Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Chegamos com obscuros olhos..

Chegamos com obscuros olhos..rasgam-se em nós mapas e arquipélagos

Sentimos as palavras que nos alumiam..somos medo e granito...somos segredo

Na brancura dos nossos passos dormitam sombras..mistérios...remotas eras

A vida surge ao nosso olhar como a alucinação dos promontórios

Mares e tempestades assolam a nossa alma...

Os pântanos são planícies feitas de prata suja

Construímos lendas a partir dos sinais que as velas ostentam...

Apontamos o dedo aos martírios...

E descobrimos que dentro da tempestade há um perfume inebriante

Sabemos que pertencer à tribo das constelações é como uma febre

Uma febre que nenhum termómetro assinala

Assim..há que alimentar o nosso rosto com novas paisagens

Há que caminhar pelos dedos dos alucinados...ser a pelagem da vida

E se descobrirmos no canto dos barcos as rotas desconhecidas

É porque dentro de nós ainda vive um sonho inacabado

Um sonho que nenhum mar corroeu...nem nenhum sal desbotou

Sabemos que cada vento trás consigo um poema...

Que cada passo nos aproxima do corpo dos frutos tropicais

Sabemos que o tempo é um agitar de lutos..surdos tempos..doces cantos

Que nos acolhem dentro de um xaile feito de panos antigos..pesados..

Como a noite e a insónia...

 

Se no circo não respeitamos os animais, será que nos respeitamos enquanto humanos?

 

Por vezes questiono-me acerca da racionalidade da nossa existência e sobre as coisas de que pretensamente gostamos.Uma delas tem a ver com a utilização de animais no circo. Sinceramente não vejo onde está a graça, a arte ou a coragem dos chamados domadores. Por outro lado que piada tem ver um tipo com um chicote num recinto vedado, a mandar um tigre ou um leão a saltar de plataforma em plataforma, ou de pôr elefantes encavalitados uns nos outros, ou de obrigar os cavalos a andar à roda no recinto??? Dizem que um circo sem animais não é circo, mas o Cirque du Soleil não trabalha com animais e tem as lotações sempre esgotadas, este circo é a prova de que a imaginação e a arte não precisam de sacrificar animais. Também existe a desculpa esfarrapada de que são os animais que trazem as crianças ao circo, na verdade o que lhes estamos a ensinar é que não respeitamos a vida desses animais, e perante esta evidência será que respeitamos a vida dos humanos?

 

Espiamos a vida..queremos ser grandes

Espiamos a vida..queremos ser grandes

Como se crescer fosse apenas a alma a explorar as razões do corpo

Mas voltamos sempre àquele lugar onde fomos pequenos

Onde cabíamos no voo firme dos sonhos..e onde explorávamos todos os segredos

Talvez dentro de nós hajam silêncios que merecem ser contados

Luzes que se acendem na urgência de ganhar espaços

Os caminhos perdem-se nas penumbras...

E os dias tornam-se espelhos onde martirizamos os rostos

Mas há um caminho que percorremos..para trás e para a frente..

Uma ruga que empalidece perante a ferrugem fascinada da pele

Mas ficamos presos..agarrados à impossibilidade da fuga..à desordem de sermos nós

Na nossa mão cabem todas as banalidades e todos os risos

Todos os corações e todas as luzes que alumiam as rotas incertas

Fosse eu uma criança e diria que nada me dói

Que o voo das aves culmina numa mariposa estrelada

Que as estrelas são mundos a brincar aos sóis

E que o meu olhar fica hipnotizado com a beleza das ilusões

Fosse eu criança e saberia muito mais de mim

Cantaria pelas ruas até despertar os silêncios e as cinzas

E deixaria que a vida me agarrasse pelos pulsos..e me levasse...contigo...

 

 

Na planura de um verso...

Na planura de um verso...cheguei

E o silêncio vestiu-se com a tua idade

Cheguei a pensar que eras uma luz...

Uma dança emanava da tua fotografia

O canto...a cidade...o riso...eram anónimos ruídos que a noite trazia

Do outro lado de ti...vi as luzes apagadas...

Desci à terra e encontrei-me com as ranhuras das tuas mãos

Brilhavam fogos dentro de frenéticos suspiros

Abril escapava-se pelo orvalho pousado nas rosas amarelas

E eu não sabia que eras a claridade que espiava a noite

Eras o baloiçar de um vestido feito de gaze carmim

Dentro da tua melancolia moviam-se cobras asiáticas..danças de luzes foscas

Encontrar-te..era beber a geada pelos olhos negros dos melros

Era vestir as aragens que as aves traziam nas patas sôfregas

Era navegar pelas sombras anónimos dos buxos

Era descer a outra terra feita de colinas ...debruçadas sobre a lonjura da solidão

Encontrar-te era exalar o frio húmido das cavernas..habitar a incerteza

Procurei no balançar trôpego dos mapas..a astrologia dos suspiros

A amurada dos silêncios..o desbravar da alma...

