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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O divórcio

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Segundo as estatísticas cerca de 70% dos casamentos ao fim de cinco anos acaba em divórcio..eu penso que são os complexos de Édipo e de Electra a funcionar nos adultos, ou seja, todo o homem procura ( ainda que inconscientemente) a sua mãe, e toda a mulher procura o seu pai, quando a divergência entre a imagem procurada e a realidade é muito grande, dá-se o divórcio. No entanto surge um problema, é que todos os homens procuram ser diferentes dos sogros e nenhuma mulher quer imitar a sogra..perante isto o melhor é cada um deixar-se de ilusões e procurar entender o parceiro....

 

Podemos ser algo para uns...e nada para outros

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Por vezes criamos estereótipos, achamos que as coisas ou as pessoas ou são preto ou branco, mas ninguém é totalmente bom ou totalmente mau..é o célebre enigma do eunuco que diz o seguinte:

Um homem que não é um homem...vendo e não vendo um pássaro que não é pássaro..pendurado numa árvore que não é uma árvore..ataca-o e não o ataca..com uma pedra que não é uma pedra...

Solução - o homem que não é um homem é um eunuco..vendo e não vendo quer dizer que o homem era cego de uma vista...o pássaro que não é um pássaro é um morcego...ataca-o e não o ataca quer dizer que o ataca mas erra o alvo...a árvore que não é uma árvore é um salgueiro..a pedra que não é uma pedra é uma pedra-pomes...

Quer dizer que todas as coisas podem ser e não ser...tal como todos nós podemos ser algo para uns e nada para outros...(Enigma descrito por Platão em A República)

 

 

O sonho impossível...

 

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Fabulosos passos..chuviscos.. sombra de águas distendidas

A mudança..muda...o mito..a erva foge dos corpos...a esperança escorre pelos juncos

O poejo cresce dentro de nós..o amor ausenta-se...a lua suja-se

Ao longe vozes feitas de areia cheiram os despojos dos corpos

Muralhas erguem-se no vácuo..lençóis lavam-se no sarro dos dias

O sono desperta nas fotografias...a cal cai das paredes...paradas..irrelevantes

A boca insiste em falar das coisas ausentes..demoras..dedos..o teu cheiro

O deserto revela-se..há um desastre em cada oásis..uma túlipa em cada coração

A sede devasta o interior dos corpos..assombra o esquecimento..cai sobre a poeira

Os dedos amarelecidos..o inverno cauteloso...o dia de papel...

Fanático como a Alqaeda...desenvolvendo-se em rotinas assassinas...

Que rosto se revelará nos dias escuros?

Que promessas eclodirão no aço das flores?

Que seiva morna escorrerá da sede?

É tempo do sonho das aves..do abandono das sementes...de cantar

Eis aqui o dobrado afluxo do sal...a triste visão das mãos caídas..o aperto nos lábios

A alucinação inocente...as asas..as velas...o sonho impossível...

Enfim sonhado...

 

Estar satisfeito com a vida não depende do dinheiro..

Estar satisfeito com a vida não depende do dinheiro...depende dos objectivos que cada um traça para si, claro que se o objectivo for ganhar dinheiro, quem o ganha concerteza que fica satisfeito, mas há outras pessoas cujo sentido da vida não é ganhar dinheiro, mas ser livre. Em relação ao dinheiro há pessoas que são (ou pensam que são) felizes por o possuirem, no entanto não têm tempo para o gastar, são escravas dele. Com isto quero dizer que a satisfação de cada um depende apenas de si.Se considerarmos por exemplo, os budistas, que praticam o desprendimento dos bens materiais verificamos que são felizes com muito pouco,outros poderão sentir a necessidade de possuir, mas possuir algo é apenas ilusão de ser dono de algo, é por isso que os ciumento(a)s sofrem, têm medo de perder o outro,e ilusoriamente pensam que possuir é ter poder sobre o outro, mas não há maior poder que o de nos sentirmos felizes com o que conseguimos.

 

Loira seara...

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Loira seara...rubra papoila que danças no bojo do céu

Luta anémica..aventura..despedida de bala..sacrifício de espiga parida

Há mudança naquilo que cresce..no frio e na chuva e nas nítidas sílabas das cidades

Na lapela poiso a memória..evoco a demora..descubro rostos

Pela pele dispersam-se fios de agulhas..pontadas..finais de pássaros felizes

Uma parte de mim diz que invento a planície...

A outra corta a direito perde-se em labirintos de algures

No fundo..tudo são sonhos..aves enfeitiçadas..sustos

Anjos assustados percorrem as aldeias..perdem-se nos rostos enrugados das mulheres

A esperança continua a mendigar..dorme...sonha..cai dentro do bafo quente das macieiras

Em todos os caminhos há luas..e musas e assustadiças cigarras..

Verão apolíneo...despedida de poeta na flor do anjo caído..garra de céu dormintando

Clamo pelas manhãs..abandono de monotonias..corpo de enseada onde moram medusas

Percurso abandonado....ameno mergulho no infinito

O cavalo trota..a morte galopa..a seta aponta à cabeça..assusta

Nos espelhos invento imagens...no olhar atento dos peixes vejo cabeças de pássaros

É a luz..ou a bola..ou a meta do corpo que tenta que as flores desabrochem em pleno inverno

As saudades perdem-se pelas florestas..o frio é um fruto semelhante ao instante

Nas raízes das rosas trocam-se amores..nas pastagens as pétalas alimentam os odores

terra..troca..cais de coração abandonado..remo e luz..fragata de lua

Os peixes saltam..abril é uma lembrança..é a lucidez das trincheiras a esquecer a guerra

O futuro é uma mansão esculpida em granito..guarda de luz...vontade de partir

O meu cérebro clama por mais formas..mais palavras..há mel nas recordações

Devoro o fundo da lama..planto avenidas...tudo se confunde com a realidade

Íntimo rio...frio..o vento dá asas aos peixes..os dedos riscam as águas...

