Loira seara...rubra papoila que danças no bojo do céu
Luta anémica..aventura..despedida de bala..sacrifício de espiga parida
Há mudança naquilo que cresce..no frio e na chuva e nas nítidas sílabas das cidades
Na lapela poiso a memória..evoco a demora..descubro rostos
Pela pele dispersam-se fios de agulhas..pontadas..finais de pássaros felizes
Uma parte de mim diz que invento a planície...
A outra corta a direito perde-se em labirintos de algures
No fundo..tudo são sonhos..aves enfeitiçadas..sustos
Anjos assustados percorrem as aldeias..perdem-se nos rostos enrugados das mulheres
A esperança continua a mendigar..dorme...sonha..cai dentro do bafo quente das macieiras
Em todos os caminhos há luas..e musas e assustadiças cigarras..
Verão apolíneo...despedida de poeta na flor do anjo caído..garra de céu dormintando
Clamo pelas manhãs..abandono de monotonias..corpo de enseada onde moram medusas
Percurso abandonado....ameno mergulho no infinito
O cavalo trota..a morte galopa..a seta aponta à cabeça..assusta
Nos espelhos invento imagens...no olhar atento dos peixes vejo cabeças de pássaros
É a luz..ou a bola..ou a meta do corpo que tenta que as flores desabrochem em pleno inverno
As saudades perdem-se pelas florestas..o frio é um fruto semelhante ao instante
Nas raízes das rosas trocam-se amores..nas pastagens as pétalas alimentam os odores
terra..troca..cais de coração abandonado..remo e luz..fragata de lua
Os peixes saltam..abril é uma lembrança..é a lucidez das trincheiras a esquecer a guerra
O futuro é uma mansão esculpida em granito..guarda de luz...vontade de partir
O meu cérebro clama por mais formas..mais palavras..há mel nas recordações
Devoro o fundo da lama..planto avenidas...tudo se confunde com a realidade
Íntimo rio...frio..o vento dá asas aos peixes..os dedos riscam as águas...
Estremeço...