Mas não passei de cal...branca e pura..desfazendo-se na desordem do tempo

Como uma luz que se alarga em redor dos corpos..inebriante...sumarenta

Tatuada em dolorosas e impossíveis geometrias

Mostrando a nudez e a plenitude..dos corpos suados...brilhantes

Fugidios...

 

Reflexão sobre o que somos

 

Temos tendência a ser simpáticos para aqueles que nos parecem ter simpatia e temos tendência para ser antipáticos para com aqueles que nos parecem antipáticos. Aquilo que somos é sempre condicionado pelo modo como vemos os outros. Por outro lado certamente que os outros são simpáticos ou antipáticos connosco porque é esse o sentimento que lhes inspiramos, por isso será que faz sentido dizermos eu sou este, ou eu sou isto? Somos sempre o reflexo dos outros tal como os outros são o nosso reflexo.

 

Sou lúcido perante o mundo

Sou lúcido perante o mundo
E os dias não se importam com as minhas preocupações
As suas garras esculpem a minha cara
E os pássaros chilreiam à luz dourada do amanhecer
O carrasco vive no corredor tenebroso da morte
Onde a vida vale menos que a morte
Essa morte que se dilui na penumbra
Que se esconde na sombra...mas que está sempre presente
Já não sou tão crédulo...já me fecho na minha torre...
Livres são aqueles que podem escolher a solidão,
E eu posso...posso escolher...sou livre...
Transformo a solidão...naquilo que eu quero que seja...uma amiga...
Mas a minha boca entoa lúcidas frases
Os lábios falam heróicos pensamentos
E eu sou um austero guardião do silêncio
Um símbolo escurecido...uma alma cansada...um corpo desperto...
Porque eu já vivi a vida exterior
Agora...nada mais quero...
Nada mais que uma palavra...
Uma palavra que desperta para um novo dia
Que acorda as frases
Que explica com a nitidez das letras cinzeladas
Que o homem amadurecido...não é um objectivo...
Não é uma memória....
Mas um limite ampliado do tempo....

O capitalismo tem os dias contados

Nada cresce infinitamente!!! Baseado nesta máxima concluímos que o sistema capitalista, cujo paradigma reside no crescimento infinito da economia, tem os dias contados. O crescimento infinito da economia trará com ele a delapidação dos recursos,e com a delapidação dos recursos, virá a miséria e o desemprego,e isso acontecerá de forma abrupta, mas há uma solução.

É preciso planear o decrescimento da economia e do consumo, e isso começa em cada um de nós, somos nós que temos que começar a reduzir os gastos e o consumo, e com menos gastos temos menos necessidades e assim podemos reduzir o tempo de trabalho,e com menos tempo de trabalho reduziremos a produção de bens, muitos deles inúteis. Se pensarmos que se os povos dos países pobres consumissem como os povos dos países ricos, precisaríamos de seis planetas iguais ao nosso, então é bom que comecemos a perceber que se queremos deixar um planeta saudável aos nossos filhos e netos, temos que mudar de paradigma.

 

Percebi as palavras do silêncio..

 

Percebi as palavras do silêncio..aquelas que nos separam das sombras

As palavras que avançam como espelhos..e falam da incerteza dos lugares distantes

Vem-me à memória o desejo de outro cais..de outro pedaço de mim..de outro dialecto

Percebo que no silêncio não há distância..

E que a corda que me segura é um pedaço de outro mar...

Uma esteira construída com o sonho das cidades

Balouça em mim a amurada dos navios...as colinas vistas ao longe..a palidez dos rostos

Por vezes um suspiro frenético desperta na noite..encosto-me a ele..espio-o

Como se fosse uma dança lodosa...feita com aragens de um rio profundo

A noite...o suor dos becos...fogos de outras margens..a luz obesa das vielas

Quero acordar..alargar os olhos..espalhar o corpo nos recantos nocturnos

Como um rio..como um corpo hipnotizado por risos sibilantes..obscenos

Tenho inclinação para a desordem das penumbras...gasto-me nessas melancolias

E penso na urgência de ser cais e barco e penumbra e..ser...apenas..