Estremeço...

 

A intuição tem por base a experiência de vida

Muitas vezes olhamos para uma pessoa e achamos que não gostamos dela, não sabemos a razão mas algo nos diz que não é de confiar. Outras vezes pressentimos que algo vai acontecer, e muitas vezes dizemos a frase:" eu já sabia que isto ia acontecer", a isto chamamos intuição. Mas a intuição não vive por ela própria, o que nos diz que algo vai acontecer ou que não gostamos de determinada pessoa, são as experiências que vamos armazenando ao longo da vida, são elas que nos permitem ter os tais "pressentimentos", a intuição não é formada sobre algo abstrato, tem sempre por base a experiência de vida e são todas essas vivências que formam a intuição.

 

A tua pele era um imenso mar.

A tua pele era um imenso mar..uma flor feita de pássaros garridos

Há um tempo esquecido em cada cansaço..uma luz que não regressa...uma despedida

Perante a tágide que voa no tempo que cai..como a fluida ave que rasa a sombra

A lucidez da pupila renasce..o rio devora as imagens...a labuta..os despojos

Nas gaivotas flutuam tragédias..comboios passam rente às recordações...a luz aquece

A maré submerge os varais...assusta os pensamentos...

Reflete-se na alucinação dos mares..confunde-se com a pele dos homens

A pele daqueles que caem..jazem...dentro de um frio marítimo...matinal

Melodias aconchegam-se no ar..são sementes renascidas..feitas com pautas de algures

Há suor...há uma dívida para com o perdão...um rosto perde-se..ecoa na paisagem

A pele efectua uma contradança..eclesiáticos tempos...os templos devoram as cidades

Mas o cansaço avança....mudo..surdo..os pássaros voam..tudo muda..nada muda...

 

 

As crianças, as vacinas e os pais

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Se um pai ler que a vacina que protege a criança contem um risco de 0,001% de a tornar um ser com incapacidade permanente, o risco parece pequeno.Mas se se disser que de 100 000 crianças vacinadas uma ficará permanentemente incapacitada, neste caso o risco já parece muito maior. Embora o risco seja o mesmo, a forma como a frase é escrita condiciona a decisão dos pais, ou seja, a segunda afirmação parece conter um risco muito maior, é por isso que é muito importante a forma como se veicula a informação. A isto chama-se a negligência do denominador, e quem o explica é Daniel Kahneman, Prémio Nobel da Economia.

 

Sou um vagabundo dos instantes...

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Sou um vagabundo dos instantes... corro dentro de um relógio

Esqueci-me da cidade e afastei-me como um barco carregado de histórias

Não há medo nesse matagal de memórias..nessas meteóricas madrugadas de ausência

Circulo rente aos poços...conto lendas ao sono das paredes...páro para bocejar

De um momento para o outro..o ar cai sobre mim...vibram raros segredos...

Sei que uma nova epopeia vem aí...todos os dias a lucidez me persegue..

Sou o circuito errado da noite...o olhar vítreo de Camões..o espelho de Cabral..

O sono fantasmagórico das luas

De que cor são as ruas que escorrem dos subterrâneos?

Como são os mundos que dormem no fundo da noite?

Luminosas pálpebras convidam-me a escutar as vergônteas..sonham com estrelas..

Esquecem receios...sabem que o céu está pejado de nódoas...e que os sorrisos corroem a pele

Depois...as medusas parecem fantasmas..flutuando sob a cegueira das ondas,..

Sempre..sempre...com o desumano fundo do mar a puxar-nos para dentro de nós

Como um ardor que murcha os dias..ou uma visão que atordoa as pálpebras

Somos a reminiscência da terra..a mortalha dos deuses..

A casa desarrumada de Cronos...

 

 

Penso no cais longínquo

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Penso no cais longínquo que me espera..nas hortas..nos bocejos...

Resisto aos dias..fecho-me numa equação sem fim à vista

Se a pedra onde me sento for mágica..então o sonho cintilará...e à força da matemática

Os poços darão frutos...e as crianças não se afogarão nas nossas histórias

O ciclo dos olhos distende-se para além dos retratos...os rostos cabem dentro da chuva

E o sangue das memórias corre pelas pranchas suspensas sobre a areia

Húmidas manhãs cantarão dentro de nós..

E o sarro das saudades já não trespassará a alma...

Vem até mim a sombra dos rostos infinitos ...o choro de um mineral antecipado..

Tudo se conquista..até os vidros embaciados nos falam da imortalidade

Junto à chuva vejo poemas..

Dobro-me aos sonhos...que são como voos de crianças cintilando nas avenidas

Perfuro o cansaço..acedo à epopeia dos descalços...magoo-me...reflito

Volto a cara para a gestação dos meses..mar e mais mar...sol a pino...poeira de salmoura

Ah se eu pudesse brincar com a ilusão de ser leme..

Partir as ondas..lembrar-me do meu corpo..ser um desejo ou uma lembrança

Nunca mais vou temer a vergonha de não ser brilho...

Disseram-me para olhar os barcos...ver nas estrelas salgadas..a viagem das conchas

Mas o sol salta sobre mim..empurra-me para a minha própria suspensão...

E na iridescência salobra do fogo..

Acordo dentro de uma sombra...