lhes irá comprar os produtos se as pessoas não tiverem dinheiro por estarem desempregadas? A solução para isto chama-se pleno-desemprego,que é o contrário de pleno-emprego. A partir de uma certa idade as pessoas irão para casa e ganharão um ordenado pago pelas empresas e pelo estado, por outro lado não será preciso trabalhar mais que duas ou três horas diárias, finalmente teremos o ócio como sistema de vida. Muito embora isto pareça ficção, no último congresso de Davos, as multinacionais já debateram este tema e a forma como se poderá no futuro próximo, distribuir os lucros de forma que todos possam aceder ao comércio, elas sabem que sem poder de compra por parte das pessoas as empresas não vendem, portanto de nada vale a automatização se não houver um mercado pujante.

 

A tua ausência é um cheiro que guardo..

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Na minha memória tenho o teu corpo entrançado...

A tua ausência é um cheiro que guardo...um rosto...uns lençóis

Demoro-me no meu deserto..esqueço a noite e corro pelo vácuo

Sonho com a tua última visão..poeta..peregrino amarelecido pelo esquecimento

Nunca mais voltarei a cantar com a tua boca...

A dizer-te que nenhum outro rosto se sobrepõe ao teu

Vejo a neve... a frouxidão dos corpos..cordilheira de gritos..dedos e sede de pele

Sonho que sou o canto da ave...o andarilho do violino..

Persigo a quimera que se derrama dos dias..busco nas flores o êxtase do teu lugar

Mas a corrosão dos caminhos é um espaço desabitado...uma lua fingindo ser luz

De manhã percorro a monotonia que se derrama pelas ruas

Bocados de coração chegam-me à boca..desfaço-me em lugares esquecidos

Afrouxo o passo..escuto o silêncio a esvair-se por mim adentro

Cismo pertencer à imobilidade do dia..sei que em todos os lugares à abandono

Ausento-me do sonho de te reencontrar ...

Finjo ter asas de mariposa...coloridas como sementes de paz...voo...parto...

São horas de reflorir....